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Estudo mostra como o Brasil pode aproveitar oportunidades trazidas pela energia eólica offshore

As eólicas offshore trazem um potencial técnico superior a 1.200 gigawatts, o que representa quatro vezes a capacidade instalada atual do país
@ Hans Hillewaert – CC BY-SA 4.0
As eólicas offshore trazem um potencial técnico superior a 1.200 gigawatts, o que representa quatro vezes a capacidade instalada atual do país

Estudo mostra como o Brasil pode aproveitar oportunidades trazidas pela energia eólica offshore

Por Mariana Ceratti, do Banco Mundial Brasil
Desenvolvimento econômico

Novo relatório do Banco Mundial foi realizado com o Ministério de Minas e Energia e a Empresa de Pesquisa Energética; publicação indica potencial da fonte para gerar milhares de empregos e ser uma alternativa robusta às hidrelétricas.

Um novo estudo do Grupo Banco Mundial em parceria com o Ministério de Minas e Energia do Brasil e a Empresa de Pesquisa Energética, EPE, revela que a energia eólica offshore, no mar, é capaz de gerar mais de 516 mil empregos até 2050.

Além disso, pode trazer um valor agregado bruto de pelo menos R$ 900 bilhões para a economia brasileira e carrega um potencial técnico superior a 1,2 mil gigawatts (GW), o que representa quatro vezes a capacidade instalada atual do país.

Alternativa robusta para as hidrelétricas

Segundo o estudo "Cenários para o Desenvolvimento de Eólica Offshore no Brasil", ela surge como uma alternativa robusta para as hidrelétricas, especialmente durante períodos de seca. A especialista em energia renovável Rebeca Doctors, do Banco Mundial, explica o motivo.

A especialista em energia renovável Rebeca Doctors, do Banco Mundial
@Lula Lopes – Divulgação

“Ela tem uma variabilidade interanual que é muito baixa. Inclusive, em certos estados, menor que a variabilidade da hidrelétrica. Então, ela tem como ser uma fonte atenuante da variabilidade da energia hidrelétrica, e isso faz com que ela tenha o potencial de se tornar uma fonte extremamente importante para a matriz energética brasileira”. 

De acordo com o relatório, as eólicas offshore são um complemento vital a outras fontes renováveis, como a solar, eólica onshore (em terra) e biomassa. A integração dessas fontes é estratégica para que o Brasil consiga zerar as emissões liquidas de carbono até 2050.

No entanto, há desafios que precisam ser superados para a energia eólica offshore se tornar uma realidade a longo prazo. O custo inicial elevado dos projetos é um deles. Atualmente, a expectativa é de que os primeiros tenham um custo em torno de R$ 344 por megawatt hora (MWh), quase duas vezes maior do que as alternativas solar e eólica onshore.

Infraestrutura, cadeia de suprimentos e recursos humanos

Espera-se que, com o desenvolvimento e ganho de escala, o custo por MWh possa cair significativamente, tornando a energia eólica offshore competitiva com fontes convencionais no médio prazo.

Outros fatores que podem ajudar a reduzir os custos são a infraestrutura, a cadeia de suprimentos e os recursos humanos já existentes para a produção offshore de petróleo e gás, e de desenvolvimento de energia eólica onshore. É possível adaptar tudo isso para atender às demandas da nova fonte energética.

Grande parte do potencial eólico offshore do Brasil se encontra nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. Apesar de a fonte ter, a princípio, uma vantagem competitiva por estar próxima aos centros de demanda, a integração à rede elétrica também exigirá atenção.

Arcabouço legal

Para viabilizar o setor, são necessários investimentos em infraestrutura portuária e logística, bem como uma colaboração efetiva entre os setores público e privado. O financiamento público e de bancos de desenvolvimento será essencial para os primeiros projetos.

O Brasil está em processo de definir o arcabouço legal para a energia eólica offshore com o Projeto de Lei 5.932/2023, atualmente em discussão no Senado.

A aprovação desse projeto é tida como um passo crucial para a organização de leilões para cessão de uso do solo marinho, previstos para o fim de 2024, com o objetivo de ter o primeiro parque operacional por volta de 2032.

 

Por Mariana Ceratti, do Banco Mundial Brasil