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Sudão do Sul permitiu estupros em troca de salário, segundo relatório da ONU BR

Crianças no Sudão do Sul. Foto: ONU/JC McIlwaine

Sudão do Sul permitiu estupros em troca de salário, segundo relatório da ONU

Situação foi documentada pelo Escritório de Direitos Humanos; entre abril e setembro de 2015, ocorreram 1,3 mil estupros; grupos aliados ao governo teriam “autorização” para abusar de mulheres.

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York.

O Escritório de Direitos Humanos da ONU divulgou esta sexta-feira um relatório que descreve, em detalhes, “terríveis violações de direitos” que estão ocorrendo no Sudão do Sul, como assassinatos, abusos sexuais e saques.

Todos os lados em conflito estão cometendo violência contra os civis, desde o início dos confrontos, há mais de dois anos. Mas segundo o relatório, “funcionários estatais têm a maior responsabilidade” sobre ações cometidas em 2015.

Commodity

Entre abril e setembro, foram registrados pela ONU mais de 1,3 mil casos de violações sexuais apenas no estado da Unidade, rico em petróleo. “Fontes de credibilidade indicaram grupos aliados ao governo, que seriam autorizados a estuprar mulheres em troca de salários.”

Houve casos de mulheres obrigadas a casar com o agressor. Outras ficaram grávidas. O relatório afirma que os abusos são uma “commodity” no Sudão do Sul.

Relatos

Uma vítima contou que cinco soldados rasgaram sua roupa na estrada e depois a estupraram na frente de seus filhos. Na sequência, foi estuprada por mais homens na mata e quando voltou à rodovia, seus filhos haviam desaparecido.

Uma outra mulher foi amarrada a uma árvore, seu marido foi assassinado e ela foi obrigada a ver a filha de 15 anos ser estuprada por 10 soldados.

O documento revela que a oposição e gangues criminosas também abusam de mulheres e de crianças. As forças governamentais do Exército de Libertação do Sudão, Spla, e milícias afiliadas teriam tomado “atitudes calculadas, assassinando civis e destruindo propriedades”.

Ataques

Desde 2013, todos os lados em conflito realizaram ataques contra civis, estupros, detenção arbitrária, sequestros, desaparecimentos forçados e também ataques contra soldados de paz da ONU.

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos nota, no entanto, que a quantidade de estupros descrita no relatório é apenas uma parcela da realidade.

Zeid Al Hussein afirma que o Sudão do Sul enfrenta uma das piores situações de direitos humanos do mundo, porque os abusos sexuais em massa são utilizados como “arma de guerra e instrumento de terror”.

Menores

As crianças também estão entre as vítimas: pelo menos 702 foram abusadas sexualmente, algumas com apenas nove anos de idade. Tanto forças do governo quanto da oposição utilizaram adolescentes no combate. É possível que milhares de crianças tenham sido recrutadas.

O relatório é parte do trabalho da equipe enviada pelo alto comissário ao país mais novo do mundo. O documento tem como foco violações ocorridas no ano passado, principalmente nos estados da Unidade e Alto Nilo.

É feita uma recomendação ao Conselho de Direitos Humanos, para que continue monitorando a situação no país e considere o estabelecimento de um “mecanismo para relatar progressos sobre a situação” e checar se os responsáveis estão sendo punidos.