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Especial Haiti: Porto Príncipe de cara nova para apostar no turismo BR

Flor de hibisco decora paredes. Foto: Governo do Haiti

Especial Haiti: Porto Príncipe de cara nova para apostar no turismo

Cidade em obras vive ritmos de carnaval; ONU quer habilitar autoridades a implementar planos de desenvolvimento; segurança, emprego e pobreza ainda fazem parte dos desafios no país onde a língua oficial é o francês e o crioulo.

Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*

A conversa em português com este adolescente haitiano aconteceu logo na chegada ao Aeroporto de Porto Príncipe, ao arrancar da série de programas com o apoio da Minustah, a Missão das Nações Unidas no Haiti.

A ONU quer promover uma maior autonomia do país após as eleições legislativas e presidenciais marcadas para este ano. Em janeiro de 2016 será a vez das municipais e locais, de acordo com o anúncio das autoridades no início de fevereiro.

Principal Aeroporto

Nesta primeira parte da série de reportagens especiais da Rádio ONU, vamos conhecer mais sobre a aposta do Haiti no turismo. Logo no desembarque, do principal aeroporto, a área de chegada é um verdadeiro cartão de visitas.

Através do ritmo crioulo, a soar logo à saída do avião, um quinteto atua no prédio de cor creme equivalente ao tamanho de dois estádios de futebol.

Flor de Hibisco

Caminhando pelos corredores do aeroporto, quadros de parede com o vermelho da flor de hibisco decoram as paredes. O slogan é "Haiti – experimente-o!". Várias peças de cerâmica, que podem chegar até a cintura, são inspiradas na flor carmesim e também enfeitam o edifício.

Fora do prédio, uma saudação cordial de taxistas identificados com crachás e vários uniformes. Tudo é parte de um plano do Ministério do Turismo para receber mais visitantes.

Os aviões ficam para trás, avistamos um carro militar branco com meia dúzia de soldados de paz perto da rua.

Aqui, a língua franca é o português. E não é só brasileiro que fala não, haitiano também. Como o adolescente que abriu o programa.

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Capital de turismo. Foto: Minustah.
Mas como vive aqui o boina azul e a farda verde-oliva, a cor do uniforme militar brasileiro? O major Sobreira e os soldados Rough e Idalgo são quem explicam.

Nos carros da cidade continua o ritmo de carnaval. Dados oficiais revelam que dos 10 milhões de haitianos, dois milhões moram na capital do país. E cinco anos após o terremoto, as estradas são novas e seguem as construções de hotéis e de restaurantes. Todos preparados para se tornarem a capital de turismo das Américas durante a última semana de maio.

Nessa época, 32 governantes estarão na reunião da Comissão da Organização Mundial do Turismo, OMT, para o evento.

De viagens e de negócios entende o empreendedor de sucesso Pierre Leger. Haitiano e agrónomo, investe na área de óleos essenciais e fragrâncias. Faz negócios em África, mas vende especialmente nos Estados Unidos. Para ele, o seu país tem um grande potencial mesmo que 60% dos haitianos ainda vivam abaixo da linha da pobreza.

Apoio ao Haiti

Para Leger, o Haiti é um país "muito rico e próximo do mercado americano, que é o maior consumidor do mundo ocidental." Mas ao lembrar-se da realidade dos pobres sublinha que "algo está errado."

O potencial turístico num momento em que os haitianos se preparam para acolher a reunião regional, foi realçado pelo coordenador do Programa do Banco Mundial de Apoio ao Haiti.

O burundês Jean Pierre  Komana  falou de atributos e oportunidades a serem aproveitados pelos haitianos. Ao anunciar a injeção de US$ 50 milhões pela sua instituição, sublinhou que esta seria mais uma saída para financiar os planos da ilha caribenha.

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Emprego é um dos vários desafios.Foto: Minustah.
Distância

O representante do Banco Mundial afirmou que pessoas são o maior ativo haitiano, sendo que o segundo é a natureza e o grande potencial do turismo. Ao lembrar que o Haiti está perto dos Estados Unidos, segundo ele, “o melhor mercado do mundo”, disse que a diferença com o mercado turístico africano está nos altos custos de transporte devido à sua distância.

Mas mesmo assim, dezenas de jovens haitianos continuam à procura de um emprego em várias esquinas de Porto Príncipe. São vários grupos que pedem para limpar carros ou vendem produtos. Estão na estatística de desemprego formal, cuja taxa no país chega a 40,6%.

E o emprego é um dos vários desafios de desenvolvimento que a comunidade internacional tem priorizado na sua tentativa de ajudar o governo haitiano. A informação é do vice-representante do secretário-geral da ONU no Haiti.

 Liderança

Peter de Clercq, contou que o sistema da Nações Unidas tenta acompanhar o governo colocando-o na liderança e dando apoio para implementar os seus próprios planos. Antes, isso era feito por organizações internacionais mas agora "as autoridades devem lidar com as próprias questões."

Um outro desafio é a criminalidade urbana. Porto Príncipe é famosa por gangues, vários delitos e uma polícia que ainda se consolida. O país mais pobre do hemisfério ocidental sofre ainda as sequelas do terramoto de 2010.

Táxis Tap Tap

Com o cair da noite, as estradas de Porto Príncipe começam a esvaziar-se. Nas ruas que cruzam as várias montanhas, motos e cores alegres das carrinhas pickup chamadas tap tap , servem como táxis.

E o tema do Carnaval decora essa paisagem com máscaras coloridas e luzes de festa. E o som do ritmo kompa nas viaturas dos haitianos continua ecoando e se mesclam com a tradicional salsa caribenha, a marca registada do cubano Alexis Velásquez, do grupo Melão Cubano, um dos mais preferidos de caribenhos e estrangeiros para bailar.

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Cara nova para visitantes. Foto: Minustah.
Em espanhol, o músico conta que é um dos que esperam muito de uma mudança radical no turismo haitiano para que todos possam ganhar.

E a receita parece estar a dar certo, segundo a OMT, houve um aumento substancial de chegadas de turistas ao Haiti em 2013. Foram cerca de 32%. Aproveitando a sua nova fase após cinco anos do terramoto, o Haiti se prepara para abrir suas portas aos visitantes de todo o mundo.

Na próxima parte desta série, vamos falar dos esforços para melhorar a segurança em Porto Príncipe.

*Série produzida com o apoio da Missão Integrada das Nações Unidas no Haiti, Minustah.