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Restrição a pesticidas e armas de fogo poderia evitar 120 mil suicídios nas Américas

O suicídio continua a ser uma das principais causas de morte em todo o mundo, de acordo com as últimas estimativas da OMS
Unsplash/Dmitry Schemelev
O suicídio continua a ser uma das principais causas de morte em todo o mundo, de acordo com as últimas estimativas da OMS

Restrição a pesticidas e armas de fogo poderia evitar 120 mil suicídios nas Américas

Saúde

Estudo com colaboração da Organização Pan-Americana de Saúde identificou que a restrição desses meios altamente perigosos reduziria drasticamente os episódios na região, que apresenta aumento de casos; políticas para limitar o acesso a esses métodos reduziriam bastante a mortalidade no continente. 

Um estudo recente publicado na revista “The Lancet” revela que a restrição do acesso a pesticidas e armas de fogo altamente perigosos poderia evitar mais de 120 mil mortes por suicídio na região das Américas em um período de 10 anos.

A pesquisa foi realizada em colaboração com especialistas da Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, e do Centro de Dependência e Saúde Mental do Canadá.

Prevenção do suicídio

Os resultados sugerem que, se as restrições ao acesso a armas de fogo ou pesticidas fossem aplicadas em países onde elas respondem por 40% ou mais dos suicídios, a taxa de mortalidade poderia ser reduzida em mais de 20% entre homens e 11% entre mulheres até 2030.

Anualmente, quase 100 mil vidas são perdidas para o suicídio nas Américas e, ao contrário de outras regiões, a taxa de mortalidade por esta causa aumentou nos últimos anos.

A restrição de meios é uma intervenção eficaz baseada em evidências na prevenção do suicídio e uma estratégia-chave recomendada pela Organização Mundial da Saúde, OMS.

O diretor do Departamento de Doenças Não Transmissíveis e Saúde Mental da Opas afirmou que "o suicídio é evitável e cada vida perdida é arrasadora".

Anselm Hennis, que é coautor do estudo, disse que "políticas eficazes que limitam o acesso a dois dos métodos mais comuns para o suicídio podem ter um impacto na redução da mortalidade na região".

Globalmente, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos
Unsplash/Dan Meyers
Globalmente, mais de 700 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos

Ingestão de pesticidas e uso de armas de fogo

Usando dados modelados de 2020 a 2030, o estudo estima impactos importantes em diversos países. Por exemplo, em El Salvador, Guiana, Nicarágua e Suriname, onde a ingestão de pesticidas altamente perigosos levou a 40% ou mais dos suicídios em cada país em 2019, medidas proativas de restrição podem reduzir substancialmente as taxas de suicídio até 2030.

Da mesma forma, nos Estados Unidos, onde as armas de fogo foram responsáveis por mais de 40% das mortes por suicídio no mesmo ano, a implementação de restrições direcionadas deve levar a um declínio acentuado nas taxas de suicídio na próxima década.

O estudo conclui que a implementação efetiva de medidas para restringir o acesso a pesticidas e armas de fogo poderia evitar a perda de mais de 123 mil vidas em toda a região das Américas.

Países prioritários

As reduções mais notáveis seriam observadas na sub-região não latino-caribenha, onde a taxa de mortalidade por suicídio poderia ser reduzida em até 31% entre homens e 34% entre mulheres se uma restrição específica a pesticidas altamente perigosos fosse aplicada em três países-chave: Guiana, Suriname e Trinidad e Tobago.

O chefe da Unidade de Saúde Mental e Uso de Substâncias da Opas e coautor do estudo, Renato Oliveira e Souza, ressaltou que "é crucial considerar o contexto sociocultural ao implementar políticas de restrição de meios".

Os pesquisadores por trás do estudo estão pedindo colaboração multissetorial para implementar essas intervenções baseadas em evidências para cumprir a meta da OMS de reduzir a taxa de mortalidade por suicídio em um terço até 2030.