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Relatores chamam atenção para privatização do setor do café no Burúndi

Relatores chamam atenção para privatização do setor do café no Burúndi

Especialistas dizem que Estados não devem confundir as suas prioridades com as das corporações; mais de metade dos burundeses sobrevive graças ao café.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*

Uma nota de dois especialistas independentes das Nações Unidas lançada, esta quinta-feira, alerta para as implicações da privatização do setor do café no Burúndi num processo que envolve o Banco Mundial.

Os relatores sobre o Direito à Alimentação, Olivier de Schutter, e o da Dívida Externa e Direitos Humanos, Cephas Lumina, pediram a suspensão da política enquanto decorre uma avaliação exaustiva do impacto sobre os direitos humanos.

Pequenos Agricultores

O setor do café representa 80% das receitas de exportação do país e o meio de subsistência de 55% da população. A nota indica que 750 mil famílias burundesas vivem a situação, sendo a maioria composta por pequenos agricultores.

Os relatores mencionam ainda que no país, tido como o terceiro mais pobre do mundo, “as receitas do produto fazem diferença entre a segurança alimentar e a fome para grande parte da população.”

Reforma

Os relatores referem que o processo de reforma do setor pode pôr em risco a subsistência e alertaram para o que chamam “sinais preocupantes de que os interesses dos produtores de café foram excluídos do processo de reforma.”

Por outro lado, indicam que organizações de produtores mostram-se abertas à reforma do setor de uma forma que lhes permita aumentar a cadeia de valor. Menos de 5% do café do Burúndi foi processado no país em 2009, “com as operações de maior valor agregado a ocorrer no exterior.”

Potencial

A recomendação é que haja uma reforma do setor que permita aumentar cooperativas de produtores pelo seu “potencial de aumentar a contribuição da produção para a redução da pobreza e o desenvolvimento rural.”

Para os relatores, os Estados não devem confundir as suas próprias prioridades com os das corporações. Aos atores institucionais, como o Banco Mundial, foi recomendado que apoiem às autoridades nas tentativas de reforma dos setores-chave da economia de forma que não exponha os agricultores e produtores vulneráveis às incertezas do mercado.

*Apresentação: Denise Costa.