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Conselho de Segurança debate efeitos dos conflitos para mulheres e meninas BR

Mulheres e crianças embarcam em trens de evacuação na estação ferroviária de Lviv, na Ucrânia
© UNICEF/Nikita Mekenzin
Mulheres e crianças embarcam em trens de evacuação na estação ferroviária de Lviv, na Ucrânia

Conselho de Segurança debate efeitos dos conflitos para mulheres e meninas

Mulheres

Secretário-geral da ONU falou alertou sobre retrocessos no alcance da igualdade de gênero; Guterres citou impacto na liberdade feminina e aumento de violência em áreas de conflito e com governos autoritários; chefe da ONU Mulheres pede aos Estados-membros que “honrem compromissos” previstos em resoluções e acordos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu a sessão do Conselho de Segurança nesta quarta-feira apontando os efeitos da falta de igualdade de gênero nos assuntos de paz e segurança.

Ele destacou retrocessos vistos nos últimos anos, com os conflitos ampliando a lacuna de desigualdade e pobreza e colocando mulheres e meninas em uma situação ainda mais desfavorecida.

ONU destaca aumento de 20% de vítimas de violência sexual e sequestros de menores
© UNICEF/STARS/Kristian Buus
ONU destaca aumento de 20% de vítimas de violência sexual e sequestros de menores

Igualdade de gênero e poder

Segundo o chefe da ONU, embora haja consenso no Conselho de Segurança sobre a importância da igualdade de gênero, bem como relatórios e resoluções, os atuais impasses políticos e conflitos são exemplos de como os “desequilíbrios de poder e o patriarcado continuam a nos decepcionar”.

Para ele, “a igualdade feminina é uma questão de poder”. Guterres adicionou que, com a pandemia e as crises climática, social e econômica, a violência doméstica subiu e muitas mulheres ficaram sem opções de educação e de trabalho.

Guterres também destacou que em muitos países em que forças extremistas ou militares tomaram o poder, compromissos com ações para fomentar a igualdade de gênero foram negligenciadas.

Ele adicionou que, nesse contexto, elas até passaram a ser perseguidas apenas por “seguirem suas vidas”, o que comprova que autoritarismo e misoginia se reforçam, embora sejam antiéticos para sociedades estáveis e prósperas.

O líder das Nações Unidas citou os exemplos do Afeganistão, Mianmar, Mali e Sudão, onde as mulheres sofrem os impactos da instabilidade e dos governos autoritários. Segundo Guterres, cerca de 20 milhões de afegãs foram “silenciadas” com o fechamento de escolas e a obrigação de cobrirem seus rostos em locais públicos.

Guerra na Ucrânia

Sobre a invasão russa na Ucrânia, o secretário-geral lembrou que milhares de mulheres e meninas tiveram que deixar suas casas desde o início do conflito. Guterres também falou sobre as crescentes alegações de violência sexual contra elas no país.

Ele afirmou que os números podem ser maiores, pois é “provável que muitas permaneçam em silêncio ou não registrem o crime”.

De acordo com Guterres, as mulheres refugiadas estão assumindo papéis de liderança e apoiando a resposta nos países anfitriões. Dentro da Ucrânia, as mulheres que optaram por não evacuar estão à frente dos cuidados de saúde e apoio social.

O secretário-geral afirmou ser importante que as mulheres ucranianas participem plenamente em todos os esforços de mediação em curso.

Para ele, em todos os locais de conflito citados, há “homens no poder e mulheres excluídas, com seus direitos e liberdade deliberadamente cerceados”.

Chefe da ONU Mulheres falou de sinais de alerta com combinação de deslocamentos em massa com a grande presença de recrutados, mercenários e brutalidade aos civis
ONU/Manuel Elias
Chefe da ONU Mulheres falou de sinais de alerta com combinação de deslocamentos em massa com a grande presença de recrutados, mercenários e brutalidade aos civis

Ações em organizações regionais

Além do secretário-geral, a diretora executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous, também falou ao Conselho de Segurança. Reforçando a mensagem de Guterres, ela explicou a importância da implementação das resoluções aprovadas nas Nações Unidas, especialmente por organizações regionais.

Bahous citou a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental e a União Africana, em que boa parte dos membros estão fazendo compromissos e implementando ações para fomentar a igualdade de gênero.

A diretora da ONU Mulheres também mencionou a rede de mediação de mulheres na Ásia, nas Américas e nos Estados Árabes. No entanto, mesmo com progressos, ela questionou a falta de mulheres nas negociações políticas e de paz e reforçou que os compromissos não foram honrados.

Assim, ela pediu que todo o sistema multilateral defenda os valores de igualdade da mesma forma que os movimentos de mulheres e que vozes das lideranças femininas sejam incluídas nos debates.

Avanços na agenda

Sima Bahous afirmou que o Fundo Humanitário e de Paz para as Mulheres já investiu em 215 organizações da sociedade civil e alcançou 10,6 milhões de pessoas, diretamente e indiretamente.

A ajuda vai para deslocadas, pessoas com deficiência e sobreviventes de violência de gênero ou sexual.

Ela lembrou que o auxílio também foi fundamental para a evacuação de mulheres e famílias do Afeganistão, após a tomada do poder pelo Talibã.

Para haver avanços na agenda da igualdade de gênero, além dos financiamentos, o secretário-geral da ONU recomendou o sistema de cotas para acelerar a participação feminina e a necessidade de colocar as mulheres e meninas no centro das políticas de segurança.