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Conselho de Segurança debate impacto da mudança climática na paz mundial

Em Puntland, na Somália, não chove há três anos
Pnud Somalia/Said Isse
Em Puntland, na Somália, não chove há três anos

Conselho de Segurança debate impacto da mudança climática na paz mundial

Paz e segurança

Orgão da ONU discutiu o tema com a participação de 70 Estados-membros  e mais de 10 ministros; representante da juventude pediu uma resolução que constate ameaças destas mudanças à segurança internacional.

O Conselho de Segurança da ONU realizou um debate aberto na sexta-feira sobre o impacto da mudança climática na paz e segurança internacionais. O encontro serviu também para discutir formas de diminuir os efeitos do aquecimento global.

A subsecretária-geral para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, disse que “os riscos associados ao clima já não são um cenário de futuro distante, são uma realidade para milhões de pessoas em todo o mundo e não vão desaparecer.”

Subsecretária-geral para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, no Conselho de Segurança.
Subsecretária-geral para os Assuntos Políticos, Rosemary DiCarlo, no Conselho de Segurança. , by Foto ONU/Loey Felipe

Encontro

No encontro desta sexta-feira, participaram mais de 70 Estados-membros e mais de 10 ministros, incluindo da Bélgica, Indonésia, Alemanha e Polónia.

No seu discurso, DiCarlo defendeu a necessidade de se concentrar em três áreas principais. Primeiro, desenvolver uma capacidade analítica mais forte, segundo recolher uma base de informação mais robusta e, por fim, construir e reforçar parcerias.

Segundo ela, “o mais importante, para todos, é o reconhecimento de que os atos devem seguir as palavras.” A responsável disse que “grandes exércitos e empresas reconhecem há muito tempo a necessidade de se preparar para os riscos relacionados ao clima, percebendo que é um multiplicador de ameaças,” e que a ONU “não pode ficar para trás, tem de atuar agora.”

Desenvolvimento

O administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, Achim Steiner, também participou no encontro, dizendo que o mundo “não está acompanhando o desafio”.

Steiner pediu ao Conselho de Segurança que reconheça a ciência disponível, aproveite todas as medidas possíveis para desacelerar o aquecimento global e invista em adaptação climática e redução de risco para os milhões de pessoas que já sofrem com os seus efeitos.

Administrador do Pnud, Achim Steiner.
Administrador do Pnud, Achim Steiner. , by UNEP

O especialista também citou algumas das centenas de projetos realizados pelo Pnud em cerca de 140 países, incluindo um sistema de gestão de água nas Maldivas, ou o desenvolvimento de um índice de vulnerabilidade para facilitar a preparação e apoio financeiro para famílias vulneráveis ​​no Caribe.

Ciência

Pela primeira vez na história, a Organização Meteorológica Mundial, OMM, foi convidada a informar os membros do Conselho de Segurança sobre questões climáticas.

O cientista-chefe da OMM, Pavel Kabat, afirmou que “a mudança climática tem uma infinidade de impactos na segurança.” Kabat destacou o acesso a alimentos, o risco de incêndios florestais e o potencial de conflitos relacionados com a água.

Segundo ele, esta mudança “é cada vez mais considerada uma ameaça à segurança nacional".

Juventude

Uma representante da juventude e investigadora em segurança ambiental, Lindsay Getschel, também discursou na reunião e fez três pedidos ao Conselho de Segurança.

Em primeiro lugar, solicitou uma resolução reconhecendo oficialmente a mudança climática como uma ameaça à paz e segurança internacionais. Em segundo, pediu uma avaliação sobre como esta mudança afeta a juventude. E, finalmente, uma redução da dependência de energia de combustíveis fósseis nas missões da ONU e um compromisso de que 50% da energia tenha origem em fontes renováveis ​​até 2025, com relatórios regulares ao secretário-geral para avaliar este progresso.

A representante terminou lembrando aos presentes na sala que muitos, em todo o mundo, "não têm o luxo de não se importar com esse assunto", e pediu aos líderes mundiais que "cumpram com as suas palavras".

História

A primeira reunião do Conselho de Segurança que examinou as ligações entre mudança climática e insegurança aconteceu em abril de 2007.

Desde então, o órgão da ONU tem adotado cada vez mais medidas que reconhecem que as duas questões estão relacionadas.

Em julho de 2011, foi realizado outro debate aberto, em março de 2017 foi adotada uma resolução que destaca a necessidade de abordar os riscos relacionados ao clima para enfrentar o conflito na bacia do Lago Chade e, em julho de 2018, foi realizado um debate sobre os riscos de segurança relacionados com o clima.