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Conflito no Sudão cria a crise de deslocamento que mais cresce no mundo

Refugiados do Sudão esperam para recolher itens de ajuda numa aldeia fronteiriça no Chade.
© Unicef/Donaig Le Du
Refugiados do Sudão esperam para recolher itens de ajuda numa aldeia fronteiriça no Chade.

Conflito no Sudão cria a crise de deslocamento que mais cresce no mundo

Paz e segurança

ONU estima que violência forçou mais de 5,4 milhões de pessoas a abandonar as suas casas; metade dos sudaneses precisa de algum tipo de ajuda humanitária; após fortes chuvas, doenças como a cólera causam preocupação.

À medida que os combates continuam no Sudão, a chefe de ajuda humanitária da ONU no país alerta que o conflito criou “a crise de deslocamentos que mais cresce no mundo”.

De acordo com Clementine Nkweta-Salami, os últimos seis meses causaram um “sofrimento indescritível no Sudão” e forçaram mais de 5,4 milhões de pessoas a abandonar as suas casas.

O conflito no Sudão deslocou milhares de crianças e as suas famílias
Unicef/Ahmed Elfatih Mohamdee
O conflito no Sudão deslocou milhares de crianças e as suas famílias

30 mil pessoas por dia

Falando aos jornalistas em Genebra, a representante especial adjunta do secretário-geral observou que aproximadamente 30 mil pessoas por dia fogem dos combates, “algumas apenas com as roupas do corpo”.

Nkweta-Salami afirmou que testemunhou pessoas em situação de insegurança alimentar e famílias dormindo em abrigos improvisados, sem alimentos, água ou cuidados de saúde.

Conflito pode se espalhar por todo o país 

Segundo a ONU, metade da população do Sudão, ou cerca de 24,7 milhões de pessoas, necessita de assistência humanitária. 

A chefe das Nações Unidas no país também alertou que conflitos, deslocações e surtos de doenças “ameaçam consumir todo o país”.

No mês passado, a organização e os seus parceiros entregaram 3 mil toneladas de suprimentos de ajuda vital.  

Para Nkweta-Salami, a ajuda deve chegar a muito mais sudaneses, de forma segura, consistente e rápida. O objetivo da ONU é alcançar 18 milhões.

Uma mãe leva seu filho doente a um centro de saúde apoiado pelo Unicef no norte de Darfur, durante o conflito em curso no Sudão
Unicef/Mohamed Zakaria
Uma mãe leva seu filho doente a um centro de saúde apoiado pelo Unicef no norte de Darfur, durante o conflito em curso no Sudão

Colheitas ameaçadas

Confrontos com armamento pesado e ataques aéreos eclodiram em 15 de abril entre as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido. Os combates estavam inicialmente nas regiões da capital Cartum e Darfur.

Nkweta-Salami manifestou preocupações de que o conflito pudesse se espalhar ao estado de Gezira, região produtora do Sudão.

Ela alerta que as consequências para a segurança alimentar seriam grandes e observou que a violência já paralisou o setor da saúde do Sudão, com 70% dos hospitais fechados.

Os trabalhadores humanitários estão preocupados com os relatos de casos crescentes de violência sexual e baseada no gênero, desaparecimentos forçados, detenções arbitrárias e graves violações dos direitos humanos e das crianças.

Cólera

Além da destruição da guerra, que já deixou milhares de vítimas, incluindo 19 trabalhadores humanitários, o povo do Sudão também enfrenta crises.

As fortes chuvas que caíram no país causaram e inundações e afetaram mais de 70 mil pessoas em sete estados, trazendo preocupações de um aumento nas doenças transmitidas pela água.

Um surto de cólera foi declarado no estado oriental de Gedaref e as equipes estão investigando se o surto se espalhou para Cartum e Kordofan do Sul.

Cartum, no Sudão
ONU News/Abdelmonem Makki
Cartum, no Sudão

Trabalho humanitários 

Nkweta-Salami explicou que a prestação de ajuda em uma zona de guerra é extremamente complicada, perigosa e demorada, envolvendo muitas vezes negociações com vários grupos armados para acesso a comunidades remotas.

Apesar destes desafios, ela insistiu que as equipes de socorro intensificassem os esforços para chegar às comunidades mais vulneráveis do Sudão. 

A representante da ONU afirma que os trabalhadores humanitários estão empenhados em ultrapassar limites no terreno para alcançar algumas destas áreas de difícil acesso. 

Ela afirma que se for conseguido um compromisso forte e que seja traduzido em ação todas as partes neste conflito, será possível evitar mais mortes entre os trabalhadores humanitários.