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"Burundi deve permitir entrada de investigadores" para apurar abusos

Adama Dieng. Foto: ONU/Jean-Marc Ferré

"Burundi deve permitir entrada de investigadores" para apurar abusos

Conselheiro da ONU sobre Prevenção do Genocídio disse que deve ser confirmada existência de uma terceira força no impasse político; violência já matou mais de 400 pessoas desde o fim de abril.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

O assessor especial da ONU sobre a Prevenção do Genocídio disse que o governo do Burundi deve permitir a entrada de investigadores no país para observarem de forma independente as violações de direitos humanos.

O responsável disse esta terça-feira em Genebra que essa verificação permitiria confirmar as alegações da existência de uma terceira força na crise política.

Terceira Força

Adama Dieng declarou que não chegaria ao ponto de afirmar que há uma terceira força, mas que mas esse aspeto precisa ser investigado.

O assessor confirmou que relatos apontam para o envolvimento na crise de elementos a partir de fora do Burundi que forneceriam recursos. Mas frisou que tal precisa ser investigado, daí que o Governo do Burundi deve "autorizar que uma equipa de investigação independente acompanhe as atrocidades e identifique as alegações sobre tal força".

Dieng declarou que os atores regionais têm um papel importante a desempenhar no processo burundês, tendo recomendado maior vigilância da Comunidade Económica dos Países da África Oriental.

Mortos

As Nações Unidas estimam que mais de 400 pessoas teriam morrido devido à violência desde o fim de abril. Outras cerca de 230 mil foram obrigadas a abandonar as suas casas por causa do impasse político.

Dieng disse haver vários crimes que devem ser investigados para que os responsáveis sejam levados à justiça.

Solução

Para o conselheiro especial, até que a impunidade seja abordada de forma séria para o fim do que acontece não se verá o fim do túnel nem uma solução.

A violência no Burundi evoluiu em abril passado após o anúncio do presidente Pierre Nkurunziza de que iria concorrer a um terceiro mandato. O líder acabou por ser investido em junho.

As Nações Unidas disseram ter recebido vários relatos de ataques armados e de corpos encontrados nas ruas da cidade.

Investigadores

Na semana passada, o Conselho de Direitos Humanos realizou uma sessão especial sobre o Burundi. que adotou uma resolução que recomenda o envio de uma equipa de investigadores ao país.

Na ocasião, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos disse que o país estava à beira de uma guerra civil.

Zeid Al Hussein chamou a atenção para o discurso de ódio, o recrutamento de civis para ambos os lados do impasse político e o medo da população do país que entre 1993 e 2005 teve uma guerra civil que provocou 300 mil mortos.