Mecanização precisa evitar perda de empregos e desigualdade na produção agrícola, diz FAO
Relatório Estado da Alimentação e Agricultura, Sofa 2022 cita impacto nos setores de café e cana de açúcar do Brasil; agência incentiva automatização equilibrada em meio a revolução de tecnologias digitais, economia compartilhada e maior uso de aplicativos para melhorar produção.
Um novo relatório defende a mecanização para transformar os sistemas agroalimentares, mas traz preocupações sobre perda de empregos e desigualdade no setor.
Para a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, o papel da automatização agrícola pode ser mais eficiente e ecológico para produzir alimentos com todos os recursos ao dispor, desde tratores até inteligência artificial.
Brasil
A agência ressalta, no entanto, que a questão é que uma adoção desigual pode piorar as desigualdades. Os mais afetados seriam especialmente os pequenos produtores e outros grupos, como jovens e mulheres.
O Brasil é citado no relatório Estado da Alimentação e Agricultura, Sofa 2022, pela colheita mecanizada do café. O processo diminuiu de forma expressiva a demanda por trabalho, principalmente de migrantes e áreas mais pobres. A contradição foi um aumento observado na demanda por trabalhadores qualificados.
A FAO pede políticas sociais imediatas e inclusivas para ajudar a busca de oportunidades para os não qualificados que perdem empregos nesses processos.
Outro exemplo brasileiro é de novas leis e regulamentos proibindo a prática de queima pré-colheita de cana-de-açúcar. A série de medidas foi implementada desde o ano 2020 por questões ambientais. O documento ressalta que o fim da colheita manual, onde o produto é queimado antes de processado, levou a buscar maiores investimentos na mecanização.
Mesmo com benefícios como a diminuição da poluição e o aumento da produtividade, a força de trabalho diretamente envolvida na produção cairia entre metade e 64% do total.
Aumento da produtividade
A agência da ONU cita países lusófonos pelo uso do trator por cada mil hectares de terra arável. São Tomé e Príncipe lidera com o uso de 117 tratores em casa mil hectares, seguido do Brasil com 16,1.
Depois estão Angola com 2,8, Cabo Verde com 1,2, Timor-Leste com 0,7 e Moçambique com 1,5. Por último, está Guiné-Bissau com 0,1.
O documento diz haver grandes disparidades em disseminar a automação entre e dentro dos países. A situação é particularmente crítica na África Subsaariana.
A FAO destaca ainda que deve ser aproveitada a nova revolução envolvendo tecnologias digitais, com recursos como inteligência artificial, drones, robótica, sensores e sistemas globais de navegação por satélite. Por outro lado, o setor de produção pode beneficiar de dispositivos portáteis como telefones celulares e a melhora na conexão à internet.
A economia compartilhada, aliada ao modelo de agricultura que usa aplicativos parecidos com os do transporte, permite o acesso de agricultores a equipamentos caros, como um trator, sem precisar comprá-lo.