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Persiste o drama das minas em Angola, diz ONG

Persiste o drama das minas em Angola, diz ONG

No âmbito do Dia Internacional de Consciencialização sobre o Perigo de Minas e Assistência à Ação Anti-minas, a Rádio ONU abordou a questão com a Mines Advisory Group, MAG.

Herculano Coroado, da Rádio da ONU, em Luanda.

A paz é uma realidade em Angola, mas o país ainda não se livrou do perigo das minas, de acordo com a organização não-governamental britânica Mines Advisory Group, MAG.

De acordo com a diretora de programas da entidade, Marie Mohlerova, não há mapas claros onde as minas foram colocadas, o que eleva ao perigo.

Assistência

A ONG faz desminagem no município do Lucusse, província do Moxico, no leste e foi abordada para falar da questão no terreno por ocasião do Dia Internacional de Consciencialização sobre o Perigo de Minas e Assistência à Ação Anti-minas.

A MAG opera no Lucusse a uma distância de 132 quilómetros da capital provincial, Luena. No local, ocorreram os últimos combates da guerra civil angolana e morreu o histórico líder da antiga rebelião armada da UNITA, Jonas Savimbi.

Guerra Civil

Mohlerova observa um declínio no apoio ao combate contra o problema das minas e outros engenhos não detonados durante a guerra no país africano que terminou em 2002.

Marie Mohlerova é uma cidadã da República Checa e, do pequeno escritório, perto do aeroporto internacional de Luanda, coordena o programa desta ONG Internacional.

O objectivo é livrar das minas duas das quatro áreas daquele município do Moxico, a província mais minada e uma das mais extensas e longínquas de Angola.

Muitos desafios

Ela diz que a reabilitação do Caminho de Ferro de Benguela que partiu do litoral e hoje chega à capital do Moxico, a cidade do Luena, com perspetiva de ir até a fronteira com a vizinha Zâmbia, é já o maior sinal de progresso na desminagem em Angola. Porém, o perigo ainda permanece plantado na terra, 11 anos depois do fim da guerra civil.

"Nalgumas áreas as minas foram colocadas por forças diferentes durante a guerra e existem muitos tipos diferentes de minas que podem ser encontradas lá. O mais importante é que o impacto humanitário nas comunidades é grande. As minas e outros engenhos não detonados representam uma ameaça física e psicológica. Mas também impedem o desenvolvimento mais amplo das comunidades que têm que viver com esta realidade", contou

Apoios em declínio

A MAG observa, entretanto, um declínio no apoio ao combate contra o problema das minas e outros engenhos não detonados durante a guerra no país

Foto: ONU/Albert Gonzalez Farran africano, que terminou em 2002.

Para esta assistente humanitária do leste europeu, a realidade é que apenas duas organizações não-governamentais fazem a desminagem na província do Moxico.

Hoje, o principal doador da sua organização é o Departamento de Estado do governo norte-americano, além de algumas empresas petrolíferas norte americanas como a Chevron e a Esso que doam uma pequena parte do orçamento anual global de um milhão e oitocentos mil dólares norte americanos.

Desafio

Este valor é um já reduzido. Sendo o maior desafio da desminagem em Angola, a nível internacional, o financiamento à assistência e remoção de minas está em declínio, desde o ano de 2002, quando a guerra terminou.

De acordo com as estatísticas oficiais, Angola aumentou o seu Produto Interno Bruto e o perigo das minas desapareceu da atenção da media, incluindo a imprensa internacional, embora o país seja um dos três mais minados em todo o mundo. O exército angolano conta um nível de acidentes com engenhos explosivos no país avolta de  2%.

Parceiros Locais

"Sem apoio, vai ficar só o governo angolano e para fazer a desminagem vai demorar mais. Porque com mais operadores se faz o trabalho mais rápido", disse.

A diretora de programa da MAG ressalta que a ONG, no entanto, não acompanha as vítimas das minas.

Apoio às vítimas

Na sua mensagem em alusão ao  4 de Abril, o Dia Internacional de alerta e ação sobre as minas para 2013, o Secretário-Geral da ONU Ban Ki-moon disse que a estratégia das Nações Unidas entre os anos 2013-2018 coloca uma série de passos para um mundo mais seguro.

O objetivo é que indivíduos e comunidades possam seguir rumo ao desenvolvimento socioeconómico e onde os sobreviventes sejam tratados como membros iguais das suas próprias sociedades. Um alerta que mereceu a observação da assistente humanitária internacional em Angola.

"Concordo que a assistência as vítimas e sobreviventes de acidentes com minas e engenhos explosivos é muito importante. Mas a MAG não trabalha diretamente na área de assistência às vítimas. O que fazemos normalmente é cooperar com os parceiros locais", ressaltou.