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Crise no Níger aumenta vulnerabilidade da população

Mães no Níger estão recebendo orientações da ONU sobre como alimentar crianças subnutridas.
© WFP/Evelyn Fey
Mães no Níger estão recebendo orientações da ONU sobre como alimentar crianças subnutridas.

Crise no Níger aumenta vulnerabilidade da população

Ajuda humanitária

Alto comissário de Direitos Humanos, Volker Turk, pede acesso desimpedido à ajuda humanitária; representante do Unicef no país, Stefano Savi, explica que fechamento de fronteiras restringe acesso aos suprimentos necessários.

O alto comissário de direitos humanos da ONU, Volker Turk, expressou preocupações com a situação no Níger nesta sexta-feira.

Para ele, a população vem sendo forçada a suportar “ainda mais miséria” após a remoção do presidente  do país por uma junta militar do mês passado. O chefe dos direitos humanos pede aos generais que restaurem imediatamente a ordem constitucional. 

Mulheres e crianças esperam por rações em uma distribuição do PMA na região de Tahoua, no Níger.
© WFP/Mariama Ali Souley
Mulheres e crianças esperam por rações em uma distribuição do PMA na região de Tahoua, no Níger.

Acesso para ajuda humanitária

Volker Turk lembra que o Níger é um dos países mais pobres do mundo, além de ser extremamente vulnerável às mudanças climáticas. 

O alto comissário pediu acesso total para assistência humanitária, incluindo bens, voos e pessoal, para permitir a entrada de alimentos essenciais, médicos e outros suprimentos de socorro no país. 

O representante do Fundo da ONU para Infância no país, Stefano Savi, falou à ONU News sobre as crescentes dificuldades humanitárias no país, destacando o impacto nas crianças e mulheres.

Stefano Savi afirma que ajuda do Unicef deve continuar, com especial atenção a setores como saúde, nutrição, acesso à água, educação e proteção infantil. Segundo ele, 4,3 milhões de pessoas, incluindo 2 milhões de crianças, precisam de ajuda humanitária. 

Savi disse que três semanas após o início da crise política, o fechamento das fronteiras e do espaço aéreo pode afetar a entrega de suprimentos essenciais, como vacinas, medicamentos essenciais ou alimentos terapêuticos prontos para uso.

O representante do Unicef explica que o Níger é um país sem litoral, por isso, com o fechamento de fronteiras, a prestação do serviço é interrompida. 

Ele alerta que os estoques de suprimentos podem acabar, impactando as vidas das pessoas mais vulneráveis no país.

O secretário-geral da ONU, António Guterres (à esquerda) com o presidente Bazoum (à direita) em uma viagem ao Níger em maio de 2022.
ONU News/Daniel Dickinson
O secretário-geral da ONU, António Guterres (à esquerda) com o presidente Bazoum (à direita) em uma viagem ao Níger em maio de 2022.

Liberdade da população

O Escritório da ONU para os Direitos Humanos afirma que quase metade da população vive na pobreza extrema, com menos de US$ 2,15 por dia, e milhões dependem de assistência humanitária. 

Desde o início da crise  política, a situação deles piorou. As fronteiras do país foram fechadas, o comércio está paralisado, houve graves cortes de energia e os preços dos alimentos subiram.

Volker Turk disse que o recente padrão de mudanças inconstitucionais no governo por forças militares na África Ocidental destacando que “o golpe no Níger é o sexto na região nos últimos três anos’, uma situação profundamente preocupante com “custos são sempre suportados pela população local”.

O chefe de direitos humanos destaca que o povo nigerino, que já passa por inúmeras dificuldades, agora vê as pessoas que elegeram para “construir um caminho para acabar com sua miséria” removidas à força e apreendidas por líderes golpistas. 

Para ele, os detidos devem ser libertados imediatamente e a democracia restaurada.

Motivações políticas

O alto comissário avalia que a própria “noção de liberdade no Níger está em jogo”, observando que a eleição do presidente Mohamed Bazoum, em 2021, foi a “primeira transição democrática na história propensa a golpes do país”. 

Volker Turk afirma que os generais não podem desafiar a vontade do povo. 

Turk também levantou preocupações sobre a decisão anunciada pelos líderes da ação de processar o presidente Mohamed Bazoum e outros que trabalham com ele por traição. 

Ele acredita que esta decisão tem motivações políticas e não tem base legal, pois o funcionamento normal das instituições democráticas foi deixado de lado.

Para o chefe dos direitos humanos, a repressão ao espaço cívico, incluindo alegações de intimidação contra jornalistas, proibições de meios de comunicação internacionais e outras restrições que afetam a liberdade de expressão, também é muito preocupante.