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OIT no Brasil diz que todos podem ajudar a manter saúde mental no trabalho

OIT lançou um alerta para melhorar a saúde mental dos trabalhadores, especialmente após a pandemia
Unsplash/Dmitry Schemelev
OIT lançou um alerta para melhorar a saúde mental dos trabalhadores, especialmente após a pandemia

OIT no Brasil diz que todos podem ajudar a manter saúde mental no trabalho

Saúde

Em entrevista à ONU News, diretor da agência no país, Vinícius Pinheiro, diz que pandemia agravou sintomas como ansiedade, exaustão mental e estresse; para ele, é preciso estar alerta e rejeitar estigmas sobre o tema; OIT apoia campanha sobre saúde mental “janeiro branco”.

 

A Organização Internacional do Trabalho, OIT, lançou um alerta para melhorar a saúde mental dos trabalhadores, especialmente após a pandemia.

Durante a apresentação do relatório “Horas Trabalhadas e Equilíbrio de Trabalho pelo Mundo”, esta semana, a agência da ONU falou dos efeitos do confinamento durante a crise global de Covid-19 para empregados em todo o globo.

Faca de dois gumes

Em março de 2022, a Organização Mundial da Saúde, OMS, divulgou uma pesquisa indicando que a pandemia havia levado ao aumento de 25% nos casos de depressão e ansiedade. E os jovens eram os mais afetados.

A ONU News conversou com o diretor da OIT para o Brasil, Vinícius Pinheiro, de Brasília, sobre o trabalho remoto, que segundo ele passou a ser uma modalidade predominante.

“O trabalho remoto veio para ficar. Em outros casos, ele chegou num contexto em que não havia uma regulação bem definida. Então, por exemplo, América Latina e grande parte dos países, a partir da pandemia, começou a pensar o trabalho remoto como uma modalidade predominante. Antes, era uma exceção e agora, depois da pandemia, passou a ser a regra. E agora, os modelos híbridos de trabalho, você tem uma coexistência do trabalho remoto e presencial, estão ganhando bastante espaço. Mas é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que o trabalho remoto pode beneficiar sim um maior equilíbrio entre família e trabalho, ele também pode servir para dinamitar contradições dentro do ambiente familiar e dinamitar barreiras que existem entre o profissional e o familiar.”

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Unsplash/Eric Ward

Mulheres, crianças e jovens correm maior risco

Em outubro passado, um outro estudo da Fundação Catar, apoiado pela OMS,  revelava que de 23% a 46% dos trabalhadores de saúde e cuidados haviam reportado sintomas de ansiedade durante a pandemia. E de 20% a 37% tinham registrado sinais de depressão.

Já os episódios de burnout ou exaustão em agentes de saúde durante a pandemia oscilaram entre 41% a 52%. Mulheres, jovens e pais com crianças pequenas sofriam o maior risco de distúrbios psicológicos significativos.

Para o diretor da Organização Internacional do Trabalho no Brasil, Vinícius Pinheiro, todos podem ajudar a identificar colegas com risco de problemas mentais e apoiar em várias dimensões.

Preocupação coletiva

“É importante que o empregador esteja atento. E que canais e mecanismos para que de forma confidencial, os empregados que estejam estressados ou com sintomas de alguns desses problemas possam se manifestar e possam buscar apoio.

É um apoio que vai ter múltiplas dimensões.

E por outro lado, não somente o empregado, mas também os colegas. Uma coisa é uma pessoa que esteja sofrendo de ansiedade ou burnout, depressão ou esteja abusando de substâncias num contexto de confinamento. Onde os colegas vão ver essa pessoa numa tela e, de repente, não vão conseguir compreender qual é o estado de saúde mental, emocional da pessoa. Outra coisa é que essa pessoa esteja num ambiente coletivo, de trabalho.  Eu creio que é uma preocupação coletiva. Não somente da pessoa que tem sintomas, mas também dos colegas.”

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Foto: Unsplash

Pagamento desigual

O estudo da Fundação Catar e OMS indica que as mulheres, que formavam 67% da força de trabalho global, seguiam sujeitas a desigualdades no setor incluindo o pagamento desigual entre homens e mulheres trabalhadores. Já os profissionais de saúde mais jovens tinham maior risco de saúde mental, o que se manteve uma preocupação para a OMS.

Para o diretor da OIT no Brasil, o combate tem que ser também contra os estigmas.

“E aí, a questão de não ter o preconceito tem que ser colocada à parte. É fundamental que todos entendam que essa é a segunda pandemia que vem. É uma pandemia não declarada.

Dados da OMS mostram que 15% da população mundial sofrem de algum tipo de problemas de ansiedade e que esse número aumentou bruscamente a partir da pandemia. É um contexto, em que claro, você está tentando sobreviver.

Você teve perdas familiares, em alguns casos, alguns perderam emprego, perderam renda. Então, o que estamos vivendo hoje é quase um estresse pós-traumático, que alguns soldados que voltam da guerra sofrem.

E a pandemia deixou essa cicatriz que está aberta no ambiente de trabalho e de profissionais. Então é fundamental que dentro da empresa existam canais de comunicação e todos os sistemas vigilantes.”

Campanha Janeiro Branco

A OIT no Brasil está apoiando a campanha “Janeiro Branco” que tem como tema “a vida pede equilíbrio” sobre saúde mental.

O objetivo é prevenir estresse, depressão e transtornos mentais.

A iniciativa também tem o apoio do Tribunal Superior do Trabalho e do Sistema Único de Saúde, SUS.