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Entenda a crise no Sudão, onde existe muita coisa em jogo para toda a África

 Um centro de trânsito de emergência do Acnurem Renk, no Sudão do Sul, está recebendo deslocados do Sudão
Acnur/Charlotte Hallqvist
Um centro de trânsito de emergência do Acnurem Renk, no Sudão do Sul, está recebendo deslocados do Sudão

Entenda a crise no Sudão, onde existe muita coisa em jogo para toda a África

Paz e segurança

O Sudão vive uma transição turbulenta para o governo civil desde a derrubada do ex-presidente Omar Hassan El-Bashir, em abril de 2019; governo de transição, liderado por civis, que resultou de acordo entre líderes militares e civis, foi derrubado por golpe militar em outubro de 2021.

Desde então, o país está sem um governo civil.

Um processo político subsequente, facilitado conjuntamente pelas Nações Unidas, a União Africana e a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento, Igad, resultou na assinatura de um acordo em dezembro de 2022.  O esforço envolveu os militares e alguns dos principais atores políticos civis, dando início a uma tentativa de restaurar um governo civil democrático.

Em paralelo, a economia do Sudão passa por dificuldades. Os confrontos comunitários e outros atos de violência armada aumentaram. A população sofre as piores consequências, com muitas vidas perdidas e casas destruídas na região de Darfur e nos estados de Cordofão do Sul e Nilo Azul.

A contínua crise agravou a marginalização e as queixas políticas, bem como os conflitos não resolvidos sobre a propriedade da terra.

Um grupo de refugiados do Sudão descansa debaixo de uma árvore depois de cruzar para o Chade
Unicef/Donaig Le Du
Um grupo de refugiados do Sudão descansa debaixo de uma árvore depois de cruzar para o Chade

Desafios complexos

Os desafios que o Sudão enfrenta são muitos, incluindo necessidades humanitárias e econômicas urgentes, a garantia da segurança e da justiça, o respeito pelos direitos humanos, a pacificação e o avanço da transição democrática.

Apesar disso, após a assinatura do acordo político em dezembro de 2022, o processo continuou progredindo no início deste ano. Os esforços se concentraram na resolução de questões pendentes que abririam caminho para uma concertação política final.

Em março, o representante especial do secretário-geral para o Sudão, Volker Perthes, informou que as partes interessadas sudanesas estavam "mais próximas do que nunca" de um acordo e do retorno a um governo civil.

Novos embates atrapalham negociações políticas

Mas essas esperanças foram frustradas quando os combates eclodiram em 15 de abril entre as Forças Armadas Sudanesas, SAF, lideradas pelo general Abdel-Fattah Al-Burhan, e as Forças de Apoio Rápido, RSF, chefiadas pelo general Mohamed Hamdan Dagalo, também conhecido como Hemedti, deixando centenas de mortos e milhares de feridos.

Mesmo antes do início dos combates, as necessidades humanitárias em todo o Sudão já haviam atingido níveis recordes, com 15,8 milhões de pessoas ou cerca de um terço da população total precisando de assistência humanitária este ano. A violência mais recente levou à escassez aguda de alimentos, água, medicamentos e combustível. Ao mesmo tempo, o preço de itens essenciais, incluindo transporte, disparou.

O país também acolhe mais de 1 milhão de refugiados e requerentes  de asilo, incluindo do Sudão do Sul, Eritreia, Síria, Etiópia, República Centro-Africana, Chade e Iêmen. O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu às partes que cessem imediatamente a violência e permitam que todos os civis evacuem as áreas afetadas pelos combates.

Refugiados do Sudão continuam a chegar ao Chade
Unicef/Donaig Le Du
Refugiados do Sudão continuam a chegar ao Chade

A ONU no Sudão

A ONU tem apoiado a transição democrática sudanesa através dos esforços da Missão de Assistência Integrada à Transição das Nações Unidas no Sudão, Unitams, uma missão política especial chefiada pelo representante especial Volker Perthes.

Embora centenas de funcionários das Nações Unidas e suas famílias tenham sido temporariamente realocados dentro do Sudão ou evacuados para fora do país, a organização se comprometeu a continuar com seu trabalho de auxílio.

As equipes, dentro e fora do país, estão focando nas seguintes prioridades imediatas: um cessar-fogo sustentado por um mecanismo de monitoramento; o regresso às negociações políticas; e o alívio do sofrimento humano.