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OMS cita eventos extremos, como enchentes, ciclones e secas, por reduzirem ainda mais o acesso à água potável

OMS alerta sobre “surtos mais fatais” de cólera em 27 países

© Unicef/Jonathan Crickx
OMS cita eventos extremos, como enchentes, ciclones e secas, por reduzirem ainda mais o acesso à água potável

OMS alerta sobre “surtos mais fatais” de cólera em 27 países

Ajuda humanitária

Haiti anunciou sete mortes e dezenas de casos; agência da ONU diz que ilha caribenha preocupa porque estava prestes a ser certificada como livre da doença; mudanças climáticas contribuem para alastramento de ocorrências pelo mundo.

A Organização Mundial da Saúde, OMS, relatou um novo surto de cólera em 27 países.

Falando a jornalistas nesta quarta-feira, em Genebra, o diretor geral da agência Tedros Ghebreyesus, citou a situação do Haiti, onde ocorre um número raro de óbitos pela doença.

Porto Príncipe

O chefe da OMS conta que não houve somente uma alta de surtos de cólera no mundo, mas também de surtos mortais. Segundo Tedros, uma média quase três vezes maior, que a dos últimos cinco anos, está ocorrendo em várias partes do globo.

Diretor-geral da OMS ressaltou que a doença, geralmente impulsionada pela pobreza e pelo conflito, agora é agravada pelas mudanças climáticas
Unicef/Asad Zaidi

A Síria, por exemplo, registrou mais de 10 mil casos suspeitos de cólera, nas últimas seis semanas.

Já no Haiti, a situação é ainda mais grave porque o país estava prestes a ser declarado livre da doença. Agora, após mais de três anos sem casos, houve duas notificações de cólera na capital Porto Príncipe. Em outras partes da ilha, sete pessoas morreram.

Para Tedros, o número real de casos pode ser bem maior. O diretor-geral da OMS destaca a falta de acesso global a intervenções simples, que incluem a prevenção com vacinas e mais acesso à água potável e ao saneamento. Entre as medidas facilmente adaptáveis para tratamento, a agência listou ainda a reidratação oral ou antibióticos para casos mais graves.

Pobreza e conflito

Cerca de 27 milhões de doses do estoque internacional de vacinas contra cólera foram enviadas aos países no ano passado. Mas com o atual aumento de surtos, a oferta não acompanha a demanda. O apelo feito aos grandes fabricantes de vacinas é que abordem com a OMS as possibilidades de maior produção.

O chefe da agência ressaltou que a doença, geralmente impulsionada pela pobreza e pelo conflito, agora é agravada pelas mudanças climáticas.

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Tedros Adhanom Ghebreyesus. Foto: ONU/Daniel Johnson

 

A OMS cita eventos extremos, como enchentes, ciclones e secas, por reduzirem ainda mais o acesso à água potável e criar o ambiente ideal para a propagação da doença mortal, que é evitável e tratável.

Custo-benefício da vigilância

Tedros falou ainda de diferentes condições de saúde, como o recente surto de ebola que já matou 29 pessoas em Uganda.

As enchentes no Paquistão provocaram casos de malária, cólera, dengue e o aumento de infecções de pele.

Estas situações ocorrem em meio a uma realidade em que o mundo lida com a Covid-19, a varíola dos macacos e a ameaça da gripe sazonal.

A agência revelou que em Gâmbia o consumo de medicamentos contaminados estaria ligado a lesões renais agudas que causaram 66 mortes em crianças.

Para o diretor-geral da OMS, estas situações combinadas são exemplos da urgência de investimentos nacionais e global necessários para reforçar a defesa contra surtos e da importância do custo-benefício na vigilância de doenças e oferta de cuidados primários.