Em dois dias, mais de mil pessoas deixaram o Burundi por medo de milícias
Chefe de direitos humanos desencoraja violência antes das três eleições previstas para 2015; representante menciona ação do grupo Imbonerakure e deplora tom de discursos num evento pró-governo.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*
O Burundi não pode ter um outro surto de violência, advertiu esta quarta-feira o alto comissário as Nações Unidas para os Direitos Humanos.
Zeid Al Hussein disse que mil pessoas deixaram o país, somente nos últimos dois dias. Várias contaram "explicitamente que a razão foi o receio de ações das milícias", conhecidas por Imbonerakure.
Eleições
O responsável falava a jornalistas, em Bujumbura, no fim da visita de três dias ao país africano. Zeid considerou que o momento é crucial para a história do Burundi, que em maio terá eleições parlamentares. Em junho será a vez das presidenciais e, em agosto, a corrida para o senado.
Cerca de 6 mil pessoas devem ter atravessado a fronteira para o Ruanda, destacou o alto comissário. Na ocasião, citou exemplos extremos de discursos de ódio ouvidos num grande comício pró-governamental no sábado na capital do país.
Entre o que chamou de "sinais negativos" estão o lançamento de uma granada à casa de um jornalista, que recentemente "escreveu sobre o alegado fornecimento de armas aos Imbonerakure". Zeid considerou que a saída para a situação é o retorno a uma via que conduza à paz e prosperidade.
Incitação ao Ódio
Aos políticos e ativistas do país, o chefe dos Direitos Humanos da ONU pediu garantias de debates políticos que nunca cheguem ao nível de incitação ao ódio ou à violência caso se tornem acalorados. Para as autoridades, a vários níveis, pediu que sejam escrupulosamente imparciais e garantam a proteção do público.
O alto comissário disse ainda que a direção que o país parece estar a tomar levantou alarme de entidades da ONU, incluindo o secretário-geral e os países-membros de Conselho de Segurança.
Preocupação
Desde a sua chegada no domingo, Zeid encontro-se com o presidente do Burundi e outras autoridades além da sociedade civil, diplomatas estrangeiros, políticos da oposição e instituições-chave.
Ele declarou que "esteve muito claro que muitas dessas pessoas também estão extremamente preocupadas" com a situação do país.
*Apresentação: Denise Costa.
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