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Unicef: alunos mais ricos são mais beneficiados por fundos para educação

Alunos em uma sala de aula em uma escola em Phnom Penh, Camboja
© Unicef/Bunsak But
Alunos em uma sala de aula em uma escola em Phnom Penh, Camboja

Unicef: alunos mais ricos são mais beneficiados por fundos para educação

Cultura e educação

Novo relatório do Fundo da ONU para a Infância revela que pequeno aumento na alocação de recursos de educação pública para os 20% mais pobres pode melhorar a vida de 35 milhões de alunos de escolas primárias no mundo.

O Fundo das Nações Unidas para Infância, Unicef, divulgou um novo relatório revelando que crianças de famílias mais pobres são menos beneficiadas por financiamentos do governo para educação pública.

O relatório Transformando a Educação com Financiamento Equitativo observa que, em média, um quinto dos alunos mais pobres se beneficia de apenas 16% do financiamento público para a educação, em comparação com um quinto dos mais ricos, que recebem 28%.

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© Unicef/Giacomo Pirozzi
Documento analisa dados sobre os gastos do governo na educação pré-escolar, primária, secundária e superior de 102 países

Países de língua portuguesa

O documento analisa dados sobre os gastos do governo na educação pré-escolar, primária, secundária e superior de 102 países.

Alunos das famílias mais ricas obtêm mais de seis vezes do valor do financiamento público da educação em comparação com os mais pobres.

Em Moçambique, essa diferença é de menos de 10% para alunos pobres e mais de 45% para alunos ricos. Enquanto no Brasil, menos de 15% e mais de 33%. Essa discrepância diminui na Guiné-Bissau, para cerca de 16% e 33%, em São Tomé e Príncipe, cerca de 17% e 25%, Timor-Leste, 18% e 24% e Portugal, com cerca de 18% e 25%.

Em todo o mundo, é mais provável que os gastos com educação pública cheguem a alunos de famílias mais ricas em países de baixa e média rendas.

Alunos mais ricos em lugares como Cote d’Ivoire, ou Costa do Marfim, e Senegal recebem cerca de quatro vezes mais gastos com educação pública do que os mais pobres. Embora a diferença seja menor em países de alta renda, França e Uruguai estão no extremo superior da diferença.

Entre as nações de baixa renda, apenas 11% do financiamento da educação pública vai para os alunos mais pobres, enquanto 42% são destinados aos mais ricos.

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UNICEF/BRZ
No Brasil, menos de 15% dos gastos com educação pública vão para alunos de famílias pobres e cerca de 33% para alunos de famílias ricas

Apelo por mais investimentos

A constatação é que o aumento de um ponto percentual na alocação de recursos da educação pública para os 20% mais pobres pode tirar 35 milhões de crianças em idade escolar primária da pobreza de aprendizagem.

Com investimentos mais equitativos, a vida de milhões de alunos pode mudar. A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, disse que “muitos sistemas educacionais em todo o mundo estão investindo menos nas crianças que mais precisam”.

Para ela, apostar na educação das crianças mais pobres é “a maneira mais econômica de garantir o futuro para crianças, comunidades e países”.

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© Acnur/Omotola Akindipe
Entre as nações de baixa renda, apenas 11% do financiamento da educação pública vai para os alunos mais pobres, enquanto 42% são destinados aos mais ricos

Menor representação em níveis altos da educação

De acordo com o relatório, as crianças pobres têm menos probabilidade de ter acesso à educação e abandonam a escola mais cedo.

Elas também têm maior probabilidade de viver em áreas remotas e rurais que geralmente são mal atendidas e propensas à exclusão digital.

Segundo o Unicef, mesmo antes da Covid-19, os sistemas educacionais em todo o mundo não eram eficientes para as crianças, com centenas de milhões de alunos frequentando a escola, mas sem habilidades básicas de leitura e matemática.

Estimativas recentes mostram que dois terços de todas as crianças de 10 anos em todo o mundo são incapazes de ler e entender um texto simples.

De acordo com o relatório, um passo fundamental para lidar com a crise de aprendizagem é que os governos forneçam financiamento equitativo e priorizem os recursos públicos de educação, incluindo o foco cada vez maior na aprendizagem fundamental.

Outras descobertas do relatório:

  • Na última década, os gastos com educação pública tornaram-se mais equitativos em 60% dos países.
  • No entanto, quase um terço dos países gasta menos de 15% de seu financiamento público para a educação com os mais pobres. Entre as nações de baixa renda, essa parcela é surpreendentemente alta, de 80%.
  • Em 1 em cada 10 países, os alunos das famílias mais ricas recebem quatro ou mais vezes o valor dos gastos com educação pública em comparação com os alunos das famílias mais pobres em 10% dos países.
  • Os apelos para educação em emergências geralmente recebem apenas 10% a 30% dos valores necessários, com disparidades significativas entre países e regiões.

O Unicef alerta que é necessária uma ação urgente para garantir que os recursos educacionais cheguem a todos os alunos.

O relatório apresenta quatro recomendações principais: desbloquear o financiamento público pró-equidade para a educação, priorizar o financiamento público para a aprendizagem fundamental, monitorizar e assegurar a atribuição equitativa de ajuda à educação em contextos humanitários e de desenvolvimento, e investir em formas inovadoras de oferecer educação