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Desde 2017, Cabo Delgado sofre ataques de grupos terroristas, o que resultou na fuga de cerca de 1 milhão de pessoas

Chefe da agência de projetos da ONU pede atenção à crise em Moçambique

© UNICEF/UNI543906/Franco
Desde 2017, Cabo Delgado sofre ataques de grupos terroristas, o que resultou na fuga de cerca de 1 milhão de pessoas

Chefe da agência de projetos da ONU pede atenção à crise em Moçambique

Desenvolvimento econômico

Em entrevista à ONU News, chefe do Unops alerta que crise em Cabo Delgado persiste e deslocamento interno segue um desafio; ONU investe US$ 200 milhões em projeto de reconstrução; fundo humanitário recebeu apenas 6% do valor solicitado.

Casas, escolas, hospitais e demais infraestruturas estão sendo reconstruídas em Cabo Delgado, Moçambique, por meio de iniciativa liderada do Escritório da ONU de Serviços para Projetos, Unops.

Desde 2017, essa região ao norte do país sofre ataques de grupos terroristas, o que resultou na fuga de cerca de 1 milhão de pessoas. A agência aponta que apesar da gravidade da situação, ela tem sido esquecida pelo público.

Chefe da agência de projetos da ONU pede atenção à crise em Moçambique

Conflito ativo 

A avaliação é do diretor-executivo do Unops, Jorge Moreira da Silva. Em entrevista à ONU News, ele destacou a grave situação no local e reforçou que a agência investe US$ 200 milhões para apoiar a reconstrução e auxiliar os deslocados internos.

“Eu estou a olhar aqui para alguns números que dizem que em 2023 conseguimos, felizmente, que 570 mil deslocados regressassem a Cabo Delgado. Foi uma boa notícia. De 1 milhão que saiu, metade regressou. Mas agora, de repente, no início deste ano, com novos ataques, cerca de 70 mil pessoas voltaram a sair. Portanto, isto dá para perceber que o conflito não terminou.”

O chefe do Unops avalia que embora a crise tenha “saído das manchetes”, ela continua a impactar a região. Citando números do Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, Ocha, Jorge Moreira da Silva ressalta que Moçambique precisa de US$ 403 milhões para ajuda humanitária em 2024, mas apenas 6% foram mobilizados até agora. 

"É essencial que a comunidade internacional não se esqueça das crises esquecidas. Eu vou dar um número, que até causa algum embaraço, porque em 2024 concluiu-se que Moçambique precisaria de US$ 403 milhões para desenvolvimento de ajuda humanitária. Só qual é o volume que foi mobilizado? 6%. Portanto, neste momento estamos a viver uma situação muito difícil que a situação em Cabo Delgado. Não desapareceu em termos de crise. Pelo contrário, nos últimos meses houve um recrudescimento. Eu obviamente faço um apelo à comunidade internacional e aos doadores para que não se esqueçam das crises. Moçambique é mais uma das crises que tem vindo a ser esquecida, infelizmente”

O chefe do Unops pede à comunidade internacional que redobre seus esforços e apoio para garantir que crises como a de Cabo Delgado recebam a atenção e os recursos necessários para uma recuperação sustentável.

Resultados do projeto

O representante afirmou que fará uma visita a Cabo Delgado na próxima semana. Ele explicou que além de ver o resultado do que foi feito até agora, ele espera buscar apoio para a continuação do projeto.

Segundo o Unops, a iniciativa deve ajudar o país não só na questão dos deslocados internos, mas também para a promover coesão social e apoiar pessoas e famílias vulneráveis por meio do fornecimento de serviços sociais. 

O projeto também oferece apoio à renda e oportunidades econômicas, incluindo programas de assalariados para mulheres e jovens, apoio a atividades pesqueiras e agrícolas e treinamento em empreendedorismo e gestão de negócios.

O trabalho no norte de Moçambique tem o apoio do Banco Mundial e, segundo a instituição financeira, é coordenado em colaboração com o Ministério da Economia e Finanças, a Agência do Governo de Moçambique para o Desenvolvimento Integrado do Norte, parceiros da ONU, ONGs e outras partes locais interessadas.