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Com inverno próximo, apoio aos afegãos é prioridade BR

Além de conflitos, pobreza, choques climáticos e insegurança alimentar, o Afeganistão sofre com o corte em grande escala da ajuda ao desenvolvimento
Unicef/Siegfried Modola
Além de conflitos, pobreza, choques climáticos e insegurança alimentar, o Afeganistão sofre com o corte em grande escala da ajuda ao desenvolvimento

Com inverno próximo, apoio aos afegãos é prioridade

Ajuda humanitária

Coordenador humanitário pede que comunidade internacional siga cumprindo a “obrigação moral” de apoiar o país; cerca de US$ 154 milhões são necessários nas próximas semanas para fornecer auxílio para estação fria.

As Nações Unidas estimam que 19 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar aguda no Afeganistão.

O subsecretário-geral para os Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, alertou ao Conselho de Segurança que é preciso ter US$ 154 milhões ao dispor para posicionar o auxílio antes que o inverno impossibilite o acesso a certas áreas. Os artigos essenciais incluem alimentos e meios de subsistência.

Explosivos 

O chefe interino da Missão da ONU no Afeganistão, Unama, focou na questão da insegurança. Potzel Markus disse ao Conselho que nas últimas três semanas foram observados os números mais altos da violência desde meados de agosto de 2021, com a série de explosivos improvisados detonados contra civis na capital, Cabul. Os atos foram reivindicados em sua maioria pelo grupo Isil-K. 

Homens trabalham em Cabul, capital do Afeganistão.
Foto: UNAMA/Freshta Dunia
Homens trabalham em Cabul, capital do Afeganistão.

 

Markus defende que as autoridades de facto escutem todos os setores sobre o que deve ser feio para assegurar maior segurança para as comunidades étnicas e religiosas que são alvos desses atos. 

Numa realidade em que cerca de 6 milhões de afegãos enfrentam o risco de passar fome, agências humanitárias esperam recursos do apelo de US$ 3,14 bilhões lançado para este ano. Desse total, US$ 614 milhões devem ser urgentemente dedicados ao auxílio através de atividades prioritárias de preparação para o inverno.

De acordo com o chefe humanitário da ONU, os 24 milhões de pessoas necessitadas representam mais da metade da população afegã. As crianças gravemente desnutridas chegam a 3 milhões, e um terço delas apresenta os casos mais graves. Elas correm risco de vida se não houver tratamento especializado.

Pobreza

A situação crítica é alimentada por secas recorrentes, incluindo a pior em três décadas que assolou o país no ano passado “cujos efeitos ainda perduram”. Cerca de 25 milhões de pessoas vivem agora na pobreza, onde três quartos do rendimento são gastos em alimentação.

Sede do Ocha em Cabul, no Afeganistão
Foto: OCHA/Pierre Peron
Sede do Ocha em Cabul, no Afeganistão

A ONU ressalta que houve declínio para metade nas famílias que recebem remessas. O desemprego pode chegar a 40% numa realidade onde a inflação está aumentando com a subida dos custos em nível global, as restrições nas importações e a desvalorização da moeda afegã.

Além de conflitos, pobreza, choques climáticos e insegurança alimentar, o Afeganistão sofre com o corte em grande escala da ajuda ao desenvolvimento, o ambiente operacional excepcionalmente desafiador para a ação humanitária e as disparidades nos direitos que afetam mulheres e meninas.

O chefe humanitário recomendou que as autoridades de facto do Afeganistão deixem de interferir de forma burocrática e com procedimentos que retardam a assistência, permitam a atuação sem impedimentos e com segurança de trabalhadoras do ramo, e também que as meninas continuem com sua educação.

Griffiths encerrou ressaltando que o povo afegão mostrou um alto nível de resiliência por décadas ao pedir que o mundo continue demonstrando sua firmeza como “obrigação moral” .