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Em cerimônia na ONU, presidente da Colômbia diz que acordo de paz é “luta social”

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, discursa na inauguração do Monumento Kusikawsay na sede da ONU em Nova Iorque
ONU
O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, discursa na inauguração do Monumento Kusikawsay na sede da ONU em Nova Iorque

Em cerimônia na ONU, presidente da Colômbia diz que acordo de paz é “luta social”

Assuntos da ONU

Gustavo Petro participou de atividades no Conselho de Segurança e na Comissão de Construção da Paz destacando progressos e dificuldades na pacificação do país; em doação de monumento à ONU, ele afirmou que a Colômbia está em busca de uma democracia “multicolorida e justa”.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, participa nesta quinta-feira de sessão do Conselho de Segurança sobre os progressos e dificuldades na implementação do Acordo de Paz assinado pelo país em 2016, entre o Governo e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, Farc.

Antes da sessão ele participou de uma cerimônia de inauguração de um monumento doado pela Colômbia à ONU.

Violência persistente

O presente é uma escultura chamada Kusikawsay, feita com o metal fundido de 1,4 tonelada de munição que as Nações Unidas receberam durante a entrega das armas das extintas Farc.

Durante a inauguração, Petro afirmou que “um processo de paz é uma luta social, uma luta política”, travada não apenas pelos políticos, “mas por toda a sociedade”.

Gustavo Petro disse que o monumento representa “uma herança do que resta da história republicana da Colômbia”, e que “a luta do presente é integrar o país numa democracia multicolorida e justa”, tendo em vista a paz.

O presidente referiu-se à violência na Colômbia como “um mal permanente, um vício cultural” e lamentou que, ao contrário de outros países que também sofreram uma violência ainda mais intensa, o seu país não tenha conseguido acabar com ela.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, discursa na inauguração do Monumento Kusikawsay na sede da ONU em Nova Iorque
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O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, discursa na inauguração do Monumento Kusikawsay na sede da ONU em Nova Iorque

O país “mais injusto do mundo”

Petro sustentou que na Colômbia a guerra contra a escravidão foi vencida pelos proprietários de escravos e que isso tornou o país “o mais injusto do mundo”.

Ele argumentou também que a escravatura permanece como uma “cultura clandestina nas elites que lideraram quase hereditariamente o país durante dois séculos” e deixaram como memória “o país mais desigual socialmente”, segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, Ocde.

Após a cerimônia, Gustavo Petro participou numa reunião da Comissão de Consolidação da Paz dedicada à Colômbia, na qual indicou que o processo de paz é um processo de inclusão social do território num órgão nacional.

Nesse fórum, Petro atribuiu grande parte da violência na Colômbia à guerra contra o tráfico de drogas. Segundo ele, se as drogas fossem legais, a guerra na Colômbia terminaria ali mesmo, “simplesmente assim”, “mas como isso não é possível, a guerra continua”, acrescentou.

Inspiração global

O Chefe de Gabinete do secretário-geral da ONU, Courtnay Rattray, esteve presente na cerimônia de inauguração do monumento e entregou uma mensagem em nome do líder da ONU, António Guterres.

De acordo com ele, “o processo de paz na Colômbia continua a ser uma inspiração para o mundo inteiro”, especialmente devido ao fato de ambas as partes antes em conflito estarem trabalhando em conjunto na implementação do Acordo.

Rattray afirmou que “assim como as armas de guerra podem ser transformadas em arte, antigos adversários podem ser transformados em aliados para a paz”.

Quase oito anos depois da assinatura do Acordo de Paz, há muito o que comemorar, mas ainda há um longo caminho a percorrer, alertou o representante da ONU.