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FAO pede fim da “gentrificação verde” e cita exemplo positivo do Brasil

Os espaços verdes públicos têm um efeito positivo na biodiversidade, no clima, no bem-estar e na qualidade do ar
Unsplash/Nerea Martí Sesarin
Os espaços verdes públicos têm um efeito positivo na biodiversidade, no clima, no bem-estar e na qualidade do ar

FAO pede fim da “gentrificação verde” e cita exemplo positivo do Brasil

Clima e Meio Ambiente

Relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura mostra desigualdade no acesso a espaços verdes; em muitas cidades áreas se localizam em bairros ricos; cidade brasileira de Maringá é destaque por plantio de árvores em periferias; benefícios incluem qualidade do ar e proteção contra o calor.

As florestas urbanas, as árvores e os espaços verdes desempenham um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida, mas os seus benefícios ainda não são igualmente acessíveis a todos, de acordo com um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO

Lançado nesta segunda-feira no 2º Fórum Mundial sobre Florestas Urbanas em Washington, Estados Unidos, o documento “Florestas Urbanas: uma Perspectiva Global” destaca o risco de uma “gentrificação verde”.

Plantio de árvores em países lusófonos

A FAO aponta que em diversas cidades que reconhecem a importância dos espaços verdes, a distribuição é muitas vezes desviada para os bairros mais ricos. Esse processo pode expulsar os residentes que não têm condições financeiras de viver perto dos espaços verdes da cidade.

Em muitos locais, as comunidades mais pobres continuam sendo excluídas do planejamento, concepção e gestão de espaços verdes urbanos.

De acordo com a publicação, dentre os exemplos positivos está a cidade brasileira de Maringá, no Paraná, onde estão sendo plantadas árvores nas zonas mais desfavorecidas da periferia da cidade para ajudar a proporcionar melhor qualidade do ar e sombra aos cidadãos durante os verões tropicais. 

Outros dois países lusófonos citados no relatório são Angola, onde foram plantadas quase 3 mil árvores em áreas urbanas nos últimos anos e Moçambique, que relatou o plantio de 55 mil árvores entre 2018 e 2020. 

Benefícios dos espaços verdes e soluções inclusivas

As florestas e árvores urbanas amortecem o ruído, filtram os poluentes do tráfego e da indústria e têm um efeito positivo na saúde física e mental dos cidadãos. Eles também absorvem carbono e podem ajudar a resfriar o ar da cidade em até 8°C, reduzindo o efeito de “ilha de calor” urbana que pode ser letal durante episódios de ondas de calor.

Segundo o diretor da Divisão Florestal da FAO, Zhimin Wu, “com a projeção de que dois terços da população mundial viverão em áreas urbanas até 2050, os governos e as autoridades de planeamento precisam de garantir que todos, independentemente do seu estatuto socioeconômico, tenham acesso aos muitos benefícios que as árvores e os espaços verdes proporcionam”.

Mais de mil especialistas reúnem-se no Fórum desta semana, que tem como tema “Cidades mais verdes, mais saudáveis ​​e mais felizes para todos”, para discutir as mais recentes investigações e abordagens inovadoras na silvicultura urbana que podem ter um impacto positivo na desigualdade social.

O objetivo do evento é a criação de um plano para tornar a ecologia urbana mais equitativa. A declaração estabelecerá recomendações para os decisores locais combaterem a desigualdade de acesso aos espaços verdes urbanos e às árvores e desenvolverem soluções inclusivas.