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Fecho de agências devido ao Isil impediu acesso de 600 mil sírios à comida

Refugiados sírios. Foto: ONU/Fabienne Vinet

Fecho de agências devido ao Isil impediu acesso de 600 mil sírios à comida

Vice-chefe humanitária disse que apenas 14% de sitiados receberam alimentos; doentes e feridos sem locais seguros para iniciar tratamento; Guterres afirma que 100 mil crianças sírias nascidas no exílio podem tornar-se apátridas.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.

Cerca de 600 mil pessoas não receberam alimentos em províncias sírias desde dezembro passado devido ao fecho dos escritórios de diversas entidades de auxílio com as ações do autoproclamado Estado Islâmico do Iraque e do Levante, Isil.

A informação foi dada ao Conselho de Segurança pela secretária-geral assistente para os Assuntos Humanitários, Kyung-Wha Kang. As áreas afetadas incluem Raqqa e Deir ez Zor, que também ficaram sem o auxílio da organização Crescente Vermelho.

Doentes

Das 212 mil pessoas sitiadas, apenas 304 foram alcançadas pela ajuda alimentar em janeiro, perante "condições que se agravam diariamente". Kang disse ainda que, muitas vezes, os doentes ou feridos não têm locais seguros para o início do tratamento.

Após lembrar que o conflito entra no seu quinto ano, a responsável afirmou que a violência e a brutalidade persistem ao lado da impunidade total. Aos 15 Estados-membros do órgão, Kang disse que as partes em conflito continuam "a matar civis e a direcionar infraestruturas vitais condenando as pessoas a um sofrimento desnecessário".

Impunidade

Mais de 2 milhões de residentes das províncias de Alepo e Daraa tiveram água e eletricidade deliberadamente negados pelas partes no conflito este mês, disse Kang.

A representante revelou haver relatos mensais das mesmas violações, com uma "mudança em números mas com o mesmo padrão". A representante falou ainda da impunidade das partes em conflito que cometem atos como assassinatos, sequestro de civis e impedem o acesso de ajuda.

Geração Perdida

O alto comissário da ONU para Refugiados, António Guterres disse que cerca de 2 milhões de refugiados sírios com menos de 18 anos correm o risco se tornar uma geração perdida. Grande parte das mais de 100 mil crianças refugiadas nascidas no exílio poderiam tornar-se apátridas ao abrigo da lei síria.

Para Guterres, a conferência Kuwait III terá um papel determinante para estabilizar a situação nos países que acolhem sírios "porque o apoio internacional está longe de responder à magnitude das necessidades."

Para o alto comissário, a crise de refugiados da Síria sobrecarrega as atuais capacidades de resposta para os 3,8 milhões registados em países vizinhos. No Líbano e na Jordânia o crescimento é considerado exponencial. A Turquia é o país que acolhe mais refugiados no mundo.

Guterres advertiu para um aumento do nível de desespero que retrai o espaço de proteção disponível e faz com que se esteja próximo de um "ponto de viragem perigoso". Ele disse que os recursos de refugiados esgotaram e as condições de vida estão a deteriorar drasticamente.