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Uma em cada cinco pessoas em áreas de conflito tem um distúrbio de saúde mental

Paciente do Centro Médico JFK em Monrovia, na Libéria
Banco Mundial/Dominic Chavez
Paciente do Centro Médico JFK em Monrovia, na Libéria

Uma em cada cinco pessoas em áreas de conflito tem um distúrbio de saúde mental

Saúde

Novo relatório da Organização Mundial da Saúde revela que transtornos mentais são mais comuns do que se pensava em regiões marcadas pela violência; cerca de 9% das populações têm uma condição de saúde mental moderada a grave.

Uma em cada cinco pessoas que vivem em áreas afetadas por conflitos tem depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, transtorno bipolar ou esquizofrenia, segundo novas estimativas da Organização Mundial da Saúde, OMS.

A análise, que reúne 129 estudos, foi publicada esta quarta-feira na revista científica The Lancet. Segundo a pesquisa, cerca de 9% das populações afetadas por conflitos têm um transtorno de saúde mental moderada a grave.

Estudo concluiu que mulheres sofrem mais depressão em áreas de conflito
Estudo concluiu que mulheres sofrem mais depressão em áreas de conflito, Unicef/Ahmad Al Ahmad

Investimento

Os números são substancialmente mais altos do que a estimativa para a população em geral, uma em cada 14 pessoas. A depressão e a ansiedade parecem aumentar com a idade em contextos de conflito, e a depressão é mais comum entre mulheres do que homens.

Segundo a OMS, estes números “destacam a necessidade de um investimento maior e sustentado no desenvolvimento de serviços de saúde mental em áreas afetadas por conflitos.”

Revisão

As estimativas usam pesquisas de 129 estudos e dados de 39 países publicados entre 1980 e 2017, incluindo 45 novos estudos publicados entre 2013 e 2017. As conclusões representam valores mais elevados do que estudos anteriores.

A autora principal do estudo, Fiona Charlson, da Universidade de Queensland, na Austrália, disse estar "confiante de que o estudo fornece as estimativas mais precisas disponíveis até hoje sobre a prevalência de condições de saúde mental em áreas de conflito."

Segundo a pesquisadora, “as estimativas de estudos anteriores foram inconsistentes, com taxas inconcebivelmente baixas ou altas.”

Crises

Atualmente, existem grandes crises humanitárias provocadas por conflitos em vários países, incluindo Afeganistão, Iraque, Nigéria, Somália, Sudão do Sul, Síria e Iêmen.

Em 2016, o número de conflitos armados atingiu o valor mais alto de sempre, com 53 conflitos em 37 países e 12% da população mundial vivendo em uma zona de conflito ativa. Nesse ano, quase 69 milhões de pessoas foram obrigadas a se deslocar por conflitos, o maior número desde a Segunda Guerra Mundial.

O autor do estudo Mark van Ommeren, do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da OMS, disse que “as novas estimativas, juntamente com ferramentas práticas já disponíveis, reforçam o pedido de mais investimento imediato e sustentado.”

Van Ommeren afirmou que a OMS já fornece apoio de várias maneiras. Em primeiro lugar, apoiando a coordenação e avaliando as necessidades. Em segundo lugar,  determina o apoio existente disponível e, por fim, dando apoio através de formação e recursos adicionais.

Mudança

Segundo o investigador, “quando a vontade política existe, as emergências podem ser catalisadoras para a construção de serviços de saúde mental sustentáveis e de qualidade, que continuam a ajudar as pessoas a longo prazo.”

A investigadora Cristiane S. Duarte, da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, disse que “as estimativas podem orientar a implementação estratégica de serviços e a atribuição mais eficiente de recursos escassos.”

Segundo a especialista, apesar das limitações da pesquisa, as conclusões “exigem maior investimento na prevenção e no tratamento de transtornos mentais em populações afetadas por conflitos.”