Trabalho de entidades humanitárias é mais perigoso, diz chefe do Acnur
António Guterres fala de mundo frágil, mais confrontos e conflitos complexos; alto comissário disse que Sudão do Sul registou mais de 500 mil deslocados num ano; pronunciamento foi feito no Comité Executivo da agência.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
O alto comissário das Nações Unidas para Refugiados disse esta segunda-feria que a redução do espaço humanitário tornou "muito mais perigoso" o trabalho de entidades da área como o Alto Comissário da ONU para Refugiados, Acnur.
António Guterres afirmou, em Genebra, que essa era uma das consequências de um mundo que tornou-se mais frágil, de confrontos que se espalharam de forma imprevisível e da natureza mais complexa dos conflitos na última década.
Conflitos e Perseguições
Ao discursar na 66ª sessão do Comité Executivo do Acnur, Guterres lembrou que o mundo tem agora mais de 60 milhões de refugiados, candidatos a asilo e deslocados internos devido aos conflitos e às perseguições.
Em 2014, 126 mil refugiados foram repatriados, o equivalente a 11% do número de 2005.
De acordo com o alto comissário, um exemplo do perigo para as entidades humanitárias são as "mega-crises interligadas na Síria e no Iraque", que obrigaram a mais de 15 milhões de pessoas a deixar as suas casas.
Iémen e Líbia
Em um ano, meio milhão de pessoas foram deslocadas no Sudão do Sul e outras 190 mil no Burundi. Os casos incluem 1,1 milhões de pessoas que recentemente fugiram das suas casas no Iémen e 300 mil na Líbia.
O tipo de movimentação incluiu a região da Ásia e Pacífico, onde 94 mil pessoas cruzaram a baía de Bengala e o Mar de Andão, desde 2014, em busca de proteção e de uma vida mais digna.
Gangues
Na América Central, Guterres citou dezenas de milhares de pessoas, muitas delas crianças, que fogem da violência de gangues e dos abusos na região.
No período, o alto comissário disse que houve pouca ou nenhuma melhoria em crises de países como República Centro-Africana, Nigéria, Ucrânia ou República Democrática do Congo.
Asilo
Guterres disse que à medida que ocorrem os maiores níveis de deslocamento forçado da história, a "instituição do asilo deve continuar inviolável" e ser honrada como uma das expressões mais profundas da humanidade.
Para isso, Guterres sugeriu uma verdadeira cooperação internacional e uma partilha equilibrada de encargos e responsabilidades.
Encargos
Guterres disse haver necessidade de se criar um protocolo de solidariedade internacional e da partilha de encargos para completar a Convenção de Genebra Relativa ao Estatuto do Refugiado de 1951.
O documento define o que é um refugiado e prevê as garantias dos que recebem o direito de asilo e as responsabilidades das nações que os acolhem.
Guterres, que deixa o cargo no fim de 2015, pediu aos países que continuem a dar proteção às pessoas que chegam aos seus territórios em busca de segurança devido à guerra e opressão, e que seja apoiado o seu sucessor.
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