ONU divulga guia sobre ações para erradicar bombas de fragmentação
Uma década após o Tratado de Proibição de Minas entrar em vigor, os países realizam a segunda Conferência de Revisão para monitorar o progresso da implementação de medidas; no ano passado, 2,2 mil pessoas morreram em explosões de minas terrestres e 5,5 mil ficaram feridas.
Em fevereiro próximo, os Estados-partes devem realizar a segunda Conferência de Revisão do Tratado de Proibição de Minas Terrestres.
Os signatários do documento reúnem-se todos os anos para discutir avanços na eliminação dessas munições que incluem as bombas de fragmentação.
Combates
Espalhadas por áreas vastas, essas bombas seguem arrasando a vida de civis mesmo após o fim de combates e conflitos.
A Conferência de Revisão, presidida pelo embaixador Félix Baumann, da Suíça, é apoiada por organizações internacionais e representantes da sociedade civil. O objetivo é revisar o quadro atual e acordar um plano para os próximos cinco anos.
Os países que firmaram o Tratado atuam para limpar as bombas de fragmentação deixadas por conflitos e guerras, tornando as cidades mais seguras, e ajudando produtores rurais a cultivarem suas plantações de forma segura.
Um outro pronto é a proteção de crianças que caminham por essas áreas, muitas vezes a pé, para ir à escola. Os signatários também fornecem apoio aos sobreviventes dessas explosões.
Neste guia, a ONU explica cinco ações para eliminação das bombas de fragmentação, que somente no ano passado mataram mais de 2,2 mil pessoas e deixaram 5,5 mil feridas.
O que são as bombas de fragmentação e por que elas são tão perigosas?
Essas bombas são jogadas pelo ar ou lançadas do terreno. Elas se espalham no meio do ar liberando centenas de pequenas bombar e munições menores que podem preencher áreas inteiras num tamanho equivalente ao de vários campos de futebol.
Com isso, qualquer pessoa que circule por essas áreas, incluindo civis, corre o risco de ser ferido ou morto por estes dispositivos. As munições menores, às vezes, não explodem imediatamente ficando adormecidas no local e capazes de serem detonadas muitos anos após o fim do conflito.
As vítimas destes armamentos são frequentemente civis incluindo crianças. Muitos feridos acabam tendo que viver para sempre com a deficiência causada pela bomba. Vários sobreviventes têm dificuldade para trabalhar e sofrem estigma e discriminação em suas comunidades.
As bombas de fragmentação por explodir também tornam o cultivo da terra altamente perigoso impedindo a economia local e o desenvolvimento.
Mini Phantthavong, de Laos, um dos países mais afetados por esse tipo de explosivos, contou que se preocupa a cada passo que dá na área marcada por causa do risco de acidentes com as bombas principalmente nas áreas agrícolas.
O que a comunidade internacional está fazendo?
Ao trabalhar de perto com a sociedade civil e as organizações internacionais, os Estados conseguiram negociar a Convenção sobre Bombas de Fragmentação, que se tornou lei internacional juridicamente vinculativa em 1 de agosto de 2010. Até o momento, 110 países aderiram à Convenção e se comprometeram a implementar todas as obrigações.
O documento aborda três grandes áreas. A primeira, os países que firmaram o tratado visam a prevenir qualquer dano causado pelas bombas ao concordarem com uma proibição completa do uso dessas munições, desenvolvimento, produção, estoques, retenção e transferência. Em segundo lugar: as medidas de mitigação da Convenção requerem que esses Estados destruam seus estoques, limpe as áreas contaminadas e forneçam assistência médica, psicológica e de reabilitação para as vítimas. Por último, o tratado pede a cooperação internacional para implementar essas obrigações.
Como a ONU participa destes esforços globais?
As Nações Unidas apoiam parcerias entre governos e entidades da sociedade civil que trabalham para eliminar essas munições em todas as partes do mundo. O sucesso no avanço universal é essencial para fortalecer as normas da Convenção. Por isso, o secretário-geral da ONU realiza chamados regulares aos países que ainda não se juntaram ao Tratado, para que o façam.
O Escritório da ONU para o Desarmamento em Genebra ( United Nations Office for Disarmament Affairs ) atua de perto com a Unidade de Apoio à Implementação ( Implementation Support Unit ) da Convenção. O órgão funciona fora da ONU e aconselha os Estados-partes, e os que não são parte do documento sobre temas ligados às medidas de erradicação das bombas. O Escritório da Assuntos de Desarmamento também realiza encontros dos Estados-partes e as conferências de revisão da Convenção.
Já o Serviço da ONU de Ação contra Minas preside o Grupo de Coordenação das agências da organização engajadas no tema. O Unmas, na sigla em inglês, também atua ainda na pesquisa e atividades de desminagem para reduzir ameaças de explosivos. No ano passado, o Unmas ajudou a limpar áreas infestadas por munições no Sudão do Sul. Essas atividades foram complementadas por atividades educativas para promover o comportamento seguro em áreas de minas como também o apoio econômico, físico e psicológico às vítimas desses explosivos incluindo bombas de fragmentação.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, atua no desenvolvimento e implementação de programas educativos sobre os riscos de bombas de fragmentação e assiste sobreviventes com cuidados médicos, próteses, apoio mental e emocional e acesso à educação. Desde 2014, o Unicef tem apoiado 24 milhões de crianças em 25 países, a maioria em regiões afetadas por conflitos.
Nesta mesma época, o Unicef ajudou crianças em mais de 10 nações que se recuperavam de ferimentos causados por bombas de fragmentação e outras munições remanescentes de guerras.
Qual é a diferença que a Convenção faz?
Até o momento, os Estados-partes destruíram coletivamente milhões de bombas de fragmentação e cem milhões de submunições. Além disto, mais de 500 km2 de terra foram limpos de remanescentes dessas bombas e retornaram às comunidades afetadas para cultivo. Este é um passo fundamental para se alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Vários países na Convenção já adotaram legislações específicas para implementar as medidas do tratado, e muitos proibiram várias formas de investimentos financeiros que estejam associados a atividades de produção de bombas de fragmentação.
A alta representante da ONU para o Desarmamento, Izumi Nakamitsu, afirmou que a implementação da Convenção tem sido bem-sucedida e é digna de aplausos.
Por que é necessário obter um mundo livre de bombas de fragmentação?
Com a destruição de cada bomba, pessoas como Phantthavong, de Laos, viverão mais seguras e sem a iminência da ameaça desses armamentos. A eliminação de todas as bombas de fragmentação libertará o mundo de uma fonte importante de morte, ferimentos e medo.