Iémen: ONU cita "tempo para recuar do abismo" em reação ao cessar-fogo
Enviado do secretário-geral apela ao respeito à medida que teve início à meia-noite; pedido é que haja firmeza das partes em conflito e da comunidade internacional; Unicef lembra implicações a longo prazo para a estabilidade e futuro.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
O enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para o Iémen considera que é "tempo para recuar da beira do abismo", em nota sobre a suspensão das hostilidades no país em vigor desde a meia-noite de 10 de abril.
Ismail Ould Cheikh Ahmed pediu a todas as partes do conflito que trabalhem para garantir que a medida seja totalmente respeitada e crie um ambiente propício para as negociações de paz agendadas para 18 de abril, no Kuwait.
Primeiro Passo
A nota destaca que ambos os lados comprometeram-se a respeitar os Termos e Condições para a cessação das hostilidades que foram por ele apresentados.
O pedido é que as partes e a comunidade internacional continuem firmes em apoiar a medida para que seja o "primeiro passo" do retorno do Iémen para a paz que considera "fundamental, urgente e muito necessária."
A proposta apresentada por Ould Cheikh Ahmed inclui compromissos para o livre acesso de ajuda humanitária e de pessoal a todas as partes no país.
Comité
O cessar-fogo será verificado por um Comité de Desescalada e Coordenação, que após ter-se reunido no Kuwait vai trabalhar para reforçar a adesão à cessação das hostilidades.
O grupo é composto por representantes militares de ambos os lados, que concluíram uma formação realizada recentemente por especialistas da União Europeia.
Sobre as conversas do Kuwait, o mediador considera que os progressos são uma oportunidade real para reconstruir "um país que sofreu demais devido à violência, por muito tempo".
Para ele um resultado positivo vai exigir "compromissos difíceis, coragem e determinação" de todos os lados para se chegar a um acordo.
Proteção Infantil
A representante do secretário-geral sobre Criança e Conflito Armado, Leila Zerrougui, e o Fundo da ONU para a Infância, Unicef, também reagiram à suspensão de hostilidades.
Um comunicado conjunto destaca que a medida é uma oportunidade para que as partes tomem ações para melhorar a proteção infantil.
A agência cita dados das Nações Unidas apontando para um aumento significativo das violações graves contra crianças por todas as partes do conflito no ano passado.
O Unicef destaca 900 crianças mortas, um aumento de sete vezes em comparação com 2014. O recrutamento infantil subiu cinco vezes, com 848 casos verificados. Os ataques a escolas e hospitais duplicaram e o número total ultrapassa 115.
Direitos Fundamentais
A agência menciona que a interrupção na prestação de serviços básicos privou milhares de crianças dos seus direitos fundamentais à educação e à saúde.
Para o Unicef, os incidentes verificados pela ONU são a ponta do iceberg, mas revelam, em primeiro lugar, estimativas de que as crianças representam cerca de um terço dos civis mortos e cerca de um quarto dos feridos.
Papel Ativo
Em segundo lugar, a agência aponta que tornaram-se comuns os ataques contra as infraestruturas civis, especialmente as escolas e centros de saúde. O Unicef assinala ainda o facto de crianças estarem a desempenhar um papel mais ativo nos combates, nos postos de controlo e na linha da frente.
O Unicef refere que estes fatores representam um padrão preocupante do flagrante desrespeito pelo direito internacional humanitário e pelos direitos das crianças no Iémen.
Para a agência tais padrões têm implicações de longo prazo para a estabilidade do país árabe e para o futuro dos menores.
Leia Mais:
Cessar-fogo no Iêmen gera expectativa de alívio da violência para civis