OMS lança recomendações para reduzir cesarianas desnecessárias BR

Número de intervenções aumenta em todo o mundo; agência sublinha riscos da prática para as mães e filhos e possíveis consequências em gravidezes futuras.
Pela primeira vez, a Organização Mundial da Saúde, OMS, emitiu recomendações para reduzir o número de cesarianas em todo o mundo.
A agência acredita que muitas destas intervenções são feitas de forma desnecessária, o que pode colocar em risco a vida e o bem-estar das mulheres e dos bebês.
A OMS diz que, em todo o mundo, “as taxas de cesárea têm aumentado de forma constante, sem benefícios significativos para a saúde das mulheres ou seus bebês”. Para a agência, “existe uma necessidade urgente de abordar este aumento sem precedentes”.
A ONU News conversou com a médica obstetra Ana Fialho, do Rio de Janeiro, sobre a tendência do aumento do número de cesarianas.
“A gente precisa diminuir o número de cesarianas porque é uma cirurgia de médio porte que traz mais risco para a vida das mulheres. Essa cirurgia pode ter lesões, infecções e hemorragia, e isso interfere na taxa de óbito materna e para os bebês, quando ela é feita fora do trabalho de parto, ela também interfere na prematuridade. Ela pode fazer com que os bebês sejam mais internados na UTI por dificuldade de respiração, de sucção. Bebês que podem ficar ictéricos, que é quando eles ficam amarelinhos.”
Para a doutora Ana Fialho, a redução da taxa de mortalidade materna e da taxa de cesárias estão ligadas.
“A intenção no mundo é reduzir a taxa de mortalidade materna e por isso a gente estimula muito a redução da taxa de cesariana para que se atinja uma das metas do milênio que é reduzir a mortalidade materna.”
O foco das recomendações são intervenções não cirúrgicas e incluem as opiniões, os medos e as crenças de mulheres e dos profissionais de saúde.
O guia também considera as dinâmicas e limitações dos diferentes sistemas e organizações de saúde, além das relações entre mulheres, profissionais e serviços de saúde.
As principais recomendações são ações para capacitar mulheres e famílias, com o objetivo de melhorar o diálogo com os profissionais médicos e facilitar uma decisão informada.
Também se recomenda o uso de diretrizes clínicas, auditorias e recolha de informação junto dos profissionais de saúde. Outra ideia é a exigência de uma segunda opinião médica para avançar com o procedimento, quando existe essa possibilidade.
Algumas das recomendações são feitas a organizações de saúde. A OMS propõe um modelo colaborativo com atendimento fornecido principalmente por parteiras, com apoio 24 horas de um obstetra, e seguros de saúde com taxas médicas iguais para partos normais e cesarianas.
A médica do Departamento de Saúde Reprodutiva e Pesquisa da OMS, Ana Pilar Betran disse que “estas diretrizes são oportunas e necessárias.”
Segundo ela, “quando se reduz as cesarianas desnecessárias, também se reduz os riscos desnecessários para as mulheres e bebês e custos desnecessários para hospitais e sistemas de saúde.”
Segundo a OMS, muitas mulheres que precisam de cesarianas ainda não têm acesso ao procedimento, sobretudo em locais com poucos recursos, mas muitas outras passam pelo procedimento sem necessidade, por razões que não podem ser justificadas clinicamente.
O procedimento também é caro e pode desviar recursos de outros serviços essenciais, sobretudo em sistemas de saúde sobrecarregados e fracos.
A OMS avisa, no entanto, que existem muitas razões para o aumento das taxas. A Agência afirma que, antes de qualquer intervenção para reduzir estes números, devem ser feitos estudos que identifiquem os motivos.