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Sudão do Sul: exército nega acesso de monitores para apurar abusos

Alto comissário para Direitos Humanos, Zeid Al Hussein. Foto: ONU/Violaine Martin

Sudão do Sul: exército nega acesso de monitores para apurar abusos

Chefe de direitos humanos fala de "violações alarmantes" no país; conflito já provocou mais de 2 milhões de deslocados; comunicado destaca impunidade como causa de violência e retaliação.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*

O alto comissário para os Direitos Humanos disse que monitores da ONU tiveram acesso negado a vários locais no estado sul-sudanês de Unidade, onde tentavam verificar alegações de abusos.

Em comunicado publicado nesta sexta-feira, em Genebra, Zeid Al Hussein afirma que a medida foi tomada pelo Exército de Libertação do Povo do Sudão, Spla. Ele instou as autoridades a permitirem o acesso do grupo.

Impacto

O responsável alertou ainda para "violações alarmantes" dos direitos humanos e do direito internacional humanitário com "impacto terrível" sobre os civis.

A nota destaca que o escalar dos combates entre forças do governo e da oposição levou até 10 mil pessoas a fugirem para as instalações da ONU que abrigam civis em Bentiu, nas últimas semanas.

No local já estavam cerca de 60 mil deslocados em busca de segurança. Vários deles caminharam longas distâncias em condições difíceis e sob ameaça de emboscadas e ataques de grupos armados.

Condições Desumanas

O responsável disse que nos mais de 17 meses de confrontos, mulheres, homens e crianças sofrem na catástrofe totalmente provocada pelo homem e estão sujeitos a viver nas condições mais desumanas.

O alto comissário realça que mais de 2 milhões de pessoas deixaram as suas casas, meios de subsistência, segurança e tiveram familiares mortos ou vítimas do recrutamento forçado.

Mortos

Zeid destaca que nas últimas semanas, as partes em conflito “conseguiram piorar a já considerada situação terrível”.

Sete pessoas morreram no complexo da ONU na área de Melut, no estado do Alto Nilo, após terem sido atingidas por fogo cruzado. Zeid lembrou que 1,6 mil deslocados vivem no local "mal equipado e vulnerável".

Prestação de Contas

O responsável disse que a não-observação de compromissos para o fim dos combates era uma "vergonhosa falta de justiça e de prestação de contas para as vítimas de tais violações graves no Sudão do Sul."

Para ele, a impunidade persistente deixou muitas queixas não resolvidas, com reclamantes facilmente mobilizados para ataques violentos e retaliatórios.

Zeid defende que o combate à impunidade deve ser uma prioridade, se o que se pretende é manter alguma paz no Sudão do Sul.

*Apresentação: Michelle Alves de Lima.

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