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Síria: ONU pede renovação de resolução que garante acesso humanitário no Noroeste

Menina ao lado de um ponto de transporte de água na cidade de Hasakah, nordeste da Síria.
© Unicef/Delil Souleiman
Menina ao lado de um ponto de transporte de água na cidade de Hasakah, nordeste da Síria.

Síria: ONU pede renovação de resolução que garante acesso humanitário no Noroeste

Paz e segurança

Subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, destacou que crise no país vem se aprofundando, com mais pessoas precisando de assistência; ele lembra que é o 12º ano que os sírios estão em deslocamento.

O subsecretário-geral da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, falou aos Conselho de Segurança nesta quarta-feira sobre a situação na Síria. Ele defendeu a renovação da Resolução 2642, que permite fornecer assistência humanitária transfronteiriça ao noroeste da Síria.  

Griffiths destacou que, com a chegada do final de 2022, foi possível observar tendência preocupantes do aprofundamento do conflito, com muitos “recordes sendo quebrados”.

Acesso aos humanitários

Ele ainda pediu a facilitação e apoio contínuos de todas as partes para melhorar o acesso das equipes. O chefe de Assuntos Humanitários afirmou que no Noroeste, a nona missão de linha cruzada para Sarmada, na província de Idleb, foi concluída no início deste mês.

O comboio distribuiu alimentos, remédios, itens de saneamento e higiene, kits de saúde reprodutiva e outros tipos de assistência.

Segundo Griffiths, em média, cerca de 600 caminhões entregaram alimentos e outras ajudas essenciais pela fronteira para o noroeste da Síria em 2022. Para ele, embora seja um complemento importante, as entregas cruzadas, no momento, não podem substituir o tamanho ou o escopo das operações transfronteiriças.

Resultados da violência

A violência continua a cobrar um alto preço, especialmente nas linhas de frente. No noroeste da Síria, pelo menos 138 civis foram mortos e outros 249 ficaram feridos entre janeiro e novembro, de acordo com o Escritório de Direitos Humanos da ONU.

O número de pessoas que precisam de ajuda humanitária subiu para 14,6 milhões de pessoas, um aumento de 1,2 milhão de pessoas em relação ao ano passado. A expectativa é que chegue a 15,3 milhões de sírios em 2023.

Martin Griffiths destaca que esses números não foram vistos desde o início da crise, em 2011. Mais de 12 milhões de pessoas, ou metade da população, tem dificuldades em alimentar suas famílias. Cerca de 3 milhões de sírios podem cair na insegurança alimentar.

O subsecretário-geral afirma que as condições socioeconômicas também continuaram a piorar. A inflação doméstica e a contínua desvalorização da moeda local, aliada ao aumento global dos preços dos alimentos e combustíveis, está colocando alimentos básicos e outros itens essenciais fora do alcance de milhões de famílias. Os preços da comida subiram mais de 90% durante o ano.

Cólera

Martin Griffiths avalia que o próximo ano não trará “alívio” ao povo da Síria.

Ele explica que apesar dos desafios de financiamento e de um ambiente operacional complexo, os parceiros humanitários prestaram assistência vital a 7,8 milhões de pessoas em 2022, incluindo 2,7 milhões de pessoas alcançadas por meio de operações transfronteiriças.

Outro ponto que se deteriorou foi a saúde: a cólera ressurgiu pela primeira vez em 15 anos, com o sistema de saúde sob forte pressão. Segundo o subsecretário-geral, surtos da doença geralmente ocorrem em comunidades que lutam para ter acesso a água potável e onde o saneamento e a infraestrutura de saúde pública foram danificados devido a conflitos ou desastres naturais.

Qualidade da água

Cerca de 62 mil casos suspeitos de cólera foram relatados até 18 de dezembro. Cem pessoas morreram. Martin Griffiths afirmou que parceiros humanitários responderam aumentando a testagem, monitorando a qualidade da água, treinando profissionais de saúde e promovendo a conscientização.

No entanto, ele destaca que é necessário mais financiamento para continuar respondendo ao surto, fornecendo suprimentos médicos e apoio a laboratórios e treinando profissionais de saúde.

Inverno e deslocamento

O subsecretário-geral para Assuntos Humanitários ainda lembrou que milhões de pessoas na Síria estão passando o 12º inverno consecutivo em deslocamento.

Martin Griffiths destaca que para os dois milhões de pessoas que vivem em barracas, acampamentos e abrigos improvisados, o inverno é especialmente cruel, com temperaturas abaixo de zero, ventos fortes, tempestades de neve e inundações.

Cerca de 6 milhões de pessoas, um aumento de 33% em relação ao ano passado, precisam de assistência urgente neste inverno.

No entanto, ele destacou que a resposta, que é liderada pela Agência de Refugiados da ONU, recebeu apenas 21% do financiamento. Isso significa que mais de dois terços das pessoas que precisam de ajuda não a receberão. Segundo Griffiths, famílias chefiadas por mulheres que serão mais impactadas.

Financiamento

O subsecretário-geral adicionou que as perspectivas gerais de financiamento para a Síria são desanimadoras. Faltando poucos dias do final de 2022, o Plano de Resposta Humanitária de 2022 para o país tem apenas 43% de financiamento.

Segundo Martin Griffiths, o baixo nível de financiamento neste final de ano não tem precedentes. Ele destacou que mulheres e meninas estão sofrendo o peso da crise humanitária contínua, sofrendo violência de gênero, seja por abuso físico, sexual, psicológico ou econômico.

De acordo com os dados apresentados por ele, cerca de 7,3 milhões de pessoas na Síria, a esmagadora maioria mulheres e meninas, precisam de apoio para enfrentar e superar a violência de gênero.

Griffiths destacou que sem a renovação da resolução, a entrega da ajuda ficará comprometida num momento em que as pessoas mais precisam dela: em meio a um surto de cólera e em pleno inverno.