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Em novo recorde, dívida pública global chegou a US$ 92 trilhões em 2022

Países mais pobres do mundo são forçados a optar entre servir sua dívida ao seu povo.
Unsplash/Jason Leung
Países mais pobres do mundo são forçados a optar entre servir sua dívida ao seu povo.

Em novo recorde, dívida pública global chegou a US$ 92 trilhões em 2022

Desenvolvimento econômico

Secretário-geral fala da realidade de nações em desenvolvimento obrigadas a optar entre servir dívida ou ao seu povo; dívidas do Brasil, China e Índia somam 70% do total dos países em desenvolvimento.

As Nações Unidas revelaram, esta quarta-feira, que a dívida pública global atingiu um recorde de US$ 92 trilhões em 2022. Os cálculos incluem as dívidas interna e externa dos governos.

 

Com US$ 1,653 trilhão, o Brasil está ao lado da China e da Índia entre países em desenvolvimento com uma proporção de 70% das dívidas deste grupo de economias. Juntas, estas nações devem quase 30% do total.

 

Países que gastam mais com pagamentos de juros

 

Entre os países mais desenvolvidos figuram no topo da lista os Estados Unidos, com US$ 30,9 trilhões, o Reino Unido com US$ 3,1 trilhões e França com US$ 3 trilhões.

 

Secretário-geral António Guterres alerta que dívidas atrapalham a prosperidade das pessoas e do planeta.
United Nations/Cyril Bailleul
Secretário-geral António Guterres alerta que dívidas atrapalham a prosperidade das pessoas e do planeta.

 

O secretário-geral António Guterres alerta que dívidas atrapalham a prosperidade das pessoas e do planeta. Ele descreveu um mundo submergindo em um desastre de desenvolvimento, alimentado por uma crise de dívida indiscutível.

 

Risco para o sistema financeiro global 

 

Ao apresentar o levantamento, Guterres expôs um mundo endividado enfatizando os 3,3 bilhões de pessoas, ou quase metade da humanidade, vivendo em países que gastam mais em pagamentos de juros da dívida do que em educação ou saúde. Os dados são dos cálculos do Grupo Global de Resposta a Crises da ONU.

 

Com a centralização das dívidas em países em desenvolvimento, o grupo é tido como um risco para o sistema financeiro global. Para o líder da ONU, trata-se de uma miragem ante a quantidade de pessoas que mais de um risco representam uma falha sistêmica.

 

Guterres afirmou que as pessoas sofrem com a situação. Ele ressaltou que países mais pobres do mundo são forçados a optar entre servir sua dívida ao seu povo.

 

Países em desenvolvimento são vistos como um risco para o sistema financeiro global.
© WFP/Andy Higgins
Países em desenvolvimento são vistos como um risco para o sistema financeiro global.

 

A falta de espaço fiscal é um dos desafios para realizar investimentos essenciais no progresso dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ou transição para as energias renováveis.

 

Mecanismo eficaz de liquidação da dívida

 

Na publicação do documento revelando a tendência global de subida da dívida pública nas últimas décadas estiveram a secretária-geral da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento e a secretária executiva da Comissão Econômica e Social para a Ásia e Pacífico.

 

Entre os fatores que precipitaram a tendência estão crises combinadas dos últimos anos que fizeram disparar a dívida pública global mais de cinco vezes desde o ano 2000. O total está acima do Produto Interno Bruto, PIB global, que triplicou no período. 

 

As propostas da ONU um mecanismo eficaz de liquidação da dívida prevendo suspensões de pagamento, prazos de empréstimo mais longos e taxas mais baixas, inclusive para países de renda média que mais precisem.

 

Dívidas do Brasil, China e Índia somam 70% do total dos países em desenvolvimento.
IMF/Lisa Marie David
Dívidas do Brasil, China e Índia somam 70% do total dos países em desenvolvimento.

 

De forma imediata, outra reforma cabe aos governos o aumento do financiamento para o desenvolvimento e o clima, acrescentando a base de capital e alterando o modelo de negócios dos bancos multilaterais de desenvolvimento.

 

Investimento privado a um custo acessível

 

O propósito é reforçar a coordenação institucional para alterar “a abordagem de risco sem perder sua classificação de crédito triplo A” na expectativa de alavancar o financiamento privado a um custo acessível para os países em desenvolvimento.

 

O Fundo Monetário Internacional, FMI, listou 36 países em situação ou em risco de super endividamento. Um grupo de 16 economias paga taxas de juros insustentáveis ​​aos credores privados.

 

Graves problemas de dívida devido à desigualdade causada pelo sistema financeiro global afetam 52 países em desenvolvimento, uma proporção de 40% do mundo.