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Número de vítimas de minas terrestres cresce pelo quarto ano consecutivo BR

Engenheiro de minas trabalha no Afeganistão
Foto ONU/Unmaca
Engenheiro de minas trabalha no Afeganistão

Número de vítimas de minas terrestres cresce pelo quarto ano consecutivo

Paz e segurança

No ano passado, 6.897 pessoas foram mortas ou feridas por este tipo de armamento; países-membros do Tratado de Proibição de Minas se reúnem em Oslo na próxima semana para avaliar progressos dos últimos 20 anos.

Pelo quarto ano consecutivo, subiu o número de vítimas causada por minas terrestres. Em 2018, pelo menos 6.897 pessoas morreram ou ficaram feridas por este tipo de armamento.

A informação faz parte do Monitor de Minas Terrestres 2019, publicado esta quinta-feira. Segundo o documento, o aumento de vítimas é uma “tendência perturbadora.”

Funcionários da ONU fazem trabalho de descontaminação de minas em Torit, Sudão do Sul
Funcionários da ONU fazem trabalho de descontaminação de minas em Torit, Sudão do Sul, Foto ONU/Martine Perret

Tendência

Conflitos armados e violência em larga escala, particularmente em países como Afeganistão, Mali, Mianmar, Nigéria, Síria e Ucrânia, são as grandes causas destes números.

Desde 1999, a quantidade mais baixa foi registrada em 2013, quando foram registadas 3.457 baixas. O número atual representa quase o dobro desse recorde.

Os autores do relatório afirmam, no entanto, que existe dificuldade em recolher dados em zonas de conflito. Por isso, a quantidade de vítimas deve ser ainda maior.

Assim como em anos anteriores, a grande maioria das vítimas eram civis, cerca de 71%. Mais da metade, 54%, eram crianças. A taxa de vítimas infantis aumentou 12% nos últimos dois anos.

Desde 1999, estes dispositivos causaram 130 mil vítimas. Cerca de 90 mil pessoas sobreviveram.

Lusófonos

Em outubro desse ano, 59 Estados e regiões tinham minas terrestres plantadas em seu território. Segundo o relatório, Angola está entre os países com contaminação maciça, junto do Afeganistão, Bósnia e Herzegovina, Camboja, Chade, Croácia, Iraque, Tailândia, Turquia e Iêmen.

Por outro lado, Moçambique integra o grupo de Estados que completou o processo de desminagem nos últimos cinco anos, acompanhado pela Argélia, Burundi, Mauritânia e Montenegro.

Em 2018, pelo menos 140 km² foram ficaram livres destes explosivos. Em cinco anos, mais de 800 km² foram limpos.

Desde que o Tratado de Proibição de Minas entrou em vigor, 31 Estados concluíram os processos de desminagem. Até 2025, 27 países-membros devem concluir esse processo.

Balanço

Veículo limpa estrada de minas terrestres
Veículo limpa estrada de minas terrestres, by Unmas

Na próxima semana, países-membros do Tratado de Proibição de Minas se reúnem em Oslo, na Noruega, para fazer um balanço dos progressos alcançados nos últimos 20 anos.

Neste momento, 164 Estados fazem parte do tratado sobre o tema. Apenas Mianmar, que não adotou o documento, e um pequeno número de grupos armados não estatais continuam usando os dispositivos.

Em nota, o diretor da divisão sobre armamento da ONG Human Rights Watch, Steve Goose, diz que “a história de 20 anos do Tratado é mais do que impressionante.”

Segundo o especialista, “este é o tratado humanitário mais bem-sucedido de todos os tempos.” Goose diz que o documento criou um forte estigma sobre a arma e fez uma tremenda diferença nas comunidades afetadas, salvando “dezenas ou até centenas de milhares de vidas.”

Em 1999, existiam cerca de 160 milhões de minas terrestres no mundo. Hoje, estima-se que existam menos de 50 milhões.

Apoio

Em 2018, países-membros e doadores investiram quase US$ 700 milhões neste combate, uma diminuição de US$ 95 milhões em comparação com o ano anterior. Ainda assim, foi o segundo ano em que mais dinheiro foi gasto nesta luta.

Os fundos foram, sobretudo, investidos em cinco países: Afeganistão, Croácia, Iraque, Laos e Síria. O apoio às vítimas foi concentrado no Iraque, no Afeganistão, no Iêmen e na Síria.

Apesar dos esforços, no ano passado a maioria dos Estados não tinha os recursos necessários para cumprir os compromissos assumidos no Plano de Ação de Maputo, adotado em 2014.

O relatório aponta esforços para melhorar a qualidade dos cuidados de saúde prestados a sobreviventes, mas sublinha que as necessidades permanecem grandes.

Aumenta o número de vítimas de minas terrestres pelo quarto ano consecutivo