Governo sudanês continua a negar acesso da Unamid em áreas em conflito
Afirmação é do chefe do Departamento de Operações de Paz da ONU, Hervé Ladsous; no Conselho de Segurança, ele explica que missão tem tido dificuldades em chegar a locais de alegados estupros em massa.
Leda Letra, da Rádio ONU em Nova Iorque.
Uma reunião no Conselho de Segurança esta terça-feira avaliou os trabalhos da Missão Híbrida da União Africana e das Nações Unidas em Darfur, Unamid. No encontro, o subsecretário-geral para Operações de Paz da ONU disse que o governo continua a proibir as tropas da Unamid de ter acesso às áreas afetadas pelo conflito.
Hervé Ladsous explicou que o facto está a impedir, de forma significativa, a Unamid de cumprir seu mandato de proteger civis. Segundo o representante da ONU, este foi o caso em Thabit, Darfur Norte, após alegações de estupros em massa em outubro.
Retirada
Situação similar ocorre em Jebel Marra Leste, após aumento dos confrontos entre forças do governo e grupos armados desde dezembro. Restrições de acesso também foram impostas em agentes humanitários, contribuindo para o atraso da ajuda aos civis.
Sobre a saída da Unamid, a União Africana e o governo do Sudão iniciaram discussões sobre uma estratégia de retirada, de acordo com Ladsous, ao lembrar um acordo firmado em Cartum a meados de fevereiro.
Na ocasião, foi estabelecido um grupo de trabalho, que começou a se encontrar esta terça-feira na capital sudanesa. A equipa vai revisar a situação em Darfur e criar um mapa para a retirada gradual da Unamid. A estratégia será ainda submetida ao governo, à União Africana e às Nações Unidas no final de maio, segundo Hervé Ladsous.
Capacidades
O representante explicou que nos últimos 12 meses, a Unamid implementou uma série de medidas para melhorar a eficácia das tropas no terreno. A componente militar passou por mudanças de estrutura e aumentou sua taxa de manutenção de equipamentos em 90%.
Nos próximos três meses, será conduzido um estudo sobre a capacidade militar para garantir que as tropas estejam alinhadas com as prioridades e os desafios de segurança no terreno.
Piora da Violência
O chefe de Operações de Paz da ONU reconheceu ser preciso melhorar a capacidade da Unamid em reportar incidentes e revelou que foram retiradas de Darfur tropas que tiveram comportamento considerado inadequado.
Hervé Ladsous destacou que a situação de segurança piorou de forma significativa no último ano, com violência entre o governo sudanês e grupos armados em várias regiões.
Os confrontos contribuíram também para o agravamemento da situação no setor humanitário em 2014, com 450 mil pessoas deslocadas pela violência, o maior volume já visto desde 2004. Deste total, pelo menos 300 mil estão a viver em acampamentos e na média geral, Darfur já tem 2,5 milhões de deslocados internos.
Ao Conselho de Segurança, Ladsous afirmou que a violência atualmente é em larga escala atribuída ao conflito entre governo sudanês e a ofensiva militar RSF. O representante notou preocupação com a possibilidade dos eventos no terreno ficarem mais intensos com as campanhas eleitorais.
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