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Estudantes migrantes e deslocados que aumentaram desde 2000 podem ocupar 500 mil salas de aula BR

Fugee School, que acolhe crianças refugiadas na Malásia.
Grace Tan / Payong
Fugee School, que acolhe crianças refugiadas na Malásia.

Estudantes migrantes e deslocados que aumentaram desde 2000 podem ocupar 500 mil salas de aula

Cultura e educação

Exemplos de Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal aparecem em estudo sobre inclusão de migrantes na educação; Unesco revela que países de baixa e média rendas recebem 89% dos refugiados, mas não têm recursos para satisfazer necessidades de ensino.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco, apresentou um novo estudo em Berlim recomendando que sejam protegidos os direitos à educação de migrantes e deslocados.

O Relatório de Monitoramento da Educação Global 2019 tem o título Migração, deslocamentos e educação. O documento pede a inclusão em sistemas de educação e que os países levem em conta as necessidades educacionais destes grupos.

Brasil

Congoleses no acampamento em Lóvua, Angola.

O estudo apresentado esta terça-feira coloca o Brasil ao lado do Canadá porque nesses países há uma diferença de menos de 20% entre imigrantes e cidadãos com educação superior.  

O relatório revela ainda que cidades podem ter um papel importante em prol da inclusão. A cidade de São Paulo é mencionada por lançar a campanha Há Um Lugar para Todos em 2017, e por ter criado o Conselho Municipal de Migrantes envolvendo o grupo na vida política local e promovendo seus direitos.

O Brasil também é citado pelo subsídio dado a 101 mil estudantes de ensino superior estudando no exterior, em áreas relevantes para a economia nacional no Programa Brasileiro de Mobilidade Científica.

Moçambique e Cabo Verde

No relatório, Moçambique aparece citado pelos desafios de qualificação. Quanto aos estudantes moçambicanos no exterior, o país é um dos que contribui para que migrantes estudando na África do Sul sejam 75% dos alunos do país, entre 2011 e 2016.

O estudo também faz referência a Cabo Verde pelo programa misto de ensino vocacional e alfabetização de adultos para migrantes africanos. No arquipélago triplicou o número de cidadãos vindos da África Ocidental e foi criada a iniciativa Promoção da Alfabetização e Formação de Imigrantes para o período 2016 a 2020.

Criança em escola de Idlib, na Síria, vítima de ataques.

Pelo menos 98% dos participantes completaram com sucesso o primeiro ano do curso que oferece alfabetização, língua portuguesa e formação profissional em áreas como competências em informáticas e carpintaria.

Portugal

Portugal aparece ao lado da Grécia, da Noruega e da Suécia por permitir que candidatos a asilo tenham trabalho.

A Unesco indica que o número de crianças migrantes e deslocadas em idade escolar aumentou 26% desde 2000. Este número pode ocupar meio milhão de salas de aula. 

O relatório revela que o direito dessas crianças terem uma educação de qualidade é cada vez mais reconhecido no papel, mas negado por alguns governos em salas de aula e pátios de escolas.

Dois anos após a Declaração de Nova Iorque para Refugiados e Migrantes, a agência revelou que refugiados perderam 1,5 bilhão de dias de escola. 

Sistemas Nacionais

Metade de pessoas forçadas a se deslocar no mundo tem menos de 18 anos e muitos países as excluem de seus sistemas nacionais de educação. Crianças em busca de asilo em detenção em países como Austrália, Hungria, Indonésia, Malásia e México recebem acesso limitado à educação.

O novo currículo pode vir a ser aplicado em outras partes do mundo.  Nesta foto, crianças numa escola em Gaza.

Os países de baixa e média rendas abrigam 89% dos refugiados, mas não têm recursos para lidar com a situação.  O pedido aos doadores é que aumentem ao triplo suas despesas com a educação de refugiados e garantam apoio de longo prazo. 

A proporção de estudantes com um passado de migrantes em países de alta renda aumentou de 15% para 18% entre 2005 e 2017. Agora em número de 36 milhões, eles correspondem a toda a população em idade escolar na Europa.

Na União Europeia, o dobro de jovens nascidos no exterior abandonou a escola mais cedo do que os cidadãos do país durante o ano passado.