Relatores da ONU receiam mais ataques a albinos com cenário eleitoral no Maláui
Especialistas querem investigação de morte e desaparecimento de pessoas com a condição; alguns malauianos creem que as partes do corpo de albinos podem trazer sorte e poder quando usados em rituais relacionados à bruxaria.
Após o recente desaparecimento de um adulto e o sequestro de uma bebê de um ano, relatores da ONU pediram às autoridades do Maláui que intensifiquem suas investigações sobre incidentes contra albinos e levem os criminosos à justiça.
As preocupações com ataques a pessoas com esta condição genética ressurgem depois da morte de um homem com 54 anos de idade e do sequestro de uma menor de idade quando dormia com sua mãe. Os dois casos ocorreram em áreas da costa do Lago Niassa.
Direitos humanos
Em nota, emitida em Genebra, o apelo do especialistas é que as autoridades malauianas tomem medidas imediatas para proteger as pessoas com albinismo.
Desde 2014, foram registrados 150 casos de assassinatos, ataques e outras violações dos direitos humanos contra pessoas com albinismo no Maláui.
Para os especialistas, o governo deve abordar com urgência as causas desses ataques e reforçar campanhas nacionais para aumentar a consciência do público.
Outro pedido é que sejam conduzidas investigações e processos sobre todos os casos, aumentada a proteção às vítimas, financiadas e implementadas todas as medidas necessárias.
Atrocidades
Para os três relatores, os recentes ataques demonstram que o governo precisa redobrar seus esforços para acabar com as atrocidades antes das eleições gerais previstas para março.
Os peritos dizem estar alarmados porque a situação pode piorar após sondagens recentes. O grupo explica que os períodos eleitorais podem ser perigosos para as pessoas com albinismo, pois muitas vezes ocorrem assassinatos e ataques.
A motivação desses atos “são crenças falsas de partes do corpo podem trazer boa sorte e poder político quando usados em rituais relacionados à bruxaria.”
Bruxaria
Os especialistas destacam que práticas nefastas relacionadas à bruxaria resultam em sérias violações de direitos humanos, como tortura, assassinato, discriminação e exclusão, incluindo banimento das comunidades.
Eles defendem que os dois incidentes “fazem parte de um padrão perturbador maior” no Maláui, onde assassinatos rituais e flagrantes violações de direitos humanos do pior tipo são instigados de forma especifica contra albinos. O grupo destaca que “os ataques e as violações são surpreendentes em sua brutalidade”.
Proteção
Tendo em conta as ameaças e os ataques que afetam a integridade física e mental das pessoas com albinismo, o pedido às autoridades é que “garantam o envio de pessoal da polícia adequado para proteger as pessoas com albinismo onde vivem.”
A relatora independente dos direitos humanos sobre pessoas com albinismo, Ikponwosa Ero, disse que é preciso seguir as recomendações concretas que deixou após visitar o país em 2016.
Outra preocupação dos especialistas são casos acumulados de violações de direitos humanos e crimes contra pessoas com albinismo. Eles destacam que até o momento, houve poucos processos, particularmente relacionados a acusações criminais mais graves, que dão uma impressão de impunidade.