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Relatores da ONU receiam mais ataques a albinos com cenário eleitoral no Maláui BR

 África Subsaariana tem uma em cada 1,4 mil pessoas vivendo com albinismo
ONU/Marie Frechon
África Subsaariana tem uma em cada 1,4 mil pessoas vivendo com albinismo

Relatores da ONU receiam mais ataques a albinos com cenário eleitoral no Maláui

Direitos humanos

Especialistas querem investigação de morte e desaparecimento de pessoas com a condição; alguns malauianos creem que as partes do corpo de albinos podem trazer sorte e poder quando usados em rituais relacionados à bruxaria.

 

Após o recente desaparecimento de um adulto e o sequestro de uma bebê de um ano, relatores da ONU pediram às autoridades do Maláui que intensifiquem suas investigações sobre incidentes contra albinos e levem os criminosos à justiça.

As preocupações com ataques a pessoas com esta condição genética ressurgem depois da morte de um homem com 54 anos de idade e do sequestro de uma menor de idade quando dormia com sua mãe. Os dois casos ocorreram em áreas da costa do Lago Niassa.

Desde 2014, foram registrados 150 casos de assassinatos, ataques e outras violações dos direitos humanos contra pessoas com albinismo no Maláui
Desde 2014, foram registrados 150 casos de assassinatos, ataques e outras violações dos direitos humanos contra pessoas com albinismo no Maláui. Foto: © Unicef/Pirozzi

Direitos humanos

Em nota, emitida em Genebra, o apelo do especialistas é que as autoridades malauianas tomem medidas imediatas para proteger as pessoas com albinismo.

Desde 2014, foram registrados 150 casos de assassinatos, ataques e outras violações dos direitos humanos contra pessoas com albinismo no Maláui.

Para os especialistas, o governo deve abordar com urgência as causas desses ataques e reforçar campanhas nacionais para aumentar a consciência do público.

Outro pedido é que sejam conduzidas investigações e processos sobre todos os casos, aumentada a proteção às vítimas, financiadas e implementadas todas as medidas necessárias.

Atrocidades

Para os três relatores, os recentes ataques demonstram que o governo precisa redobrar seus esforços para acabar com as atrocidades antes das eleições gerais previstas para março.

Os peritos dizem estar alarmados porque a situação pode piorar após sondagens recentes. O grupo explica que  os períodos eleitorais podem ser perigosos para as pessoas com albinismo, pois muitas vezes ocorrem assassinatos e ataques.

A motivação desses atos “são crenças falsas de partes do corpo podem trazer boa sorte e poder político quando usados em rituais relacionados à bruxaria.”

Após desaparecimento de um adulto e o sequestro de uma bebê de um ano, relatores da ONU pediram às autoridades do Maláui que intensifiquem as investigações
ONU/Marie Frechon
Após desaparecimento de um adulto e o sequestro de uma bebê de um ano, relatores da ONU pediram às autoridades do Maláui que intensifiquem as investigações

Bruxaria

Os especialistas destacam que práticas nefastas relacionadas à bruxaria resultam em sérias violações de direitos humanos, como tortura, assassinato, discriminação e exclusão, incluindo banimento das comunidades.

Eles defendem que os dois incidentes “fazem parte de um padrão perturbador maior” no Maláui, onde assassinatos rituais e flagrantes violações de direitos humanos do pior tipo são instigados de forma especifica contra albinos. O grupo destaca que “os ataques e as violações são surpreendentes em sua brutalidade”.

Proteção

Tendo em conta as ameaças e os ataques que afetam a integridade física e mental das pessoas com albinismo, o pedido às autoridades é que “garantam o envio de pessoal da polícia adequado para proteger as pessoas com albinismo onde vivem.”

A  relatora independente dos direitos humanos sobre pessoas com albinismo, Ikponwosa Ero, disse que é preciso seguir as recomendações concretas que deixou após visitar o país em 2016.

Outra preocupação dos especialistas são casos acumulados de violações de direitos humanos e crimes contra pessoas com albinismo. Eles destacam que até o momento, houve poucos processos, particularmente relacionados a acusações criminais mais graves, que dão uma impressão de impunidade.