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Saque em armazém da ONU coloca em risco 4,4 milhões de pessoas no Sudão

Em Porto Sudão, pacotes de alimentos de emergência são distribuídos para pessoas que fogem dos combates em Cartum
PMA/Mohamed Elamin
Em Porto Sudão, pacotes de alimentos de emergência são distribuídos para pessoas que fogem dos combates em Cartum

Saque em armazém da ONU coloca em risco 4,4 milhões de pessoas no Sudão

Paz e segurança

Alimentos e itens de assistência humanitária foram levados de um dos maiores centros logísticos da agência no continente africano; insegurança alimentar pode atingir 40% da população sudanesa; ferramenta inovadora fornece assistência em dinheiro a refugiados sudaneses em apenas três minutos.

O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, PMA, condenou o saque do centro logístico da agência em El Obeid, no centro-sul do Sudão.

O saque prejudica a assistência alimentar para 4,4 milhões de pessoas afetadas pelo conflito. Além de alimentos, foram roubados artigos de assistência humanitária bens como veículos, combustível e geradores.

Perdas de US$ 60 milhões

O local é uma das maiores bases da agência no continente africano e atende diversas operações no Sudão e no Sudão do Sul.

Outros ataques semelhantes já haviam ocorrido desde o ressurgimento da violência no Sudão em 15 de abril. O PMA registrou até o momento perdas estimadas de US$ 60 milhões.

A entidade reforçou o apelo para que todas as partes em conflito garantam a segurança da assistência humanitária, dos trabalhadores humanitários e dos itens de assistência.

O PMA afirmou que está atuando para ampliar operações no país com o objetivo de alcançar milhões de pessoas afetadas pela incerteza e pela fome como consequência do aumento da violência.

Mulheres fazem fila para distribuição de assistência em dinheiro pelo PMA em um campo de deslocados no sul de Darfur, Sudão
PMA/Leni Kinzli
Mulheres fazem fila para distribuição de assistência em dinheiro pelo PMA em um campo de deslocados no sul de Darfur, Sudão

40% da população com insegurança alimentar

A agência estima que entre 2 milhões e 2,5 milhões de pessoas no Sudão devem passar fome nos próximos meses. Isso pode provocar insegurança alimentar aguda no país em níveis recordes, com mais de 19 milhões de pessoas afetadas, o que representa 40% da população.

Muitos sudaneses foram deslocados pelo conflito e estão se refugiando em países vizinhos, principalmente no Egito.

O PMA também oferece assistência na forma de dinheiro. Para a agência, essa é uma forma de preservar o poder de escolha, de modo que as pessoas possam comprar o que mais precisam.

O diretor do PMA para o Egito, Praveen Agrawal, ressalta que colocar “o dinheiro na mão dos moradores” permite que eles possam usá-lo para comprar alimentos em mercados locais, o que também “apoia a economia local”.

Método inovador de assistência em dinheiro

A agência adotou novas práticas para cadastrar mais rápido os beneficiários, de modo que a assistência financeira possa ser dispensada em três minutos.

A ferramenta de registro rápido online foi usada na Ucrânia e posteriormente adaptada para o contexto atual no Egito, de modo a atender aos refugiados sudaneses.

A nova abordagem não requer hardware especializado e pode ser configurada dentro de 48 horas ou em antecipação a uma emergência.

Ela opera em tempo real para que os dados sejam coletados, identidades duplicadas sejam eliminadas e as pessoas recebam assistência em uma velocidade rápida.

Banco de dados

Quando uma pessoa chega, a equipe do PMA insere suas informações em um banco de dados. Em seguida, cada um recebe um cartão de pagamento eletrônico que é complementado com US$ 15 dólares por pessoa.

O dinheiro do cartão pode ser sacado por meio de um provedor de serviços financeiros, o que gera liberdade de usá-lo mesmo que haja de necessidade de mudar para outra região ou país. 

E na tarde desta sexta-feira, o Conselho de Segurança deve debater a renovação do mandato da Missão da ONU no país, Unitams.