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Em Dia Internacional da Diversidade Biológica, ONU pede urgência para proteger o planeta BR

O Dia Internacional da Diversidade Biológica destaca este ano o impacto da negligência ambiental na segurança alimentar e a saúde pública.
Foto: Biodiversidade Internacional/B. Sthapit
O Dia Internacional da Diversidade Biológica destaca este ano o impacto da negligência ambiental na segurança alimentar e a saúde pública.

Em Dia Internacional da Diversidade Biológica, ONU pede urgência para proteger o planeta

Clima e Meio Ambiente

Lema da data este ano é “Nossa biodiversidade, nossos alimentos, nossa saúde”; Guterres lembra que “ecossistemas do mundo enfrentam ameaças sem precedentes”; especialista fala da influência do Brasil nas mudanças globais.

Neste Dia Internacional da Diversidade Biológica, o secretário-geral da ONU fez um apelo para todos os “governos, empresas e sociedade civil, tomem medidas urgentes para proteger e gerir de forma sustentável a teia frágil e vital da vida no nosso único e excecional planeta.”

Para António Guterres, a diversidade biológica é vital para a saúde e o bem-estar dos humanos. A data, celebrada neste 22 de maio,  foi proclamada pela Assembleia Geral para chamar atenção para a importância da questão.

Ecossistemas do mundo enfrentam ameaças sem precedentes
Sibbr/José Sabino
Ecossistemas do mundo enfrentam ameaças sem precedentes

Ameaças

Em mensagem, Guterres aponta que “para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e enfrentar as mudanças climáticas necessitamos de ecossistemas saudáveis, uma vez que podem fornecer 37% da mitigação necessária para limitar o aumento da temperatura global.”

O chefe da ONU, mencionou, no entanto que “os ecossistemas do mundo enfrentam ameaças sem precedentes.”

Guterres citou dados alarmantes de um novo relatório da Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre a Biodiversidade e os Serviços dos Ecossistemas, que revelou “que a natureza está desparecendo num ritmo nunca visto na história da humanidade.”

Em conversa à ONU News, o especialista brasileiro Eduardo Brondízio, que co-presidiu o estudo, disse que a avaliação mostra que a pressão no planeta, tanto no sistema terrestre quanto nos sistemas oceânico, costeiro, aquático e de áreas úmidas, se acumulou numa escala global.

1 milhão de espécies de plantas e animais estão em risco de extinção.
Foto: ONU News / Jing Zhang
1 milhão de espécies de plantas e animais estão em risco de extinção.

Impactos

 “Hoje, nós mostramos, que por exemplo, que 75% da área terrestre tem uma pressão forte humana. Nós modificamos intensamente dois terços da área terrestre, 66% dos oceanos e 85% das áreas húmidas. Então, nós podemos mostrar tanto em aspectos específicos o que é que isso quer dizer para as diferentes espécies, como de uma maneira geral, mostrar que esses impactos agora chegaram numa escala global, e estão se interagindo. Isso que é uma parte importante do relatório, é que agora essa pressão que nós colocamos no meio ambiente, em espécies, em vários sistemas, está interagindo com a pressão social que nós temos, com a alta densidade populacional, grande demanda de recursos, muita carência de infraestrutura, e com as pressões de mudanças climáticas.”

Brondízio explicou que a perda das espécies é um componente importante de um impacto muito maior que afeta o dia a dia dos seres humanos.

O relatório aponta que desde 1990, a Terra perdeu 28,7 milhões de hectares de florestas que ajudam a absorver as emissões nocivas de dióxido de carbono da atmosfera.  Adicionalmente, 1 milhão de espécies de plantas e animais estão em risco de extinção e mais de 90% da população de peixes marinhos estão em declínio ou são excessivamente explorados.

Brasil

Neste cenário, Brondízio citou também a influência global do Brasil dos pontos de vista ambiental, de circulação de água e da escala da biodiversidade. Ele disse que, ao mesmo tempo,  o país também é  influenciado por essas mudanças do planeta.

