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Fome crescente na América Latina aumenta fluxos migratórios, alerta ONU BR

Famílias de Honduras caminham pela fronteira da Guatemala.
Foto: © WFP/Julian Frank
Famílias de Honduras caminham pela fronteira da Guatemala.

Fome crescente na América Latina aumenta fluxos migratórios, alerta ONU

Direitos humanos

Programa Mundial de Alimentos, PMA, diz que região tem 11% das pessoas em situação de insegurança alimentar moderada e grave; contexto global pode aprofundar crise e afetar cerca de 14 milhões; fluxo migratório da Passagem de Darien, no Panamá, disparou após 2020.

Um número cada vez maior de pessoas ​​está arriscando suas vidas em rotas migratórias perigosas na América Latina. Elas são forçadas a deixar suas comunidades por causa da crise global de segurança alimentar. A ameaça de fome foi agravada com taxas altas de inflação e as consequências da guerra na Ucrânia.

A afirmação é da diretora regional do Programa Mundial de Alimentos na América Latina e Caribe, Lola Castro. Nesta terça-feira, ela falou a jornalistas em Genebra, na Suíça.

Em 2021, 151 mil pessoas atravessaram a selva de Darién.
© IOM/Gema Cortés
Em 2021, 151 mil pessoas atravessaram a selva de Darién.

Tendência negativa

Lola Castro afirma que América Latina e Caribe já mostravam sinais de recuperação no final de 2021 e o número de pessoas em insegurança alimentar grave havia caído para 8,3 milhões após chegar a 17,2 milhões durante a crise da Covid-19.

Atualmente, dos 2,3 bilhões de pessoas em insegurança alimentar moderada e grave no mundo, 11% vivem em países latino-americanos e caribenhos.

Os dados mais recentes do PMA indicam que 9,7 milhões de pessoas estão em extrema insegurança alimentar nos 13 países, onde o PMA tem presença.

Segundo Lola Castro, a tendência aponta que esse número pode subir para até 14 milhões de pessoas, se aproximando dos níveis máximos alcançados no auge da pandemia.

Ela lembra que os preços do combustível e da energia são “um grande problema” para quem vive em condições precárias. Nos últimos dois anos, o custo no frete de uma tonelada de alimentos na região aumentou em sete vezes.

O efeito combinado de múltiplos fenômenos climáticos, com a pandemia em curso e a crise alimentar, de combustível e financeira ligada à Ucrânia criam dificuldades para atender a necessidade urgente de assistência alimentar nos países.

Migrantes fazem fila em Lajas Blancas, no Panamá, após cruzarem a selva de Darien
OIM/Gema Cortes
Migrantes fazem fila em Lajas Blancas, no Panamá, após cruzarem a selva de Darien

Migrantes desesperados

De acordo com a diretora do PMA na América Latina e Caribe, a deterioração das condições de vida deixou pouca opção as pessoas a não ser fugir de suas comunidades mesmo com risco de morte. Um desses grupos são migrantes haitianos que, durante a pandemia, foram para Brasil e Chile à procura de trabalho. Muitos fizeram caminhos perigosos.

Lola Castro citou casos de uma migração hemisférica com todas as Américas em movimento e não somente a rota que levava à América do Norte.

Perigo na selva de Darien

Para a representante do PMA, um dos sinais mais claros do desespero das pessoas é o fato de que elas estão dispostas a arriscar suas vidas atravessando a Passagem de Darien, uma rota de floresta fechada, árdua e perigosa na América Central que permite o acesso do sul do continente ao norte.

Lola Castro afirmou que em 2020, 5 mil pessoas fizeram esse caminho, migrando da América do Sul para a América Central. No ano seguinte, foram 151 mil pessoas na perigosa travessia de 10 dias.

Ela explicou que os migrantes deixam suas casas por terem perdido tudo para a “crise climática” e insegurança alimentar. E outro fator da migração são violência e criminalidade em comunidades.

Dados da ONU indicam que das 69 economias que estão passando por choques alimentares, energéticos e financeiros, 19 estão na região da América Latina e Caribe.