Mortes no Mediterrâneo continuam subindo um ano após caso Alan Kurdi
Imagem do menino sírio, de três anos e que morreu afogado, comoveu o mundo; segundo Acnur, 2016 é, até o momento, ano mais mortal já registrado na parte central do Mediterrâneo.
Laura Gelbert, da Rádio ONU em Nova York.
Há um ano, a imagem do menino sírio Alan Kurdi, de três anos, comoveu o mundo. Ele morreu afogado quando sua família, como centenas de milhares de outros refugiados, tentava chegar à Europa de barco.
A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, calcula que desde a morte de Alan, 4.176 pessoas tenham perdido a vida ou desaparecido no mar Mediterrâneo. Em média, 11 homens, mulheres e crianças se afogaram todos os dias nos últimos 12 meses.
Grécia e Itália
Durante os primeiros oito meses deste ano, 281.740 pessoas fizeram a perigosa travessia no mar em direção à Europa.
Segundo o Acnur, o número de refugiados e migrantes chegando à Grécia caiu “dramaticamente” de mais de 67 mil em janeiro para 3.437 em agosto, após a implementação do acordo entre União Europeia e Turquia e o fechamento da chamada rota dos Bálcãs.
O número de chegadas à Itália, por outro lado, permaneceu mais ou menos estável. Cerca de 115 mil refugiados e migrantes desembarcaram no país até o fim de agosto, em comparação a 116 mil durante o mesmo período do ano passado.
Mortes
O Acnur ressalta que a principal mudança, no entanto, tem sido o número de vítimas. Até o momento, neste ano, uma pessoa morreu em cada 42 atravessando o mar do norte da África para a Itália. No ano passado, esta proporção era de uma a cada 52 pessoas.
A agência alerta que isto torna 2016, até agora, o ano mais mortal já registrado na parte central do Mediterrâneo. As chances de morrer na rota entre a Líbia e Itália é 10 vezes maior do que na travessia entre Turquia e Grécia.
Urgência
Para o Acnur, estes números destacam a necessidade urgente que os Estados aumentem os caminhos para admissão de refugiados.
Estes incluem reassentamento, patrocínio privado, reunificação familiar e bolsas de estudo, entre outras, para que as pessoas não precisem recorrer a viagens perigosas ou a contrabandistas.
Solidariedade
A morte de Alan Kurdi resultou em grandes expressões de solidariedade aos refugiados em toda a Europa. Muitas pessoas se tornaram voluntárias ou, de forma espontânea, doaram comida, água e roupas ou até ofereceram abrigo em suas casas.
Para documentar alguns desses atos individuais de solidariedade, a agência da ONU e o fotógrafo Aubrey Wade desenvolveram uma série de retratos de famílias abrigando refugiados na Alemanha, na Áustria e na Suécia.
Discriminação
No entanto, o Acnur alerta que a chegada de mais de 1 milhão de refugiados e migrantes à Europa no ano passado também tem levado a hostilidades e tensões entre as sociedades que os abrigam.
Refugiados e migrantes sofreram ataques racistas e xenófobos, preconceito e discriminação.
Para a agência, o desafio atual da Europa é disponibilizar o apoio e os serviços que os refugiados precisam para se integrarem e contribuirem plenamente com a sociedade, trazendo novas habilidades, determinação e riqueza cultural enquando buscam se restabelecer em suas novas casas.
Nesse sentido, o Acnur faz um apelo para que os países se comprometam com o desenvolvimento e implementação de planos nacionais abrangentes de integração.
A agência da ONU também pede um compromisso claro para evitar discriminação, promover a inclusão e combater o racismo e a xenofobia.
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