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Confrontos deslocam 450 mil pessoas em seis semanas na RD Congo

Pessoas que fugiram de conflitos e violência em North Kivu buscam refúgio em Rusayo, na República Democrática do Congo.
© UNHCR/Blaise Sanyila
Pessoas que fugiram de conflitos e violência em North Kivu buscam refúgio em Rusayo, na República Democrática do Congo.

Confrontos deslocam 450 mil pessoas em seis semanas na RD Congo

Migrantes e refugiados

Agências da ONU querem resposta à crise humanitária marcada por violações dos direitos humanos e acesso limitado ao auxílio; financiamento humanitário está significativamente abaixo do necessário, com apenas 37% do solicitado.

Agências humanitárias estão aumentando a ajuda durante a escalada de violência no leste da República Democrática do Congo, RD Congo. O alerta é da agência de refugiados da ONU, Acnur, e do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef.

Segundo as entidades, conflitos violentos entre grupos armados não estatais e forças governamentais deslocaram mais de 450 mil pessoas nas últimas seis semanas nos territórios de Rutshuru e Masisi, na província de Kivu do Norte.

Padrão preocupante de abuso

Pessoas que chegaram à cidade de Sake, perto da capital provincial de Goma, falaram sobre dificuldades como arriscar a vida para alimentar crianças e mulheres relatando serem vítimas de estupro quando saem para coletar lenha.

O Acnur disse que seu monitoramento na região mostrou mais de 3 mil violações de direitos humanos relatadas em outubro, quase o dobro do número do mês anterior.

A agência afirma que estupro e assassinatos arbitrários são proeminentes nesses resultados, juntamente com casos de sequestro, extorsão e destruição de propriedades, num “padrão preocupante de abuso” infligido às populações civis.

Mulheres deslocadas esperam para receber assistência monetária em Kivu do Norte, República Democrática do Congo
Acnur/Blaise Sanyila
Mulheres deslocadas esperam para receber assistência monetária em Kivu do Norte, República Democrática do Congo

Bloqueio de estradas principais

Para as agências da ONU, a gravidade da crise é ainda mais exacerbada pelo acesso humanitário limitado para pessoas em extrema necessidade, principalmente devido ao bloqueio de rotas principais. Cerca de 200 mil deslocados não têm acesso à ajuda.

A interrupção também aumenta a vulnerabilidade das populações em movimento, que ficam sem recursos essenciais e nem proteção.

Embora o Acnur tenha construído abrigos nos últimos meses para mais de 40 mil pessoas perto de Goma e distribuído mais de 30 mil kits com lonas, panelas e cobertores, os parceiros enfatizam que mais ações são necessárias para garantir que os quase 7 milhões de pessoas afetadas pelo conflito recebam ajuda urgente.

Falta de financiamento humanitário

Parceiros da ONU e grupos humanitários estão aumentando os esforços para lidar com as necessidades urgentes decorrentes do superlotamento e abrigos inadequados, com acesso limitado a alimentos e água limpa.

Desde junho de 2023, o Unicef levou ajuda a quase 700 mil pessoas, incluindo água limpa e saneamento, proteção infantil, itens não alimentares, saúde, nutrição e educação.

Junto com o Acnur, a agência fez um apelo urgente pelo fim da violência e destacou seu compromisso em aliviar o sofrimento dos afetados pela crise.

No entanto, as duas entidades ressaltaram que a comunidade internacional deve agir rapidamente e generosamente, observando que um plano de resposta humanitária de US$ 2,3 bilhões para o país este ano recebeu apenas 37% de financiamento.