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Em orfanato do Haiti, comunidades e boinas azuis querem maximizar impacto BR

Melhoria das condições de vida. Foto: Brabat.

Em orfanato do Haiti, comunidades e boinas azuis querem maximizar impacto

Rádio ONU visitou Orfanato Instituto Sagrado Coração de Jesus da Região de Croix-des-Busquets; língua portuguesa, educação, saúde e serviços básicos criam vínculo entre com comunidade de Porto Príncipe.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*

A capital do Haiti, Porto Príncipe, ainda está em reconstrução.

Em tarde de um calor escaldante, um jeep com soldados das tropas de paz percorre estradas empoeiradas, com o trânsito intenso e caminhões pipa distribuindo água. Há muito trabalho de construção nos canteiros de obra na cidade, que abriga 2 milhões de pessoas.

Melhorar o Ambiente

Na companhia do Capitão Cezar Batista Cunha Santos, a Rádio ONU observa um cenário que o militar concorda ser marcado por vários desafios. Recursos como água e energia são questões que se considera que o governo deve apoiar. As tropas ajudam na distribuição da água potável , para que a "gente consiga melhorar o ambiente, tanto socialmente como no aspecto sanitário."

"Depois do episódio trágico do terremoto em 2010, houve muito sofrimento e o país está em reconstrução. Nós como o componente militar, temos o nosso jeito característico brasileiro, sem dúvida nenhuma tanto o Haiti e nós vamos melhorar como pessoas. Temos a certeza que este jeito de trabalhar vamos deixar um significo para eles."

No Orfanato Instituto Sagrado Coração de Jesus da Região de Croix-des-Busquets, o oficial Zaniboni  é o homem de contacto entre as forças de paz da Missão da ONU no Haiti, Minustah, e a instituição.

Realidade Diferente

É com ele que seguimos no jardim desta área do bairro da periferia de Porto Príncipe. O complexo recebe o apoio das forças do batalhão brasileiro, Brabat. Em 2011 quando começou a operar, o local não tinha nada mais do que uma casa. Hoje, a irmã Maria Zelinda Cardim descreve uma realidade diferente.

"Eu já vejo mudanças agora. A gente vê as crianças quando vêm até nós, vemos com fisionomia triste, apagadas. Agora já podemos criar lindos sorrisos na vida destas crianças. O bairro daqui em mais uns anos, já são quase quatro em que estamos aqui, ele está se rejuvenescendo e sendo um ponto de encontro de tantos que não têm onde se encontrar, não têm às vezes até uma família para ficar."

Pouco comum para quem fala português e vem de fora é ouvir uma música de Roberto Carlos em Porto Príncipe. São meninas do coral de menores frequentadores do orfanato.

Fornecimento de Energia

Dentro das instalações, e ainda com soldados de paz, acompanho a passagem de instruções para o uso de um gerador novo para garantir o fornecimento de energia. O Frei Afonso Obici conta porque o recurso é necessário.

"Chega a passar um dia ou dois sem energia. Você não sabe se ela dura 10 minutos ou uma hora. Aqui a gente tem o atendimento de saúde em todo o período da manhã, tem atendimento odontológico, farmácia, o acompanhamento das mães gestantes. Se você não tem energia os computadores não vão funcionar, o atendimento  odontológico vai parar e uma padaria industrial.Temos 18 mães que fazem o pão que a gente oferece para as crianças. Tudo vai parar se você não tem energia."

O importante é o estado das crianças, incluindo órfãs, que quando chegam estão em estado crítico, como diz o Frei Gabriel Alves.

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Chegada em estado crítico. Foto: Brabat.
Maior Número 

"É a alimentação que não tem, é muito triste. Porque a gente encontra crianças que estão três ou quatro dias sem comer nada. Muito magro, desnutrido. Então, eles veem até aqui e a gente tem uma padaria onde fornece pão, leite e uma refeição todos os dias. A gente recebe cerca de 300 a 400 crianças. Depois do terremoto de 2010, eu acredito que se agravou bastante a questão do número de órfãos aqui em Porto Príncipe."

O Instituto é um dos exemplos da conexão entre os locais e a força de paz que desde março reduziu em quase pela metade seu contingente. A Minustah quer ajudar os haitianos a seguir um destino mais autônomo. O Frei Gabriel diz que a ideia é desafiadora.

"As pessoas têm que começar a pensar diferente. Segundo, é a reconstrução do país. Faz cinco anos que o terremoto passou e até hoje não foi feito nada. Moramos num bairro que não tem saneamento básico nenhum. Não tem energia elétrica, o básico para as pessoas sobreviverem."

Comunidades

O comandante militar da Minustah é o general brasileiro José Luiz Jaborandy Jr. Ele disse que as ações nas comunidades envolveram a reconstrução de ruas, a retirada de entulho e outras atividades. As tropas de engenharia, de infantaria e unidades de serviço de saúde também estiveram envolvidas nesse processo.

O momento é de estimular a autossuficiência, já que todos devem reconhecer que, um dia, a saída das tropas deve ter impacto na região.

Condições de Vida

"Instituições não-governamentais, setores do próprio governo, da iniciativa privada, pública e de instituições que possam nos substituir porque a população ainda precisa de apoio humanitário. A infraestrutura no país, infelizmente, ainda é muito precária. Nossa saída terá impacto nessa área comunitária e nós precisamos de parceiros que, paulatinamente, venham nos substituir nessa importante tarefa de ajudar a melhorar as condições de vida da população."

Inquestionável é o vínculo já criado nas comunidades pelos soldades de paz da ONU. Como o haitiano que confessou o seu encanto pela língua de Camões quando saíamos do local.

"Eu quero aprender, é importante mas eu não falo português. É uma linda língua."

*Produzido com parceria da Minustah.

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