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Após oito anos separadas, crianças da Eritreia reencontram a mãe na Europa BR

Crianças sobreviveram a sequestros, detenções e uma travessia marítima fracassada antes de conseguirem reencontrar a mãe.
© Acnur/Sufyan Ararah
Crianças sobreviveram a sequestros, detenções e uma travessia marítima fracassada antes de conseguirem reencontrar a mãe.

Após oito anos separadas, crianças da Eritreia reencontram a mãe na Europa

Migrantes e refugiados

Agência de Refugiados da ONU promove reagrupamento familiar para proteger e preservar esta unidade fundamental da sociedade; no ano passado, ajudou uma mãe a reencontrar os dois filhos na Suíça.

A Agência de Refugiados da ONU, Acnur, promove o reagrupamento familiar para “proteger e preservar esta unidade fundamental da sociedade, restaurar a dignidade básica de um refugiado e, especialmente, proteger crianças sob a tutela de pais ou outros adultos.”

Todos os dias, os funcionários da agência da ONU trabalham para reunir familiares que se perderam durante as suas viagens. No ano passado, conseguiram reunir uma mãe da Eritreia com os seus filhos, oito anos depois de se terem visto pela ultima vez.

Veja aqui o vídeo em inglês:

After eight-year odyssey, Eritrean children find mother in Switzerland

 

 

Viagem

Kedija*, de 15 anos, e Yonas, de 12, sobreviveram a sequestros, detenções e uma travessia marítima fracassada antes de conseguirem reencontrar a mãe, Semira, na Suíça.

A odisséia da família começou em 2010, quando Semira foi forçada a fugir da perseguição na Eritreia. Em vez de levar os filhos consigo para o desconhecido, tomou a difícil decisão de deixá-los com os avós, enquanto procurava um refúgio seguro para a família.

Após cinco anos de relativa estabilidade, em 2015, Kedija e Yonas foram obrigados a fugir da insegurança na Eritréia e atravessar a fronteira para a Etiópia. Semira perdeu contato com os filhos durante meses, enquanto o seu irmão, que também estava na Etiópia, procurou pelas crianças.

Ele acabou encontrando o menino e a menina morando sozinhos, em um campo de refugiados perto da fronteira entre a Etiópia e a Eritreia, e prometeu fazer tudo o que pudesse para reuni-los com a sua mãe, que agora estava morando na Suíça.

Em meados de 2017, as crianças e o tio começaram a viagem para chegar a Semira. Enquanto pediam caronas pela Etiópia e pelo Sudão, para tentar chegar à costa sul do mar Mediterrâneo, enfrentaram temperaturas altas, sede e fome.

Na fronteira entre o Sudão e a Líbia, foram sequestrados por contrabandistas, que descobriram que a mãe das crianças vivia na Suíça e exigiram um resgate para libertá-los.

Semira não conseguiu pagar aos criminosos e Kedija e Yonas foram separados do seu tio. Depois, foram vendidos de um contrabandista para outro.

Um dia, várias semanas depois, foram libertados no vasto deserto da Líbia. Acabaram sendo descobertos por um grupo de cidadãos da Eritreia, que também tentava chegar à Europa, e que prometeu ajudá-los.

O barco do grupo acabou sendo interceptado e as crianças voltaram para a Líbia.

Semira lembra que passou “dias e noites rezando por eles, apesar de todos os outros terem perdido a esperança.”

Todos os dias, os funcionários do Acnur trabalham para reunir familiares que se perderam durante as suas viagens.
Arquivo pessoal
Todos os dias, os funcionários do Acnur trabalham para reunir familiares que se perderam durante as suas viagens.

Acnur

Para o Acnur, tudo começou com um telefonema de uma ONG suíça especializada em questões de proteção infantil, Serviço Social Internacional, a quem Semira tinha pedido ajuda.

Semira sabia apenas que as crianças estavam em algum lugar do país. Com os seus nomes e uma foto antiga, o pessoal do Acnur e alguns parceiros começaram a procurar em todos os centros de detenção a que tinham acesso.

No entanto, com cerca de 3,8 mil refugiados e requerentes de asilo sendo mantidos em dezenas de centros de detenção e todo o país, as hipóteses de encontrá-los eram escassas.

Quando o funcionário da agência Noor Elshin se deparou com duas crianças magras e pálidas no centro de detenção Karareem, em Misrata, elas pareciam tão diferentes ​​que foi um choque para a equipa saber que tinham realmente encontrado Kedija e Yonas.

Noor disse que foi "literalmente como encontrar uma agulha no palheiro.” Ele lembrou que, apesar de ter as crianças na sua frente, “não conseguia acreditar que realmente as tinha encontrado.”

Pouco tempo depois, Semira recebeu a chamada pela qual rezava. Os seus filhos tinham sido encontrados.

Reencontro

Depois de o Acnur encontrar as crianças, o governo suíço aceitou conceder vistos humanitários para que eles se juntassem à mãe.

Na manhã em que o pessoal da agência entrou no centro de detenção para levar as crianças, a história delas já era bem conhecida de todos.

Menos de 24 horas depois, Kedija e Yonas aterrissaram na Suíça, onde Semira esperava para os abraçar, oito anos depois da última vez.

 

* Todos os nomes foram alterados para fins de proteção