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Táticas da indústria do tabaco viciam jovens por toda a vida, alerta OMS

Muitos países têm visto níveis alarmantes de uso de cigarros eletrônicos entre adolescentes
Unsplash/Nery Zarate
Muitos países têm visto níveis alarmantes de uso de cigarros eletrônicos entre adolescentes

Táticas da indústria do tabaco viciam jovens por toda a vida, alerta OMS

Saúde

Relatório expõe como empresas do setor miram ativamente escolas, crianças e jovens com novos produtos saborizados altamente viciantes; agência da ONU pede proibições ou regulamentações rigorosas.

Globalmente, 37 milhões de crianças de 13 a 15 anos consomem tabaco e, em muitos países, a taxa de uso de cigarros eletrônicos entre adolescentes excede a de adultos.

Os dados foram revelados pelo relatório "Capturando a Próxima Geração”, lançado nesta quinta-feira pela Organização Mundial da Saúde, OMS, e a Stop, uma organização de vigilância global da indústria do tabaco.

Marketing e lobby

O documento destaca como a indústria do tabaco e da nicotina cria produtos, implementa campanhas de marketing e trabalha para moldar ambientes políticos para viciar jovens ao redor do mundo.

Na região europeia da OMS, 20% dos jovens de 15 anos entrevistados relataram ter usado cigarros eletrônicos nos últimos 30 dias.

A agência alerta que apesar dos progressos significativos na redução do consumo de tabaco, o surgimento dos cigarros eletrônicos e de outros novos produtos derivados do tabaco e da nicotina representa uma grave ameaça para os jovens e para o controle do consumo. 

Estudos demonstram que o uso de cigarro eletrônico aumenta o uso de cigarros convencionais, particularmente entre jovens não fumantes, em quase três vezes.

Vaping envolve aquecer um líquido e inalar o aerossol nos pulmões
Unsplash
Vaping envolve aquecer um líquido e inalar o aerossol nos pulmões

“Armadilhas viciantes”

O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, afirmou que “a história está se repetindo, na medida em que a indústria do tabaco tenta vender a mesma nicotina para as crianças em embalagens diferentes".

De acordo com ele, "essas indústrias estão mirando ativamente escolas, crianças e jovens com novos produtos que são essencialmente uma armadilha, com sabor de doce” e “altamente viciantes para crianças".

Uma pesquisa nos Estados Unidos descobriu que mais de 70% dos jovens usuários de cigarros eletrônicos parariam se os produtos estivessem disponíveis apenas no sabor do tabaco.

Para o diretor de Promoção da Saúde da OMS, Ruediger Krech, "o uso de sabores adequados para crianças, como algodão doce e chiclete, combinados com designs elegantes e coloridos que se assemelham a brinquedos, é uma tentativa evidente de viciar os jovens nesses produtos nocivos."

Recado das gerações futuras

O diretor da Stop, Jorge Alday, ressaltou que "os jovens viciados representam uma vida inteira de lucros para a indústria". Para o ativista, "é por isso que a indústria pressiona agressivamente para criar um ambiente que torne barato, atraente e fácil para os jovens ficarem viciados”. 

A OMS insta os governos a protegerem os jovens do consumo de tabaco, cigarros eletrônicos e outros produtos de nicotina, por meio de proibições ou regulamentações rigorosas.

As recomendações incluem a criação de locais públicos fechados, 100% livres de fumo, a proibição de cigarros eletrônicos aromatizados, proibições de marketing, publicidade e promoção, impostos mais altos, aumento da conscientização do público sobre as táticas enganosas usadas pela indústria e apoio a iniciativas de educação e conscientização lideradas por jovens.

Organizações juvenis de todo o mundo participaram da última sessão da Conferência das Partes da Convenção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco, COP10. Elas transmitiram uma mensagem poderosa aos formuladores de políticas: "As gerações futuras se lembrarão de vocês como aqueles que os protegeram ou aqueles que falharam e os colocaram em perigo".

O Dia Mundial Sem Tabaco, marcado em 31 de maio, será outra oportunidade onde a OMS pretende ampliar as vozes dos jovens que pedem aos governos que os protejam de serem alvos da indústria do tabaco e da nicotina.