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Indígenas brasileiras explicam seu papel para um mundo sustentável BR

As representantes indígenas Judite “Kari” Guajajara (à esquerda) e Nara Baré. Foto: Rádio ONU

Indígenas brasileiras explicam seu papel para um mundo sustentável

Kari Guajajara e Nara Baré estão na sede da ONU acompanhando a Comissão sobre o Estatuto da Mulher; segundo elas, as indígenas têm relação de “mãe” com a terra e podem ensinar muito sobre o desenvolvimento sustentável.

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York.

Empoderamento feminino e desenvolvimento sustentável é o tema da 60ª sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW, que ocorre na sede das Nações Unidas até 24 de março.

E para indígenas brasileiras que estão acompanhando o encontro em Nova York, os povos nativos podem contribuir muito para que a sustentabilidade global seja alcançada.

Sem Excessos

Judite “Kari” Guajajara é da comunidade Guajajara, do Maranhão. A estudante de Direito foi convidada a acompanhar a CSW e conversou com a Rádio ONU. Segundo ela, ninguém melhor que as mulheres indígenas para ensinar o que é, na prática, o desenvolvimento sustentável.

“Para as comunidades indígenas, a relação com a terra é uma relação de mãe: você só retira dela aquilo que é suficiente para você sobreviver e aquilo que não vai machucá-la e nem degradá-la. Se você sentar para conversar com uma mulher indígena, você percebe que ela tem um conhecimento muito profundo sobre os produtos naturais que você pode retirar para tratar doenças, sobre as matas celiares, sobre os peixes. Quando se trata de natureza, o que é melhor do que conversar com uma mulher indígena? Ela domina aquelas áreas.”

Igualdade de Gênero

Kari Guajajara lembra que essa relação mantém o equilíbrio da natureza, evitando assim a degradação do meio ambiente, um ponto essencial para o desenvolvimento sustentável.

Consumo responsável, vida na água e vida terrestre são três dos 17 objetivos globais que os países precisam cumprir até 2030. Alcançar a igualdade de gênero é outra meta, assunto debatido diariamente durante a CSW.

De São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, Nara Baré veio à sede da ONU acompanhar a conferência. Representando o movimento Voz das Mulheres Indígenas, ela explica que a igualdade depende do respeito aos direitos.

Direitos

“Nós não somos melhores do que ninguém, mas somos diferentes. Como pautar isso, ter esse diálogo junto com os Estados, do acesso às políticas públicas, que é muito difícil, é complexo. Hoje no Brasil, a gente vive um retrocesso total dos direitos (dos indígenas), do direito à terra, do direito à saúde. Nós avançamos, sim, mas regredimos muito mais. O Brasil aqui foi um dos poucos países que colocou a questão indígena na pauta da CSW.”

O Brasil é o país que preside esta sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher. Segundo Nara Baré, 305 povos indígenas vivem em território brasileiro, falando 205 línguas e eles querem mostrar que podem ser protagonistas em muitas ações.