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Uma em cada cinco mortes está associada a dietas de baixa qualidade

Todos os anos, mais da metade de todas as frutas e verduras produzidas no mundo são perdidas ou desperdiçadas
FAO/G. Agostinucci
Todos os anos, mais da metade de todas as frutas e verduras produzidas no mundo são perdidas ou desperdiçadas

Uma em cada cinco mortes está associada a dietas de baixa qualidade

Assuntos da ONU

Em entrevista exclusiva à ONU News, diretor-geral da FAO explicou objetivos de nova série de recomendações políticas; cerca de um terço de todos os alimentos produzidos para consumo humano nunca chega ao consumidor.

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, lançou esta quarta-feira novas recomendações para melhorar as dietas e evitar o desperdício. Uma em cada cinco mortes estão associadas a dietas de baixa qualidade.

Em entrevista exclusiva à ONU News, o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva, afirmou que uma das grandes propostas para resolver o problema passa pela educação das pessoas.

Diretor-geral da FAO, Graziano da Silva.
Diretor-geral da FAO, Graziano da Silva, by FAO/Luis Tato

“Temos que hoje alertar o consumidor, em primeiro lugar. Promover uma educação nutricional, as pessoas precisam entender o que estão comendo, saber o que estão comendo. Para isso, por exemplo, o etiquetado dos produtos é muito importante. Ter um etiquetado que diga, exatamente, o que contem aquele produto. E também promover os produtos locais, os produtos frescos.” 

Recomendações

Segundo o documento, dietas de baixa qualidade são agora uma ameaça maior à saúde pública do que a malária, a tuberculose ou o sarampo. Ao mesmo tempo, cerca de um terço de todos os alimentos produzidos para consumo humano nunca chega ao consumidor.

Graziano da Silva acredita que "para combater todas as formas de desnutrição e promover dietas saudáveis, é preciso implementar sistemas alimentares que aumentem a disponibilidade, acessibilidade e consumo de alimentos frescos e nutritivos".

Desperdício

Segundo o documento, alimentos como frutas, legumes, sementes, nozes, produtos lácteos, carnes e frutos do mar são ricos em nutrientes, mas também se estragam muito rapidamente, causando perdas em todo o sistema alimentar.

Todos os anos, mais da metade de todas as frutas e verduras produzidas no mundo são perdidas ou desperdiçadas. Cerca de 25% de toda a carne produzida, o equivalente a 75 milhões de vacas, não é consumida.

Nos países de baixa renda, a comida é mais perdida durante a colheita, armazenamento, processamento e transporte. Em nações de alta renda, o problema encontra-se mais a nível do consumo.

Para a FAO, a perda e o desperdício de micronutrientes são particularmente preocupantes. A agricultura produz 22% mais vitamina A do que o mundo necessita, mas devido ao desperdício o montante disponível para consumo humano é 11% abaixo do necessário.

Documento destaca que uma mudança para uma dieta baseada em vegetais pode ajudar a combater a mudança climática.
Cerca de 25% de toda a carne produzida, o equivalente a 75 milhões de vacas, não é consumida., by Daniil Nenashev/Banco Mundial

Recomendações

As ações políticas propostas pela FAO incluem educação das partes interessadas, foco em alimentos perecíveis, melhoria da infraestrutura pública e privada, incentivos à inovação e fecho de lacunas de dados e conhecimento.

A nova série de recomendações foi preparada com o apoio do Painel Global de Agricultura e Sistemas Alimentares para Nutrição.

Em nota, o membro do painel e presidente da Fundação de Saúde Pública da Índia, Srinath K. Reddy, disse que o comunicado "mostra como a redução da perda de alimentos e resíduos pode desempenhar um papel fundamental na melhoria da vida dos pobres."

Segundo ele, dietas desadequadas afetam 3 bilhões de pessoas globalmente, causando subnutrição, aumento do excesso de peso e obesidade e maior número de doenças crónicas.

O problema também tem impacto econômico. Segundo a FAO, o valor dos alimentos perdidos ou desperdiçados todos os anos a nível global é estimado em US$ 1 trilhão.