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Conselho de Segurança condena proibição do Talibã contra mulheres no Afeganistão

Meninas caminham para a escola em Herat, no Afeganistão. (arquivo)
Unicef/Mark Naftalin
Meninas caminham para a escola em Herat, no Afeganistão. (arquivo)

Conselho de Segurança condena proibição do Talibã contra mulheres no Afeganistão

Mulheres

Os 15 Estados-membros do órgão votaram a favor de resolução que pede “reversão urgente” de políticas restringindo direitos; proibição às mulheres que trabalham para as Nações Unidas não tem precedentes e prejudica resposta humanitária.

Em uma votação unânime, o Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução que pede “participação plena, igualitária, significativa e segura de mulheres e meninas no Afeganistão”.

O texto foi apreciado pelos 15 integrantes do órgão na quinta-feira. A decisão convoca todos os países e organizações com influência sobre as autoridades de facto do país “para promover uma reversão urgente” de políticas que apagaram as mulheres da vida pública.

Conselho de Segurança
ONU/Eskinder Debebe
Conselho de Segurança

Proibição “sem precedentes na história das Nações Unidas”

Desde a tomada do poder pelo Talibã, em julho de 2021, o Afeganistão se tornou palco de um grande retrocesso nos direitos humanos de mulheres e meninas, de acordo com a ONU. Dentre as medidas adotadas estão a proibição de frequentar o ensino médio e a universidade, restrições de movimento e trabalho.

Em dezembro de 2022, foi emitido um decreto proibindo mulheres cidadãs de trabalhar na maioria das ONGs. No início deste mês, o Talibã estendeu sua proibição às mulheres que trabalham para as Nações Unidas.

A ONU ressaltou sua “condenação inequívoca” da medida no início de abril, observando que ela viola o direito internacional, incluindo a Carta das Nações Unidas. Todos os funcionários da organização foram instruídos a não se apresentar ao escritório, exceto para tarefas críticas. Uma revisão operacional está em curso.

A Missão de Assistência da ONU no país, Unama, também não poderá cumprir seu mandato humanitário até que a proibição termine. A resolução enfatiza que a medida “não tem precedentes na história das Nações Unidas”.

Meninas afegãs chegam a Ruanda para continuar seus estudos.
OIM/Robert Kovacs
Meninas afegãs chegam a Ruanda para continuar seus estudos.

Prejuízos para a resposta humanitária

A resolução do Conselho de Segurança expõe a “profunda preocupação” com a proibição de mulheres atuarem na ONU no Afeganistão. De acordo com o texto, a restrição “irá impactar negativa e severamente” as operações de ajuda das Nações Unidas em todo o país, “incluindo a prestação de assistência vital e serviços básicos aos mais vulneráveis”.

A quantidade de pessoas que precisa de apoio humanitário no Afeganistão este ano chega a 28,3 milhões, um número sem precedentes. Essa grande necessidade por assistência torna o país a maior operação de ajuda do mundo.

A ONU estima em US$ 4,6 bilhões o financiamento necessário para cobrir totalmente os esforços de socorro em 2023. Entretanto, menos de 5% dos recursos foram garantidos até momento.

Meninas assistem às aulas em uma escola apoiada pelo UNICEF na província de Helmand, no Afeganistão
Unicef/Mark Naftalin
Meninas assistem às aulas em uma escola apoiada pelo UNICEF na província de Helmand, no Afeganistão

Autossuficiência e liberdade de movimento

A resolução também enfatiza a necessidade urgente de continuar abordando a “terrível situação econômica e humanitária” do Afeganistão.

O documento propõe ajudar o país a restaurar a autossuficiência, reconhecendo a importância de permitir que o Banco Central use ativos que estão atualmente congelados fora do país, “para o benefício do povo afegão”.

O Conselho apoiou o trabalho continuado da Unama, reiterando seu “total apoio”. O órgão convocou todos os envolvidos no Afeganistão, incluindo as autoridades do Talibã, “a garantir a segurança, proteção e liberdade de movimento das Nações Unidas e pessoal associado em todo o país.”