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ONU quer que governos façam mais para prevenir o suicídio BR

Em Villanueva, nas Honduras, Darwin na sala de aula que partilhava com o amigo Henry, que cometeu suícidio depois de ser vítima de bullying.
Unicef/Adriana Zehbrauskas
Em Villanueva, nas Honduras, Darwin na sala de aula que partilhava com o amigo Henry, que cometeu suícidio depois de ser vítima de bullying.

ONU quer que governos façam mais para prevenir o suicídio

Saúde

Dia Mundial da Saúde Mental, neste 10 de outubro, destaca combate ao suicídio,  causa de morte de uma pessoa a cada 40 segundos; secretário-geral disse que tema “foi esquecido durante muito tempo”; falando à ONU News, especialista destacou novas formas de suicídio e estratégias de combate mais eficazes.

A cada 40 segundos, uma pessoa morre por suicídio. No Dia Mundial de Saúde Mental, marcado esta quinta-feira, as Nações Unidas estão lembrando esse número e pedindo mais esforços para combater o problema.

Em nota, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que “a saúde mental foi esquecida durante muito tempo.” Para ele, é urgente mais ação e não se pode “permitir que o estigma continue impedindo as pessoas de receberem ajuda.”

Prevenção

James Jafar, do Sudão do Sul, perdeu a esperança e tentou se suicidar. Hoje é voluntário com a Operation Hope.
James Jafar, do Sudão do Sul, perdeu a esperança e tentou se suicidar. Hoje é voluntário com a Operation Hope, Unifeed Video

Em entrevista à ONU News, o professor da Faculdade de Medicina de Botucatu, José Bertolote, disse que existem duas tendências opostas nos últimos anos.

Falando de São Paulo, o psiquiatra explicou que “nos países onde há uma política de prevenção do suicídio bem elaborada e bem implementada”, existe uma tendência de queda.

Por outro lado, em países “sem nenhum programa eficaz de prevenção”, as taxas sobem.

“Existe, inclusive, formas novas de suicídio, que são divulgadas através das novas tecnologias de comunicação. Essa quantidade de suicídio não chega ainda a representar um aumento significativo diante do grande número que temos. É importante que se saiba que temos mais de 850 mil suicídios por ano, o que é mais   do que todas as mortes por causas violentas, inclusive homicídios, guerras e acidentes.”

Segundo a Organização Mundial da Saúde, OMS, o número de países com estratégias nacionais de prevenção aumentou nos últimos cinco anos. Apesar desse progresso, apenas 38 nações têm este tipo de estratégias.

Combate

Neste Dia Mundial da Saúde Mental, a OMS está distribuindo informação sobre as ações que funcionários de saúde, professores, jornalistas e outros podem tomar.

Segundo a agência da ONU, as medidas com mais sucesso são a restrição de acesso aos meios, programas para jovens e acompanhamento de pessoas em risco.

José Bertolote, que também foi médico da OMS, explicou que as estratégias escolhidas devem depender da região.   

“Nos países de Ásia, a maior parte dos suicídios são consumados com pesticidas, que estão proibidos na maioria dos outros países. E temos uma prova na Coreia do Sul. Há 12 anos, o país proibiu este pesticida e as taxas caíram radicalmente. Se os governos aceitassem proibir esse pesticida, teríamos na Ásia, onde se localiza o maior número de suicídios, uma grande redução mundial de suicídios.”

Segundo o Unicef, em situações extremas, o cyberbullying pode levar ao suicídio.
Segundo o Unicef, em situações extremas, a intimidação na internet pode levar ao suicídio, Unicef /Anush Babajanyan VII Photo

O especialista diz que nos países do ocidente, onde esses pesticidas já estão proibidos, a situação é diferente.

“Um fator muito associado com o suicídio são as doenças mentais, que em muitos países não recebem a atenção adequada. Portanto, a melhoria dos cuidados de saúde mental poderia resultar também numa grande redução das taxas de suicídio.”

Diferenças

Cerca de 79% dos suicídios ocorreram em países de baixa e média rendas, mas os países de alta renda apresentaram uma taxa mais alta, uma média de 11,5 casos por 100 mil habitantes.

O professor José Bertolote destacou a importância de aumentar a informação sobre o tema. Segundo ele, as pessoas precisam estar à vontade para pedir ajuda e esse apoio tem que estar disponível.

“Aqui, no mundo ocidental, o mais importante é que as pessoas saibam que o suicídio está sempre associado a uma forma de sofrimento psíquico e emocional em que é preciso de ajuda. Seja ajuda informal da comunidade, que vem de amigos, conhecidos, líderes da comunidade, líderes religiosos, seja da ajuda de profissionais de saúde. O importante é que as pessoas deem um passo para buscar ajuda. Outro elemento muito importante é que a comunidade perceba que a comunidade é um problema sério de saúde e se predisponha a ajudar quem dá sinais de estar em sofrimento.”

Populações

Segundo os últimos dados da OMS, a taxa global de suicídio em 2016 foi de 10,5 mortes por cada 100 mil pessoas. As taxas variaram de forma ampla, de cinco mortes em 100 mil em alguns países até mais de 30 por 100 mil.

Esta foi a segunda principal causa de morte de jovens entre os 15 e os 29 anos. O fenômeno foi a segunda principal causa de morte entre meninas, após problemas relacionados com a maternidade. Nos rapazes, ficou apenas atrás dos acidentes na estrada.

Quase três vezes mais homens do que mulheres morrem por suicídio em países de alta renda. Nos países de baixa e média renda, as taxas entre homens e mulheres são mais parecidas.

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