Chefe da ONU pede que resoluções do Conselho de Segurança sejam respeitadas BR

Em entrevista a correspondentes, em Nova Iorque, António Guterres afirmou que decisões do órgão são “desrespeitadas antes de a tinta secar”; ele também alertou para perigo de narrativas populistas, tensões e agravamento da pobreza.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que o vento de esperança que parecia soprar sobre o globo, no ano passado, está dando lugar ao que chamou de um “vento de loucura”.
Guterres apresentou a metáfora durante sua entrevista a jornalistas na sede da ONU, nesta terça-feira.
Despite often deep divisions among Member States, I'm determined that we keep listening to people, speaking out for reason, holding fast to principles, guided by the values of the UN Charter.That’s how we will break the vicious circles and deliver for people - @antonioguterres pic.twitter.com/z4ZiLxlgjy
UN_Spokesperson
Segundo ele, “tudo mudou” e os sinais de mudança e progresso que marcaram o final de 2019 desapareceram.
António Guterres destacou conflitos na Líbia, no Iêmen e na Síria, e disse que “todas as situações são diferentes, mas há uma sensação de crescente instabilidade e tensões, que tornam tudo muito mais imprevisível e incontrolável, com maiores riscos de erro de cálculo.”
O chefe da ONU fez um alerta sobre o descumprimento de resoluções pelos Estados.
Para ele, ao mesmo tempo, as resoluções do Conselho de Segurança “estão sendo desrespeitadas ainda antes de a tinta secar.”
O secretário-geral afirma que à medida que as economias vacilam, a pobreza permanece entrincheirada. E, à medida que as perspectivas futuras parecem sombrias, as narrativas populistas e nacionalistas étnicas ganham espaço.
Ele também mencionou a relação da instabilidade que aumenta com a falta de investimento e a diminuição do desenvolvimento.
Guterres abordou a ligação entre o fortalecimento do terrorismo em vácuos de governança em algumas partes do mundo.
Ao falar de sua agenda de viagem, ele confirmou que participará do Encontro de Cúpula da União Africana, em Addis Abeba, no próximo fim de semana.
O secretário-geral lembrou que, este ano, as Nações Unidas marcam o seu 75º aniversário e disse que, muitas vezes, governos e instituições internacionais são vistos como lugares que falam mais e escutam menos.
Mas António Guterres quer “que as Nações Unidas ouçam” nesses diálogos sobre o aniversário. Para ele, “a inquietação nas ruas e praças de todo o mundo é prova de que as pessoas querem ser ouvidas.”
O secretário-geral da ONU destacou a urgência de ações climáticas para combater o quadro atual de aquecimento global.
Ele lembrou que a temperatura dos oceanos está subindo num ritmo “equivalente a cinco bombas de Hiroshima por segundo”, de acordo com o alerta de cientistas na área.
Ao falar dos incêndios florestais na Austrália, Guterres contou que agora a fumaça expelida após o desastre libera o equivalente a seis meses das emissões totais de carbono do país em 2018.
Para o chefe da ONU, o desafio para a Conferência sobre Mudança Climática, marcada para novembro em Glasgow, COP 26, é claro: todos os países devem mostrar mais ambição em adaptação, mitigação e financiamento.
E é preciso ainda fixar um preço do carbono e estabelecer o fim dos subsídios aos combustíveis fósseis.
Para António Guterres é preciso pressionar pelo rompimento do círculo vicioso nessa área e que está levando a humanidade e o mundo a um caminho sem volta.
E ele afirma que o mesmo vale para o combate à pobreza. “É hora de romper o círculo vicioso da pobreza e da desigualdade e moldar uma globalização justa, sem deixar ninguém para trás”.
Guterres diz que a Década de Ação, lançada pela ONU no mês passado, faz exatamente isso, assim como a Agenda 2030.