 “O Brasil é realmente central nessa equação porque a sua escala e as suas características fazem ele como uma parte importante deste cenário de mudança global, quer dizer, o que acontece no Brasil tem implicação global, mas também está vendo as consequências e os efeitos cascatas dessas mudanças. Por exemplo, a gente olha para a frequência e a extensão de secas. Tem crescido progressivamente em regiões como a Amazônia, por exemplo. Quando se interage com uma pressão maior na floresta, uma pressão maior na paisagem, criam paisagens mais vulneráveis ao fogo, as secas que afetam muitas pessoas, ou mesmo, o que a gente está vendo mais e mais no Brasil, são esses eventos extremos por exemplo, de inundações em cidades afetando muitas pessoas.” 

Segundo a FAO, mais de 6000 espécies de plantas foram cultivadas para alimentação, mas menos de 200 delas contribuem significativamente para a produção de alimentos nos níveis global, regional ou nacional.
Noor para FAO/ Benedicte Kurzen
Segundo a FAO, mais de 6000 espécies de plantas foram cultivadas para alimentação, mas menos de 200 delas contribuem significativamente para a produção de alimentos nos níveis global, regional ou nacional.

Lema

Com o lema “Nossa biodiversidade, nossos alimentos, nossa Saúde”, o Dia Internacional da Diversidade Biológica destaca este ano o impacto da negligência ambiental na segurança alimentar e a saúde pública. Como aponta António Guterres, “o atual sistema alimentar do mundo está cada vez mais deteriorado.”

O chefe da ONU destaca que “milhares de milhões de pessoas não têm acesso a uma nutrição adequada” e que “aproximadamente um terço do que é produzido é perdido ou desperdiçado.”

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, aponta que a biodiversidade pode parecer complicada, mas é um conceito bastante simples. A existência de vários tipos diferentes de plantas e animais torna o mundo um lugar mais saudável e produtivo.

Relatório

De acordo com um novo relatório, publicado pela FAO nesta quarta-feira, “uma mistura de genética, espécies e habitats permite que os ecossistemas da Terra acompanhem desafios como o crescimento populacional e a mudança climática”. Por isso, “a biodiversidade desempenha um papel crucial na segurança alimentar e nutricional e, subsequentemente, na saúde humana.”

Produzido com base nas informações fornecidas por 91 países e 27 organizações internacionais, o relatório Estado do mundo - biodiversidade para alimentação e agricultura, avalia a biodiversidade para alimentos e agricultura e sua gestão.

FAO: 34% dos recursos pesqueiros são sobre explorados.
Sibbr/José Sabino
FAO: 34% dos recursos pesqueiros são sobre explorados.

Dietas

O estudo  aponta que “ao longo dos anos, a redução do acesso a terras e recursos naturais, degradação ambiental, mudanças climáticas, globalização, urbanização e homogeneização da produção agrícola, quando colheitas de alto rendimento e agricultura monocultora tomam o lugar da biodiversidade, causaram uma transformação de dietas e estilos de vida.”

Cerca de 75% da diversidade genética, uma vez encontrada em culturas agrícolas, foi perdida no último século, uma mudança que afetou dramaticamente o papel que os alimentos tradicionais desempenham nas sociedades de alimentação.

Saúde

A FAO destaca ainda que em muitas comunidades, a diminuição da disponibilidade de diversos alimentos locais e o aumento de alimentos industrializados causaram uma mudança dos recursos alimentares tradicionais para alimentos comerciais e de conveniência. Essa tendência tem sido associada a impactos negativos na saúde, como obesidade, diabetes, doenças cardíacas, pressão alta e outros distúrbios relacionados à dieta.

Para a agência, compreender e manter as principais relações entre os povos e suas culturas, a biodiversidade, os meios tradicionais de subsistência e os sistemas de conhecimento são fatores críticos para garantir a segurança alimentar e nutricional sustentável.  A FAO acredita que uma das questões mais importantes é como aumentar a produção de alimentos para as gerações atuais e futuras, melhorando a biodiversidade e reduzindo a pressão sobre o meio ambiente.