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Relatório expõe sofrimento de civis e violações cometidas pela Rússia na Ucrânia

Um sinal de alerta sobre minas em Lyman, Ucrânia
Unicef/Aleksey Filippov
Um sinal de alerta sobre minas em Lyman, Ucrânia

Relatório expõe sofrimento de civis e violações cometidas pela Rússia na Ucrânia

Paz e segurança

Cerca de 20 meses após o início da guerra, população ucraniana é afetada por alto número de mortos e feridos, pobreza, violação de direitos e legado de destruição; autoridades russas são acusadas de tratamento degradante, bloqueio a monitores da ONU e falta de ação para devolução de crianças deportadas.

Seis civis mortos e 20 feridos por dia. Essa é a média de afetados pela guerra na Ucrânia nos últimos seis meses, segundo a Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos da ONU na Ucrânia.

Um relatório divulgado nesta quarta-feira revela que ataques com mísseis contra áreas residenciais e infraestruturas vitais, bem como instalações agrícolas e de grãos, muitas vezes localizadas longe das áreas da linha de frente, continuam a semear o medo e a destruição em toda a Ucrânia.

Legado “horrível”

A missão afirma que civis em áreas ocupadas pela Rússia enfrentam tortura, maus-tratos, violência sexual e detenção arbitrária. Centenas permanecem presos, com suas famílias sem saber de seu destino.

A chefe do grupo de monitoramento, Danielle Bell, disse que "a guerra causou estragos na vida de milhões de ucranianos, incluindo crianças que terão que viver por muitos anos com um legado horrível de perda humana, destruição física, danos ambientais, particularmente a contaminação por resíduos explosivos de guerra."

O conflito também fez com que milhões de civis ucranianos caíssem abaixo da linha da pobreza. Essa situação foi exacerbada por amplos danos econômicos e sociais causados por ataques a infraestruturas vitais e instalações agrícolas.

Um exemplo disso foi a destruição da barragem de Khakovka no início deste ano. O ato provocou grandes inundações e causou um desastre ambiental que terá efeitos a longo prazo sobre os direitos e o bem-estar das pessoas que vivem na área.

A cidade de Chernihiv, no norte da Ucrânia, tem sido alvo de ataques desde os primeiros meses da guerra
Pnud/Oleksandr Ratushniak
A cidade de Chernihiv, no norte da Ucrânia, tem sido alvo de ataques desde os primeiros meses da guerra

Tratamento degradante

O relatório da ONU reforça a documentação de tortura generalizada e maus-tratos contra civis e prisioneiros de guerra pelas autoridades russas, incluindo espancamentos graves, eletrocussão, execuções simuladas, violência sexual e tratamento degradante.

Segundo o documento, as condições de detenção continuaram incluindo: falta de alimentos e serviços médicos, superlotação, condições precárias de vida e saneamento, privação de sono e nenhum acesso ao mundo exterior. 

Até o momento, a Rússia se recusou a permitir qualquer acesso aos monitores de direitos humanos da ONU.

Em contraste, o relatório observa que a Ucrânia continua a conceder aos monitores de direitos humanos acesso irrestrito a prisioneiros de guerra detidos. Além disso, a missão ressaltou que as condições no complexo prisional perto da cidade de Lviv, no oeste do país, melhoraram.

Troca de nacionalidade forçada

Nas áreas ocupadas, o relatório forneceu exemplos de que a Rússia introduziu seus próprios sistemas administrativos e educacionais. 

A missão afirma que os civis em território ocupado pela Rússia sofrem pressão para aceitar a cidadania russa, com as autoridades ocupantes fazendo o acesso a cuidados de saúde, pensões e outros benefícios básicos depender da aceitação da nacionalidade russa. 

Segundo o levantamento, os residentes do sexo masculino das áreas ocupadas enfrentaram intimidação, em um esforço para coagi-los a se juntar às forças armadas russas.

O relatório levantou preocupações sobre o destino de crianças ucranianas, que foram transferidas de seus locais regulares de residência para outros locais dentro das áreas ocupadas pela Rússia ou deportadas para o país.

Os especialistas observam que as autoridades russas até agora não conseguiram identificar as crianças e reuni-las com suas famílias e pedem o retorno de todos os deportados e transferidos, incluindo crianças e pessoas com deficiência.

O relatório, em inglês, está disponível aqui.