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Taxação de produtos nocivos pode contribuir para financiar Agenda 2030, diz ativista brasileira

A coordenadora de projetos da ONG ACT Promoção da Saúde, Laura Cury
ACT/Divulgação
A coordenadora de projetos da ONG ACT Promoção da Saúde, Laura Cury

Taxação de produtos nocivos pode contribuir para financiar Agenda 2030, diz ativista brasileira

ODS

Laura Cury, da ACT Promoção da Saúde, participou do Fórum Político de Alto Nível da ONU; um dos destaques foi a crise de financiamento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável; ela integra uma coalização da sociedade civil que defende uma reforma tributária saudável, solidária e sustentável no Brasil.

Um dos temas mais comentados no Fórum Político de Alto Nível da ONU em 2024 foi a dificuldade de financiamento para realizar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, ODS, até 2030.

A coordenadora de projetos da ONG ACT Promoção da Saúde, Laura Cury, que participou das ações da sociedade civil brasileira durante o evento, comentou a crise de recursos.

Reforma tributária no Brasil pode contribuir para os ODS, diz ONG

Crise de recursos para o desenvolvimento sustentável

“Esse é um grande obstáculo, se a gente não tiver recursos, principalmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil e tantos outros do Sul global, como é que você implementa essas políticas? A gente pode até saber o que fazer, mas faltam recursos e também falta muita vontade política”.

Laura é co-facilitadora do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 e conversou com a ONU News sobre como a tributação pode ser um mecanismo inovador para superar a lacuna de financiamento dos ODS.

Ela lembrou que a terceira Conferência Internacional sobre Financiamento para o Desenvolvimento teve como resultado a Agenda de Ação de Adis Abeba, endossada pela Assembleia Geral da ONU em 2015. O documento propõe a restruturação de regimes tributários como uma das possíveis soluções. 

A ativista brasileira defende que a tributação pode ser um mecanismo inovador aplicado no Brasil, em um momento em que o país debate uma reforma tributária.

Reforma tributária no Brasil

“Por um lado, se você aumenta a tributação de um produto nocivo que causa externalidades negativas, como gostam de falar os economistas, você reduz o consumo e, portanto, você protege a população. Então você gera menos gastos, por exemplo, de saúde, lá na frente. Então já tem aí uma ação preventiva. Por outro lado, o recurso que é arrecadado, que vem do tributo, ele pode ser extremamente interessante para esses países e pode ser vinculado a algum programa”.

Considerando a realidade de “subfinanciamento do Sistema Único de Saúde”, ela afirmou que essa arrecadação poderia ser investida, por exemplo, nesta área ou para o desenvolvimento sustentável de uma forma mais ampla.

Segundo Laura, a ACT Promoção da Saúde, juntamente com outras 60 organizações da sociedade civil, formou uma coalizão que propôs uma “reforma tributária 3S: Saudável, Solidária e Sustentável”.

Campanha Reforma Tributária 3S
ACT/Divulgação
Campanha Reforma Tributária 3S

Proposta 3S: Saudável, Solidária e Sustentável

“São os impostos seletivos majorados para produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente. Então a gente propõe que tabaco, bebidas alcoólicas, ultraprocessados, agrotóxicos, mas também combustíveis fósseis, armas, enfim, possam ter uma tributação maior para desincentivar consumo e também arrecadar o recurso”.

A ativista afirma que o objetivo é proteger a população mais vulnerável, que geralmente sofre as consequências adversas do consumo desses produtos nocivos. Ela citou mulheres, pessoas negras, indígenas e de baixa escolaridade e renda.

A proposta prevê ainda a desoneração de alimentos in natura e minimamente processados, aumentando assim o acesso a produtos saudáveis. Segundo Laura, a mesma lógica pode ser aplicada em outras áreas como o uso de energia limpa, com a meta de “reorientar as relações de produção e consumo”.

Ela elogiou a proposta do governo brasileiro de desoneração da cesta básica, que está composta “majoritariamente por produtos saudáveis”.

Taxação de bebidas alcóolicas

Em relação ao aspecto solidário das mudanças, ela mencionou a reforma tributária sobre a renda prevista para 2025, com possibilidade de taxação dos “super-ricos”, tema que o Brasil já tem apresentado no bloco G20, onde detém a presidência.

A representante da ACT ressaltou também a importância da inclusão de bebidas alcoólicas no rol dos produtos que vão ser tributados com o imposto seletivo majorado. Segundo ela, o desafio agora é “garantir alíquotas que sejam altas o suficiente para diminuir o consumo” e proteger a população dos riscos. 

A ativista enfatizou que produtos com alto teor alcoólico são uma prioridade, mas lembrou que 90% do consumo no país é de cerveja.