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Relatório da ONU aponta que míssil em café ucraniano foi lançado por forças russas

Pessoas visitam um local na vila de Hroza onde civis morreram em um ataque de míssil
© Yevhen Nosenko
Pessoas visitam um local na vila de Hroza onde civis morreram em um ataque de míssil

Relatório da ONU aponta que míssil em café ucraniano foi lançado por forças russas

Direitos humanos

Escritório de Direitos Humanos da ONU afirma que míssil não tinha alvos militares legítimos; ataque matou 59 pessoas, destacando graves violações do direito humanitário; situação humanitária na Ucrânia é alarmante, com danos críticos à infraestrutura e ataques contínuos à saúde; cerca de 18 milhões de ucranianos precisam de assistência.

Relatório do escritório de direitos humanos da ONU aponta que míssil que atingiu um café na vila de Hroza, no leste da Ucrânia, no início deste mês, foi lançado sem indicação de quaisquer alvos militares legítimos no local

Segundo a ONU, o ataque matou 59 pessoas. O texto publicado na terça-feira tem como base inspeções no local e entrevistas com testemunhas e afirma que "existem motivos razoáveis para acreditar que o míssil foi lançado pelas forças armadas russas".

Violações do direto humanitário

O documento detalha o impacto do que foi um dos episódios mais mortais para os civis ucranianos desde a invasão em larga escala da Rússia em fevereiro de 2022.

O escritório citou uma moradora relatando como a amiga de sua filha "só pôde ser identificada por sua manicure quando os socorristas encontraram sua mão" e destacou que, para muitos outros, a identificação dependeu de testes de DNA de restos mortais.

O relatório afirma que o exército russo "ou falhou em fazer tudo o que era possível para verificar que o alvo era um objetivo militar, ou deliberadamente visou civis ou infraestrutura civil".

Para a ONU, os dois cenários violariam o direito humanitário internacional.

Civis morreram na pequena aldeia de Hroza, no leste da Ucrânia, após um ataque.
© UNOCHA/Saviano Abreu
Civis morreram na pequena aldeia de Hroza, no leste da Ucrânia, após um ataque.

Conselho de Segurança

Também nesta terça-feira, o Conselho de Segurança se reuniu para debater a situação na Ucrânia. O diretor de coordenação do Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, Ramesh Rajasingham, destacou que a violência no país não pode ser esquecida, já que os combates e bombardeios seguem acontecendo diariamente.

Segundo dados apresentados por ele, 9 mil civis foram mortos desde o início da invasão. Ele adiciona que isso é o equivalente a 16 mortes por dia.

O diretor do Ocha aponta que os danos e destruição da infraestrutura crítica continuam a afetar gravemente o acesso da população civil à eletricidade, aquecimento, água e telecomunicações. 

Para ele, isso é motivo de grande preocupação, especialmente com a chegada do inverno e as temperaturas que começam a cair para cerca de -20ºC.

Serviços básicos

Desde o início da invasão, a Organização Mundial da Saúde, OMS também verificou mais de 1,3 mil ataques contra serviços de saúde. O número representou 55% de todos os ataques deste tipo no mundo no mesmo período.

Segundo o Ocha, as organizações humanitárias também não foram poupadas, e o ambiente operacional se tornou mais perigoso à medida que a guerra na Ucrânia continua. 

O número de trabalhadores de ajuda humanitária mortos mais que triplicou, passando de quatro em 2022 para 14 até agora em 2023.

Também foram vistos ataques na infraestrutura portuária, no Mar Negro e no Rio Danúbio.

Ramesh Rajasingham destaca que a escala das necessidades humanitárias na Ucrânia, após mais de um ano e meio de guerra, é imensa. 

Atualmente, cerca de 18 milhões de pessoas, mais de 40% da população ucraniana, necessitam de algum tipo de assistência humanitária.

Outras 10 milhões de pessoas também permanecem deslocadas, seja internamente no país ou como refugiados em outros países.